quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NASCIMENTO DO VERBO ENCARNADO



Et Verbum caro factum est.
Et habitavit in nobis.

Por Renato C. Diniz

     Na plenitude dos tempos, quando a hostilidade de um mundo absorto em trevas, gelava a alma dos homens, cuja vida era marcada pela angustia da dor e da miséria, de viver num mundo sem a luz concreta do amor e da fé representada pela criatura desnutrida, manchada e imperfeita, resultante da rebeldia dos primeiros pais.
     Apesar da força das trevas, que reinava nas sendas desse mundo, no íntimo do coração humano havia uma ardente esperança no cumprimento da palavra de Seu Senhor. Que não deixaria sua criatura desamparada pelas sendas da eternidade, mas a surpreenderia com uma profunda dose de amor e misericórdia cuja obra superaria a obra da criação: a monumental obra da salvação. A esperança era no Amor de Deus. E de fato fora o que realmente acontecera. Deus ama o mundo de tal maneira, que envia seu filho único, para que todo o que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna. [1]
     O Verbo divino, anunciado angelicamente a uma criatura humilíssima, puríssima, castíssima, virtuosíssima, e toda singular, se faz carne, nasce e habita entre nós. Como no inicio dos tempos, os três sujeitos, um homem, uma mulher e um anjo (a serpente infernal), pela desobediência colaborariam para a ruína dos homens, na plenitude dos tempos, também, um homem (homem-Deus), uma mulher, e um anjo, colaborariam para a construção do novo homem. Sublime desígnio da divina Vontade!
     A máxima demonstração do amor do Pai aos homens. Cristo menino habita no meio de nós. Rejubila o gênero humano, alegram-se todas as criaturas, os ares, as montanhas, os rios e mares, as arvores e os animais, pois passa a estar contado os dias para o fim do julgo da escravidão do homem pelo pecado, e da tirania do inimigo de Deus.
     De fato, essa era a missão do menino, procurar e salvar o que estava perdido [2]. A vida que nos fora tirada pela desobediência de um só, nos será devolvida também pela obediência de um só, traduzida depois de 33 anos no madeiro da cruz.
      Louvemos irmãos e irmãs, o Perfeitissimo amor de Deus por nós.
     Esse é o verdadeiro significado do Natal para os homens. Não há Natal sem Luz! Não há Natal sem Cristo!
     Eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a Luz da Vida. [3]


Vivat Christus Rex!


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[1] - Evangelho segundo São João 3,16
[2] - Evangelho segundo São Lucas 19,10
[3] - Evangelho segundo São João 8,12

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ENTREVISTA

Entrevista concedida ao nosso Blog pelo jovem Helmer Ézion Silva Souza. 20 anos, Solteiro. Cursando licenciatura Plena em Teatro pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES - tem se apresentado como amigo de nosso espaço virtual.


Blog: Fale um pouco de sua história pessoal.

Helmer: Sou de berço católico, e, desde muito jovem, sempre fui assíduo aos trabalhos de minha comunidade paroquial, porém de forma, um tanto quanto, leviana, devido aos exemplos de um catolicismo “por hábito”, superficial, costumeiro, que eu recebera. Por viver inserido nesta realidade, eu não tinha consciência da inautenticidade daquela vivência e via-me, deste modo, como um bom católico.

Durante minha permanência num grupo de coroinhas tive a oportunidade de tomar conhecimento do catecismo da Igreja Católica de um modo mais profundo e embasado, o que me fez sentir um privilegiado, pois pouquíssimos tinham acesso a estes conhecimentos na comunidade. A partir daí, pude perceber as falhas doutrinais e metodológicas presentes em outros grupos e pastorais, advindas inclusive devido a uma má formação realizada pelos próprios padres, o que era muito de se estranhar.  


Blog: Que tipos de incoerências você encontrava durante este processo de conscientização pessoal?

