quarta-feira, 23 de junho de 2010

IMPORTÂNCIA DO SOFRIMENTO




Por Prof. Pedro M. da Cruz

“As mesmas misérias levam alguns para o céu, e outros para o inferno.”

“No sofrimento Deus se torna devedor ao homem.”

“É preciso sofrer e todos têm de sofrer”


“Antes pecar do que sofrer.” Eis o lema de muitos jovens, escravos do egoísmo. Submetidos a instintos corrompidos, amigos do Pecado Original, vivem ao sabor de impulsos desordenados, desejos mesquinhos, distantes de toda grandeza a que foram chamados. Em contrapartida, um jovem discípulo de São João Bosco clamava heroicamente: “Quero fazer uma guerra impiedosa ao pecado mortal.”, “Antes morrer do que pecar.” Quanto contraste! Falamos de Domingos Sávio, o rapaz cujo único objetivo era agradar a Deus. Pio XII o reconheceu santo aos 12 de junho de 1954. E o menino nem havia chegado aos quinze anos de vida...
Peçamos, portanto, a Nossa Senhora, amor ao sofrimento. Cientes de que a dor não se esquiva dos seguidores de Cristo, que saibamos suporta-la com paciência e virilidade. E, se um dia cairmos sob o tremendo peso da Cruz, que possamos cerrar nossos ouvidos à crítica maldosa daqueles que nunca ousaram a incrível façanha de aventurar-se ao lado de Nosso Senhor.
Por que não tentar?
Façamos a experiência.
Deus estará conosco!
Ele é nossa salvação.
Auxílio na angústia, amparo na solidão.
Consolo na dor do julgamento hipócrita.
Força na luta contra os vícios e maus hábitos; estes, tantas vezes, cultivados em secreto...
Tenhamos confiança no Senhor! Deus jamais nos abandonará!


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Para melhor compreendermos o importante papel do sofrimento na vida Cristã, sentemo-nos aos pés do grande Santo Afonso de Ligório, mestre da Vida Espiritual. Que suas palavras, pelo poder do Espírito Santo, possam fecundar em nossa alma um operoso entusiasmo pelas coisas de Deus.

[1] Frases atribuídas a São Domingos Sávio. Conf.: BOSCO, Terésio. Um sonho, uma vida. A fascinante história de Dom Bosco, o santo amigo dos jovens. 4 Edição. São Paulo: Editora Salesiana, 2001. 286 pgs.


 

Capitulo V


A alma que ama

a Jesus Cristo

ama o sofrimento


“‘A caridade é paciente’. A terra é um lugar de merecimentos, e por isso é também um lugar de sofrimentos. O céu é nossa pátria, lá Deus nos preparou o repouso numa eterna felicidade. Passamos pouco tempo neste mundo, mas neste tempo temos muitas dores a sofrer. ‘O homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias.’[1] É preciso sofrer e todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz. Quem carrega com paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se. As mesmas misérias, diz Santo Agostinho, levam alguns para o céu, e outros para o inferno.[2] Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo, na Igreja de Deus: quem se humilha nos sofrimentos e se submete à vontade de Deus é trigo destinado ao céu; quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno.[3]
No dia do julgamento de nossa salvação, nossa vida deverá ser igual à vida de Jesus Cristo, para merecermos o Paraíso: ‘Porque os que anteriormente ele conheceu esses  também predestinou a serem conformes à imagem de seu filho.’[4]
O Verbo Eterno desceu à terra para nos ensinar, com seu exemplo, a carregar com paciência as cruzes que Deus nos manda: ‘Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos.[5]Jesus Cristo quis sofrer para nos encorajar no sofrimento. Qual foi a vida de Jesus Cristo? Foi uma vida de humilhações e sofrimentos: ‘Desprezado, último dos homens, homem das dores!’[6] Sim, a vida de Jesus Cristo foi toda cheia de trabalhos e dores.

