Por Dom Fulton Sheen
O que aconteceu com a polidez? Como são poucas as
crianças treinadas para, por exemplo, apertarem a mão de uma pessoa a quem são
apresentadas?! As mães dizem: “Jimmy, estenda a mão!”. O namoro é muito mais
cortês do que o matrimônio. Como disse um marido a sua esposa, que havida
pedido a ele para lhe passar o jornal da noite: “A caça acabou. Ganhei o jogo”.
Quando se está em uma autoestrada, o automóvel é quase um escudo contra os
costumes. Fechada numa cela de metal e dirigindo em alta velocidade, a pessoa
permanece sempre anônima para o outro, ou para quem buzina com raiva ou lança
um olhar de reprovação.
a cortesia de um homem deve ser perene.
|
Quais são as causas dessa falta de delicadeza e de
refinamento com os outros na sociedade moderna? Provavelmente, uma das razões é
que vivemos em uma era tecnológica na qual somos separados uns dos outros por
funções. As pessoas se tornam como canetas-tinteiro com as quais as empresas
escrevem; não faz muita diferença se a tinta é preta, vermelha, verde ou
amarela. O senso de singularidade da pessoa, seu caráter insubstituível, o fato
de portar valores eternos – tudo isso se perdeu. Se “A” não aperta o botão,
sempre haverá um “B” que talvez seja um apertador de botões muito mais
competente.
É inútil analisar causas. É muito mais importante mostrar
como restaurar a cortesia na sociedade. Quando falamos em cortesia, não
queremos dizer a mesma coisa que Emerson quando escreveu: “A [boa] conduta tem
sido definida, um tanto cinicamente, como um instrumento dos homens sábios para
manter os idiotas afastados”. Mas evidentemente Emerson não compartilhava esse
ponto de vista, pois ele afirmou: “A vida é curta, mas sempre há tempo para a
cortesia”.
Deve-se também desconsiderar uma cortesia fingida ou
hipócrita, sobre a qual Shakespeare disse: “Como sabe soprar essa tirania nas
feridas que ela mesma produz!”
É preciso se habituar na gentileza desde os pequenos gestos. |
O maior tratado sobre a cortesia já escrito foi uma carta
ao povo de Corinto na qual, entre outras coisas, o homem de Tarso escreveu: “Não
busca os próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra
com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o
dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a
nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito
desaparecerá”.
Essa ideia foi desenvolvida por Newman em sua obra Idea of a university Defined. Às
qualidades da cortesia mencionadas acima, Newman acrescentou que “um cavalheiro
ou um homem cortês é um homem que nunca se irrita”.
A cortesia manifesta-se nas coisas triviais da vida, não
em uma grande doação ou em um grande espetáculo. Assim como uma mulher
preferiria receber mil pequenas cortesias e sinais de afeição do seu marido em
lugar de uma agressividade carnal, do mesmo modo a polidez se encontra nas
coisas triviais e no lugar comum. Considere, por exemplo, a amabilidade de
Boaz, que disse aos seus ceifeiros para deixarem propositalmente alguns maços
de grão para que Rute os encontrasse. Uma consideração desse tipo não se
aprende em um livro de etiqueta, porque a verdadeira cortesia vai além das
normas de boas maneiras estabelecidas. O verdadeiro cavalheiro faz mais do que
o livro pede.
A vida é curta mas sempre há espaço para a cortesia. |
Outra regra da cortesia é a seguinte: “Que a humildade
vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos”. Isso é difícil. Mas
vem da lei cristã o fato de que podemos enxergar as ações das pessoas, mas não
podemos conhecer seus motivos. Sempre pensamos o melhor de nós mesmos, mas só
pensamos o pior das outras pessoas, particularmente hoje, época em que a
tendência é sermos rebeldes sem causa e destruir em vez de construir. Sempre há
lugar para estimar os outros, mas só conseguimos suspeitar o pior dos nossos
companheiros. Por isso podemos acreditar que eles são realmente melhores do que
nós. Isso é o fundamento da afirmação atribuída a tantos: “Eu também poderia
estar naquela terrível situação”.
O verdadeiro cavalheiro faz mais do que o livro pede. |
MARIA
SEMPRE!
Um comentário:
Exelente reflexão.
Ser cortez não nos custa nada, faz parte dos bons costumes aprendidos desde criança.
Postar um comentário