Helmer: Por exemplo, na catequese infantil (pela qual eu mesmo passei) pude perceber que além de se ensinar de forma incorreta certos pontos de doutrina, este ensinamento, ainda por cima, era feito de forma insuficiente. O fato, é que este cargo de catequistas era outorgado a pessoas despreparadas. Mas eu não as culpo, pois este fato - julgo eu - é uma irresponsabilidade e incompetência (quem sabe maliciosa) por parte de quem tinha autoridade para escolher as pessoas que exerceriam esta função. Os que tinham autoridade de escolha eram os preparados, ou, pelo menos, deveriam se-lo.

Outro exemplo que eu poderia citar eram as Missas; estas não eram celebradas com “mística” e piedade. O rito parecia perder a sacralidade em minha paróquia. Os sacerdotes permitiam este sistema de coisas e demonstravam agradar-se delas.

Blog: Mas, algum sacerdote em particular “se salvava” nesta bagunça toda? (Risos)

Helmer: Em minha comunidade?

Blog: Sim.

Helmer: Sinceramente? Penso que em certos momentos alguns padres demonstravam luz e ortodoxia; mas, eram como lapsos; logo depois voltavam aos seus discursos progressistas. Aliás, isso é muito comum nos tempos de hoje. Basta conferirmos alguns documentos da Igreja para percebermos claramente a incompatibilidade entre os discursos de alguns padres e os ensinamentos tradicionais da Igreja Católica. Graças a Deus, existem alguns sacerdotes que se esforçam para agir em conformidade com a Tradição, porém, por estarem inseridos num meio progressista acabam por fazer uma grande confusão entre a voz da Igreja e os clamores dos grupos a que pertencem. Para mim isso gera um desnorteamento no meio laical.

Blog: Você se considera hoje um católico conservador?

Helmer: Eu professo a fé tradicional da Igreja Católica e me esforço por viver de acordo com a mesma. A meu ver não existe um catolicismo diferente deste. Ou se aceita todo o ensinamento do Magistério ou não; mas, fazendo assim estaríamos nos colocando, por nós mesmos, fora do espírito do cristianismo.

Pontos do ensinamento Católico como a castidade, a transubstanciação, infalibilidade, os Dogmas marianos...  Enfim – posso dizer- tudo o que tem sido defendido pela Igreja de Cristo desde o início (e que infelizmente tem sido esquecido, ou mesmo, negado pelos modernistas e progressistas) é, graças a Deus, um tesouro guardado em minha alma e, com toda certeza, objeto de minha defesa pessoal. Portanto, afirmo com alegria: Sim, sou um católico conservador. Porém, reconheço que devo buscar minha conversão com mais constância e ardor.

Blog: Você acredita que a Tradição tem ganhado terreno no meio da juventude? Que futuro você vê para os grupos conservadores?

Helmer: Percebo que muitas são as pessoas que carecem de uma boa formação, mas também tenho notado o surgimento de muitos jovens defensores da Tradição que tem formado grupos de excelência católica. Eles tem feito um árduo trabalho de evangelização, e, graças a Deus, submetidos a seus legítimos superiores, como é o caso deste Blog que muito me agrada visitar.

 “Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”, essa frase resume muito bem a realidade da juventude católica atual. Muitas vezes, infelizmente, até mesmo aqueles que têm acesso aos tesouros da Tradição católica, não tem correspondido a ela, e, isso, por estarem impregnados pelo espírito do progressismo modernista.

Resta aos jovens conservadores perseverarem com mais entusiasmo (apesar das grandes tribulações) na luta pela salvação das almas. Só através da luta é que estes grupos crescerão majestosamente. Acredito que Deus se agrada destes esforços premiando-os com a vitória; e, isso, não obstante os aparentes fracassos.

Blog: O que você como um católico conservador e universitário (Curso Superior de Artes) tem para contribuir de positivo neste processo a favor da Tradição?

Helmer: Esta pergunta é, de fato, muito interessante. Tenho apresentado até aqui em minhas respostas o quanto impera o progressismo em nosso meio (sem esquecer do próprio neo-paganismo citado, inclusive, por Ratzinger ainda enquanto cardeal) e o quanto é necessária a luta contra esta realidade. Ora, esta luta parte principalmente do individual, das habilidades e dons de cada um em particular, que se une formando grande exército em defesa da verdade. Portanto, eu anseio e desejo, com muita veemência, poder integrar os meus estudos e os meus dons artísticos nesta batalha.