O amor no sofrimento


Como Deus tratou seu Filho predileto, do mesmo modo trata a todos aqueles que ele ama e recebe como filhos: ‘O senhor castiga os que ama e aflige todo aquele que recebe como filho.[7] Santa Teresa diz que sentiu na sua alma como se Deus lhe falasse: ‘Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos!’ Por essa razão, quando ela se via nos sofrimentos, dizia que não os trocaria por todos os tesouros do mundo. Conta-se que depois de sua morte ela apareceu a uma de suas companheiras e lhe revelou que recebera um grande prêmio no céu. Tinha recebido pelos sofrimentos suportados em sua vida, de boa vontade e por amor a Deus. E se desejasse por algum motivo voltar à terra, seria unicamente para poder ainda sofrer mais alguma coisa por Deus.[8]
Quem ama a Deus nos sofrimentos recebe dupla recompensa no céu. São Vicente de Paulo afirmava que se deve considerar como grande desgraça nesta vida o não ter nada a sofrer; e acrescentava que uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda.[9] Quando São Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que Deus tivesse se esquecido dele.[10]
Escreve São João Crisóstomo: Quando o Senhor concede a alguém a graça de sofrer, faz-lhe um bem maior do que se lhe desse o poder de ressuscitar os mortos, isto porque o homem que faz milagres se torna devedor ao homem, mas no sofrimento Deus se torna devedor ao homem. Quem padece alguma coisa por Deus, se não tivesse outra graça senão a de poder sofrer por amor a Deus, já deveria considerar-se muito recompensado. Por isso, dizia ele, admirava mais a graça dada a São Paulo de ser preso por Jesus Cristo, do que ser arrebatado ao terceiro céu.[11]


(O negrito é nosso)

Referência Bibliográfica:

DE LIGÓRIO, S. Afonso. A Prática do Amor a Jesus Cristo. Trad.: Pe. Gervásio Fábri dos Anjos, C.SS.R. São Paulo: Santuário. Pgs.56-58



[1] Jó 14,1
[2] Sto. Agostinho, Sermo 52. N.4.ML 39-1845
[3] Sto. Agostinho, De Civitate Dei, 1,1 c. 8,n. 2 – ML 41-21; Sermo 252, c. 5 – ML 38-1174, 1175
[4] Rm. 8,29
[5] I Pd. 2,21
[6] Is. 53,3
[7] Hb.12,6
[8] Sta. Teresa,  Mercedes de Dios, c. XXXVI, Obras, II, 64,65; Conceptos del amor de Dios, c. 6, depois do começo, Obras, V, Burgos 1917; Obras, II, append. 57
[9] Abelly. Vie, Ed. 1881,1.3,c.22
[10] Bartolomeu de Pisa, De conformitate vitae. Mediolani 1513, f 28, col.2
[11] In Epist. Ad Philip., hom. 4,n.3:MG 62-208,209; In Epist. Ad Ephes., hom. 8, n. 1:MG 62-55, 56, 57; Ad pop. Antioch., hom. 16,n.3;MG 49-164,165.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Santa Margarida Maria Alacoque, a confidente do Coração de Jesus



Por Plinio Maria Solimeo, em Catolicismo (fragmentos do texto original)

Vítima do Sagrado Coração de Jesus

Algum tempo antes dos exercícios espirituais, Nosso Senhor apareceu a Margarida Maria e lhe disse: “Eu procuro uma vítima para meu Coração, a qual queira se sacrificar como uma hóstia de imolação para o cumprimento de meus desígnios”. Ela se prosternou e lhe apresentou “diversas almas santas que correspondiam fielmente a seus desígnios”. Nosso Senhor lhe respondeu: “Não, eu não quero outra senão tu”.
Margarida protelava entretanto o pedido de permissão à Superiora: “Mas era em vão que eu lhe resistia, porque Ele não me deu repouso até que, por ordem da obediência, eu fosse imolada a tudo o que Ele desejava de mim, que era de me tornar uma vítima imolada a toda sorte de sofrimentos, de humilhações, de contradições, de dores e de desprezos, sem outra pretensão senão cumprir seus desígnios”.(16)
Fez sua profissão no dia 6 de novembro de 1672. Como uma esposa, Margarida deveria participar agora, de um modo mais direto, dos interesses de seu divino Esposo, que a preparava para a grande missão de sua vida: receber e propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

“Meu Coração está abrasado de amor pelos homens”

Estando diante do Santíssimo Sacramento no dia 27 de dezembro de 1673, Nosso Senhor lhe disse: “Meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que, não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que eu te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças salutares indispensáveis para os apartar do abismo da perdição; e escolhi a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por mim”.(17)
E acrescentou: “Se até agora não tomaste senão o nome de minha escrava, eu te dou o de discípula dileta do meu Coração”.