João Paulo II afirma, categoricamente, que a Igreja necessita da Arte assim como esta necessita da Igreja (J. Paulo II. Carta aos artistas, pg. 25). Se a arte é um dom divino, então esta, em última análise, deve ser utilizada em favor do próprio Deus. Portanto, quero combater as pseudo-artes (que, por sua vez, apóiam-se em péssimas filosofias) que distorcem os conceitos estéticos assim como toda especulação ordenada sobre o nosso assunto. Pretendo sim “descobrir a profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte na suas formas expressivas mais nobres.” (Obra citada, pg.26)

Tenho consciência que a arte é uma arma poderosa que deve ser devidamente utilizada para maior glória de Deus.

Blog: Helmer, muito obrigado pela honra desta entrevista. Nós do Blog, estamos imensamente satisfeitos por todo seu apoio e amizade. Gostaria de nos deixar umas últimas palavras?

Helmer: Sim. Eu agradeço a este blog por ter sido para mim um importante guia. Assim como Ananias guiou Saulo em sua cegueira, e Nóbrega incentivou Anchieta nas suas produções teatrais, este espaço virtual tem sido para mim um agradável apoio e forte referência. Desejo poder estar retribuindo aqui, e espero aliar-me ao ideal deste apostolado e seguir progredindo com Igreja.

Rogo a Nossa Senhora das Graças que interceda por todos os católicos que anunciam o reino de seu filho Jesus Cristo para que estes sejam abençoados e jamais esmoreçam. Amém.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

     
     Oh Virgem Imaculada, Mãe do verdadeiro Deus e Mãe da Igreja! Tu, que demonstras tua clemência e tua compaixão a todos os que solicitam teu amparo; escuta a oração que com confiança filial a ti dirigimos e leve-a até teu Filho Jesus, nosso único Redentor. Mãe de misericórdia, Mestra do sacrifício escondido e silencioso, a Ti que vens ao socorro de nós pecadores, consagramos neste dia todo o nosso ser e todo nosso amor. A Ti consagramos também nossa vida, nosso trabalho, nossas alegrias, nossas doenças e nossos sofrimentos.

Dá paz, justiça e prosperidade a nossos povos, já que tudo o que temos e somos colocamos sob teu cuidado, nossa Senhora e Mãe.

Queremos ser totalmente teus e percorrer contigo o caminho da fidelidade plena a Jesus Cristo em sua Igreja: não nos solte de tua mão amorosa.

Virgem de Guadalupe, Mãe da América, a Ti pedimos por todos os Bispos, para que conduzam os fiéis por caminhos de intensa vida cristã, de amor e de humilde serviço a Deus e as almas. Contempla esta imensa messe e intercede para que o Senhor infunda fome de santidade em todo o povo de Deus, e lhes dê vocações abundantes de sacerdotes e de religiosos, fortes na fé e zelosos dispensadores dos mistérios de Deus.

Concede a nossos lares a graça de amar e de respeitar a vida que começa, com o mesmo amor com que concebeste em teu seio a vida do Filho de Deus. Virgem Santa Maria, Mãe do Amor Maravilhoso, protege nossas famílias, para que estejam sempre muito unidas e abençoa a educação de nossos filhos.

Esperança nossa, olha-nos com compaixão, ensina-nos a ir continuamente de encontro a Jesus e se cairmos, ajuda-nos a levantar, a voltar para Ele, mediante a confissão de nossas culpas e pecados no sacramento da penitência que trás sossego à alma.

A Ti suplicamos que nos conceda um amor muito grande a todos os santos sacramentos, que são como as pegadas que teu Filho nos deixou na terra.

Assim, Mãe Santíssima, com a paz de Deus na consciência, com os corações livres do pecado e do ódio, poderemos levar a todos a verdadeira alegria e a verdadeira paz que vem de teu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, que com Deus Pai e com o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.

Sua Santidade João Paulo II

(México, janeiro de 1979. Visitando a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, em sua primeira viagem ao exterior como Papa).

Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós e por nosso apostolado. 
Amém.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SANTA MADALENA DE CANOSSA



Por Prof. Pedro M. da Cruz

“Estando eu em oração diante do Santíssimo Sacramento vi, de repente e sem pensar Jesus Cristo Crucificado, todo coberto de chagas e de sangue...” (S. Madalena de Canossa.)

“Enquanto recebia a Sagrada Comunhão, fui assaltada por um ímpeto de amor tão repentino – que não sei explicar.”
(S. Madalena de C.)

“Senti um desejo tão forte de morrer e do Paraíso que não sabia o que fazer para não o pedir.” (S. Madalena)


Santa Madalena de Canossa (1774 – 1835), marquesa e fundadora das filhas e filhos da Caridade, foi grandemente favorecida por Deus com muitos dons sobrenaturais (como o de Clarividência, por exemplo). Teve uma vida incansável, e amou a Igreja até as últimas fibras de sua alma.

Poderíamos relatar muitos fatos interessantes ocorridos a esta mulher extraordinária, porém, para elevar e entreter nossos amigos tomemos apenas alguns.

A Oração era para Santa Madalena de Canossa o tempo mais precioso de sua vida. Era o encontro marcado com seu Deus, o encontro com o Amado, o encontro com o seu Tudo.

Conta-nos Luiza Navoni (uma testemunha indireta das muitas experiências místicas ocorridas a Santa Madalena) que, estando a Marquesa rezando em Veneza, Isabel Olivo a viu tão imóvel, com os olhos fixos no Crucifixo, ajoelhada no chão, que ela (Isabel) passou muitas vezes em sua frente, sem que a marquesa se desse conta.

Sabe-se que este fato era muito comum entre os que conheciam Santa Madalena de Canossa, pois, de fato, Deus a havia favorecida com graças extraordinárias.

Outra testemunha (agora, direta), Ana Rizzi, relata: “Certo dia, antes de entrar no Instituto, eu me encontrava diante de uma imagem de Maria, em Veneza, no convento de Santa Luzia. Lá, vi a marquesa com o rosto iluminado e com os olhos fixos nessa imagem. Chamei-a, a sacudi para ver se sentia, porém, foi tudo em vão, porque nada sentia. Quando voltou a si começou a rir. Eu queria fazer-lhe perguntas sobre isso, mas não consegui tirar-lhe nada, porque levou-me a caminhar e tudo fez para me fazer esquecer o que havia visto, de modo que não tive mais coragem de tocar no assunto.”

Para alguns, Deus concede essas graças particulares, porém, elas não são necessárias para santificação. O que santifica é nossa gradativa identificação com a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Poderíamos até afirmar, com toda certeza, que santo é aquele que cumpre a vontade de Deus, a pesar de todos os sofrimentos.

A Marquesa Madalena de Canossa cumpriu a vontade de Deus, identificou-se com Cristo sob o manto Virginal de Maria Santíssima, por isso, foi Santa. Admiremos, entretanto, essas e muitas outras graças, que o Bom Deus, quiçá para “elevar-nos”, concedeu a seus amigos bem amados, alguns, até muito indignos das mesmas.

(Os relatos acima foram retirados dos comentários presentes na obra citada)

Bibliografia:

POLLONARA, Elda. Madalena de Canossa, Memórias. Trad. Cecília Maríngolo. Roma, 1990. 448 pgs.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VINHOS CHILENOS , ALEGRIA LATINA!