Graças especiais onde houver imagem do Coração de Jesus

É bem provável que a Segunda Grande Revelação — da qual, infelizmente, não se consignou a data — tenha ocorrido numa primeira sexta-feira do mês no ano de 1674.
Nosso Senhor lhe fez ver que “o ardente desejo que Ele tinha de ser amado pelos homens e de os retirar da via da perdição, onde Satanás os precipita em multidão, o havia feito formar esse desígnio de manifestar seu Coração aos homens. [...] Ele queria a imagem exposta e portada sobre mim, e sobre o coração, para aí imprimir seu amor e cumular de todos os dons de que ele estava pleno, e para nele destruir todos os movimentos desregrados; e que, em toda parte onde essa santa imagem fosse exposta para aí ser honrada, Ele aí espalharia suas graças e bênçãos; e que essa devoção era como um último esforço de seu amor, com que queria favorecer os homens nestes últimos séculos, desta redenção amorosa, para os retirar do império de Satanás”.(18)

“Excesso a que tinha chegado em amar os homens”

A data da chamada Terceira Grande Revelação não ficou registrada. Ocorreu provavelmente em 1674, num dia em que o Santíssimo Sacramento encontrava-se exposto. Margarida entrou em êxtase e viu Nosso Senhor Jesus Cristo “todo radiante de glória com suas cinco chagas, brilhantes como cinco sóis; e a sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas sobretudo de seu sagrado peito, que parecia uma fornalha. [...] Abrindo-o, descobriu-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a fonte viva daquelas chamas. Foi então que Ele me mostrou as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a que ele tinha chegado em amar os homens, de quem não recebia senão ingratidões e friezas”.(19)

“Eis o Coração que tanto amou os homens”

A mais conhecida de todas as revelações, e em certo sentido a mais importante delas, ocorreu segundo os estudiosos entre 13 e 21 de junho de 1675, dentro da Oitava da Festa do Corpo de Deus. Nosso Senhor, descobrindo-lhe o seu divino Coração, disse-lhe:
“Eis o Coração que tanto amou os homens; que a nada se poupou até se esgotar e consumir, para lhes testemunhar o seu amor. E em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelos desprezos, irreverências, sacrilégios e friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso é que os que assim me tratam são corações que me são consagrados. Por isso te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio dum ato público de desagravo e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração dilatar-se-á para derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem”.(20)
Grande promessa da Comunhão reparadora
Embora fugindo à ordem cronológica da biografia de Santa Margarida Maria, parece-nos oportuno apresentar aqui a chamada Grande Promessa, revelada já no fim da vida da vidente de Paray-le-Monial: “Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem em nove primeiras sextas-feiras do mês, consecutivas, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os sacramentos, tornando-se [meu divino Coração] seu asilo seguro no derradeiro momento”.(21)
Tantas graças da mais alta mística não podiam passar despercebidas, e refletiam-se no exterior de Margarida Maria, que andava como que transportada.

Notas:
16. Monastère de la Visitation – Paray-le-Monial, Vie et oeuvres de Sainte Marguerite-Marie, Éditions Saint-Paul, Paris-Fribourg, 1990, tomo 2, Lettres de la Sainte, Lettre CXXXIII, au R.P. Croiset, pp. 470 e ss.
17. Autobiografia, p. 53.
18. Lettres de la Sainte, Lettre CXXXIII au R.P. Croiset, 3 novembre 1689, Ms. d’Avignon, pp. 477 a 479.
19. Autobiografia, p. 55.
20. Cláudio la Colombière, Notas Íntimas e Outros Escritos Espirituais, prefácio e tradução de Joaquim Abrances, S.J., Editorial A.O., Braga, 1983, pp. 150-151.
21. Lettres de la Sainte, Lettre LXXXVI, p. 297