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Por Escritos Católicos

     Se há um produto chileno conhecido no Brasil, é o vinho. “O Chile é responsável por 32% do mercado brasileiro”, diz o enólogo Jorge Lucki, critico de vinhos, e autor do recém lançado ‘ A Experiência do Gosto’. Leia abaixo trechos da entrevista que Lucki concedeu a um jornal. (Folha -  Quinta-Feira, 2 de Dezembro de 2010 – Turismo F7)
“Folha – Por que o Chile se destaca na produção de vinhos na América Latina?
 Jorge Lucki – Quando um país se destaca na produção de vinhos, é porque tem condições naturais propícias, como uma diversidade de microclimas, o que a gente chama de ‘terroirs’, que envolve clima, solo e topografia.
O Chile tem uma diversidade de microclimas que não só faz com que tenha condições de produzir grandes vinhos, mas como diferentes qualidades de vinhos. A argentina, por exemplo, tem a malbec, mas também não sai muito daí. Não tem clima para produzir os brancos, diferentes tintos.
Folha - Quais são as condições?
Jorge Lucki -  O Chile é uma ‘lingüiça’ longo e estreito. A parte onde estão localizadas as regiões vinícolas, mais central, deve ter uns 140 Km de largura. De um lado tem o Pacífico, e do outro, a Cordilheira dos Andes. E isso propicia uma diversidade de microclimas, é uma diferença grande, depende se as vinhas estão mais próximas do Pacifico, da cordilheira, se estão eqüidistantes.
Folha - A uva carménère só restou mesmo no Chile?

 Jorge Lucki - A Rigor, só sobrou no Chile. Ainda tem um pouco em Bordeaux. Ela foi trazida para o Chile em 1860, 1870, junto com todas as outras uvas, cabernet, malbec. Na hora de catalogar, classificaram a carménère junto com a merlot. A praga que atacou todos os vinhedos europeus acorreu depois que as mudas tinham sido trazidas ao Chile.

Foi só em 1994, quando houve um congresso internacional de viticultura no Chile, que questionaram o fato de algumas uvas em um mesmo vinhedo amadurecerem mais tarde, e perceberam que a uva não era merlot, mas carménère. Estavam todas misturadas. Sobrou muito pouca carménère em Bourdeaux, na França.”
Louvemos Jesus e Maria Santíssima!

domingo, 14 de novembro de 2010

SOBRE O AUTODOMÍNIO


R. G.dos Santos

O autodomínio é um dos “requisitos” básicos para o progresso na Vida Espiritual – Esta tem seu “ponto culminante” na Visão Beatífica – por isso, o cristão deve se esforçar por praticá-lo com empenho. 

Na reflexão que pretendemos desenvolver a seguir, iremos acentuar, em linhas gerais, a definição deste importante atributo, bem como, a necessidade de buscar sua prática para um reto desenvolvimento da vida cristã. 

O homem, após a perda do estado de justiça original [1] sempre foi, em maior ou menor grau, afetado pelo pecado ao longo dos tempos. Desordens incríveis grassaram (e grassam) entre os seres racionais e livres que habitam este mundo que, por sua vez, dão largas às mesmas sem cerimônias nem escrúpulos. A maioria dessas desordens tem raiz também no descontrole dos impulsos, instintos, e “pulsões”, para utilizarmos terminologia freudiana, ainda na moda. 

A esse respeito, Santo Tomás de Aquino (1977, p. 205), afirma que 
“(...) a consequência do pecado [que surge com a perda do já citado estado de justiça original] foi que, tendo sido a vontade humana desviada da sujeição a Deus,desaparecesse aquela perfeita sujeição das forças interiores à razão e, do corpo, à alma. Seguiu-se, então, que o homem sentisse, no apetite sensitivo interior, movimentos desordenados de concupiscência, de ira e de paixões, não conforme a ordem da razão, mas muito mais a repelindo e obscurecendo.” (p. 205) 

Nesse sentido, para controlar os movimentos supracitados, é necessário, a fim de o ser humano manter-se com retidão no propósito da beatitude, cultivar (com o auxílio da graça) o autodomínio. Este é como que um desdobramento da virtude da temperança, que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio nos bens criados, conquanto, segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), ajuda a fazer prevalecer a vontade sobre os instintos e desejos, mantendo estes dentro dos limites da honestidade [2]. É, de fato um hábito que deve ser alcançado pelos que querem agradar a Deus, e isso por vários motivos. 

Primeiro, porque dominar a si mesmo é uma das recomendações lapidares do evangelho. Nosso Senhor,embora fosse já confirmado em graça e com as paixões plenamente reguladas por sua vontade firme, aplicou-se na mortificação, a fim de nos dar o exemplo para o controle pessoal, jejuando, silenciando-se nos momentos oportunos, disciplinando-se na oração e conseguindo suportar desconfortos sem murmurar, nem reclamar. Sabia também tratar com docilidade seus interlocutores,e até com “dureza”, quando necessário, sempre dentro das normas da caridade e da justiça. 

Por outro lado, no homem comum o autodomínio ajuda a refrear as paixões e vícios mais grosseiros da alma, que são a porta de entrada para o pecado. Por vezes, surpreendemo-nos com atitudes virulentas, estúpidas e relapsas em nós e nos outros. A raiz desses problemas reside na falta de equilíbrio interno e externo. Daí ser necessário o controle e domínio de si, que se solidifica na alma pela graça divina, e deve ser acompanhada pelo esforço pessoal de cada um. 

Por fim, a virtude de que ora discorremos – autodomínio - , torna- nos mais sociáveis e educados. Sociáveis no referente ao contato com o outro. Faz-nos vê-lo com olhos espirituais e tratá-lo melhor e com paciência. Ajuda-nos a sermos mansos, misericordiosos e educados no que tange a utilização ordenada dos dons de Deus, fazendo-nos moderados no comer e beber; no vestir, na utilização dos divertimentos modernos e até no “gastar”... 

Estas são, portanto, as reflexões que fomos motivados a fazer acerca do tema. Percebemos o quão necessário se faz o cultivo e a assimilação de tal virtude na nossa vida para que possamos ser melhores aos olhos do Pai Celeste, trilhando o caminho da vida reta, pura e virtuosa. 

“O domínio de si mesmo é um trabalho, a longo prazo. Nunca deve ser considerado definitivamente adquirido. Supõe um esforço a ser retomado em todas as idades da vida. O esforço necessário pode ser mais intenso em certas épocas, por exemplo, quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência.” (Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1998, n. 2347, p. 607)

NOTAS
1 O Aquinate, na obra Compêndio de Teologia, acentua o fato de que o estado de justiça original produzia, dentre outros, o efeito de fazer com que “(...) no homem, as partes inferiores se submetessem às superiores sem dificuldade de espécie alguma. (cf. p. 202)
2 Cf. n. 1809, p. 487

REFERÊNCIAS
AQUINO,Santo Tomás. Compêndio de Teologia. Riode Janeiro:Presença, 1977
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 1998, n. 2347, p. 607

terça-feira, 26 de outubro de 2010

SANTO AFONSO, DOUTOR DA ORAÇÃO.

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Por Paulo L.F

     Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787), destacou-se como grande mestre da “Vida Espiritual”; realidade tão incompreendida pela atualidade. De fato, nossa época está marcada não só pelo materialismo, como, também, por um confuso espiritualismo de caráter intimista, e, muitas vezes, indiscretamente esotérico.
Quantos católicos perdidos nas vias da Ascese e Mística cristãs, por não terem mais a quem recorrer! É uma dor para nós, pungente e desconcertante, assistirmos a tantas almas generosas caírem por falta de um bom conselho. Feriram nossos pastores com as flechas venenosas do ativismo malsão; estão fascinados pela música do modernismo, seduzidos pelos “novos paradigmas da hodiernidade”; portanto, não encontram mais tempo e conteúdo, para dirigirem as almas que aspiram à perfeição cristã.
Quanto perigo para as almas! Pois, “Quem reza se salva e quem não reza se condena, já nos dizia o mesmo Santo Afonso de Ligório.


Capítulo 1

Necessidade da Oração

1- O erro dos pelagianos

“Erram os pelagianos, dizendo que a oração não é necessária para se conseguir a salvação. O ímpio Pelágio, seu mestre, afirmava que se perde, quem não procura conhecer as verdades necessárias. Mas, como disse Santo Agostinho, Pelágio falava de tudo, menos da oração, a qual, conforme sustentava e ensinava o mesmo santo, é o único meio de adquirir a ciência dos santos, como escreve São Tiago: ‘Se alguém necessita de sabedoria, peça a Deus, que a concede fartamente a todos. ’ (Tg 1,5)”

***
5- As primeiras graças

“Mas, este auxílio da graça, normalmente o Senhor concede só a quem ora, conforme a célebre sentença de Genadio: ‘Cremos não chegar ninguém à salvação sem que Deus o conceda. Ninguém, depois de convidado, obtém a salvação, sem que Deus o ajude. Só quem reza merece o auxílio de Deus. ’
Se é certo que, sem o socorro da graça, nada podemos, e se esse socorro é concedido por Deus unicamente aos que rezam, segue-se que a oração nos é absolutamente necessária para a salvação.
Verdade é que há certas graças primeiras que são a base e o começo de todas as outras graças e que são concedidas sem a nossa cooperação, como por exemplo a vocação à fé, à penitência. No dizer de Santo Agostinho, Deus as concede mesmo a quem não as pede. Entretanto, quanto às outras graças especialmente em relação à graça da perseverança, tem por certo o Santo Doutor que não são concedidas senão aos que pedem: ‘Deus dá algumas graças, como o começo da fé, mesmo aos que não pedem; outras, como a perseverança, reservou para os que pedem.’”

***
10 – Os erros de Lutero e de Jansênio

“E, de fato, como poderíamos resistir à força dos nossos inimigos e observar os mandamentos de Deus, mormente depois do pecado dos nossos primeiros pais, pecado que nos enfraqueceu tanto, se não tivéssemos a oração, pela qual podemos impetrar do Senhor a luz e a força necessárias para os observar? Foi uma blasfêmia o que disse Lutero afirmando que, depois do Pecado de Adão, é impossível ao homem a observância dos mandamentos de Deus.
E Jansênio disse mais ainda, que alguns preceitos são impossíveis, até para os Justos, em vista das forças que atualmente possuem.
Até aqui sua proposição podia ser interpretada em bom sentido. Mas, com justiça, foi ela condenada pela Igreja por causa do que se acrescentou depois, dizendo que lhes faltava a graça pela qual se lhes tornava possível a observância dos mandamentos.
É verdade, diz Santo Agostinho, que o homem fraco como é, não pode observar certos mandamentos, com a sua força atual ou com a graça comum a todos; mas, por meio da oração, pode muito bem obter o auxílio maior, do qual necessita para observa-los. Deus não manda coisas impossíveis. Entretanto, se mandar, exorta a fazer o que se pode e a pedir o que não se pode. É célebre este texto do Santo, que mais tarde foi adotado pelo Concílio de Trento e declarado dogma de fé. E imediatamente acrescenta o santo Doutor: ‘Vejamos como o homem, em virtude do remédio, pode fazer o que não podia por causa da fraqueza. ’ Quer dizer que, com a oração, obtemos o remédio para nossa fraqueza, porquanto, se pedirmos a Deus, conseguiremos força para fazer o que não podemos.”

***
13- Santo Tomás, contra Jansênio.

“Santo Tomás, contra Jansênio diz o seguinte: ‘Não devemos dizer ser-nos impossível a castidade ou outro mandamento qualquer. Muito embora não o possamos observar por nós mesmos, contudo, o podemos mediante o auxílio divino. O que nos é possível com o auxílio divino, não se pode dizer simplesmente que é impossível.’ Não se diga, ser uma injustiça mandar a um coxo que ande direito. Não, diz Santo agostinho, não é injustiça, dando-lhe os meios para se curar. Se depois continuar a coxear, a culpa é dele. Muito a propósito se manda que o homem ande direito para que, percebendo que não pode, procure o remédio que cure a claudicação do pecado.”


Virgem Maria,Rogai por nós!


(O negrito é nosso)

Referência bibliográfica

LIGORIO, S.Afonso. A Oração. Trad.:Henrique Barros. 20 Edição. Aparecida, SP: Santuário, 2009. 109 pgs.

domingo, 17 de outubro de 2010

NOVA CERVEJA!! UMA REFLEXÃO



 Prof. Pedro M. da Cruz

   Segundo a Folha de São Paulo, a Ambev anunciou dias atrás uma versão “leve” da Skol. O objetivo seria estimular o consumo da cerveja entre os brasileiros.
 
Batizada de Skol 360, a cerveja foi lançada com o apelo de não estufar o consumidor, uma das demandas atuais segundo pesquisas. ‘ O consumidor costuma reclamar de estufamento quando combina cerveja e comida. Com o produto mais leve, esperamos crescimento no consumo durante refeições ou mesmo em festas. ’ Diz Carlos Lisboa, vice-presidente de marketing.” (Folha de São Paulo, Opinião B4)
 
O Brasil é o terceiro maior mercado para cerveja, com 116 milhões de hectolitros vendidos (cada hectolitro corresponde a cem litros) atrás apenas dos EUA e China, porém, afirma-se que o consumo anual por pessoa ainda é pequeno.

Ao lado de todo júbilo (aliás, compreensível!) por esta saborosa novidade,"a criação de uma nova cerveja"; cabe-nos uma reflexão. Que motivações conduziram a este feito?  Na Sociedade Moderna, onde, tantas vezes, uma ânsia desmedida pelo lucro impera sobre o indivíduo, o amor desprendido ao belo, ao bom e ao verdadeiro parece aniquilar-se... Não que neguemos a dinâmica necessária do mercado; contudo, até que ponto é o “dinheiro”, como um ídolo,  quem aponta os caminhos? 
 
Talvez sejamos taxados por alguns de quiméricos e iludidos; porém, o fato é que, com toda certeza, antes de todo desejo por lucro (justo obviamente), deve vir a luta pelo progresso rumo à perfeição, assim como, o interesse pelo bem do ser humano. Antes da busca material, e qual terreno onde esta nasce medida e subjugada, vem a consciência da divina filiação, a lembrança do duplo aspecto de nossa realidade: terrena e sobrenatural.
Sabemos o quão fantasiosa parece esta perspectiva para certa classe de “competidores”... Mas, não para nós, filhos da Igreja. Vivemos na fé daquele que domina sobre o universo. Ele tem poder para transformar os homens e, portanto, as estruturas; entretanto, jamais violará a liberdade das criaturas. Assim, todo “atraso” no processo de Evangelização do mundo, não é devido a uma apatia divina, mas, tão somente,  à  infidelidade e escravidão de muitos homens distantes da verdade, “inimigos da cruz de Cristo.”
 
Virgem Imaculada, Rogai por nós!

domingo, 10 de outubro de 2010

AS MUITAS TRIBULAÇÕES



Por Prof. Pedro M. da Cruz

“Tudo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiag. 4,4)
“O que produz só espinhos e abrolhos será abandonado” (Hebr.6,8)
“Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo. 16,33)


    Como ser um homem de Deus num mundo tão adverso?! Por exemplo, a quase totalidade das músicas que somos obrigados a escutar convida-nos à superficialidade; para não citarmos aquelas que arrastam-nos à impureza mais declarada. As vestes sociais[1], o trato e a conversação têm chegado a tal grau de degradação moral que a recordação dos tempos em que ainda reinava o pudor, a modéstia e a urbanidade chegam até a parecer coisa de “Contos de fadas”. O mundo ousa revoltar-se contra Deus! Cristo, Nosso Senhor, é tratado por muitos qual rei desprezado; nega-se-lhe toda a autoridade. Vejam a que cúmulo de absurdos chegou os tempos atuais!

    Perde-se gradativamente a consciência do mal. Julga-se como mera fantasia a existência do pecado. Os olhos dos homens voltaram-se para os interesses mais egoístas; esqueceram-se os mandamentos do Senhor; muitos passaram a viver como “inimigos da cruz de Cristo.”[2] Basta atentarmos um pouco, e veremos com assombro o desfile carnavalesco das obras da carne[3]; de fato, a fornicação, a impureza, a libertinagem, a superstição, a inimizade, as brigas, o ódio, a discórdia, as bebedeiras... Tudo isso, e muito mais, apresenta-se a nós como uma suposta realidade natural que deve imperar neste mundo. Assim, o catolicismo mais parece uma ilusão; a moral, uma quimera; a santidade, um sonho impossível... E, todos os que buscam a Cristo, um bando de loucos, neuróticos e insatisfeitos; pessoas incapazes de enfrentar a existência, e que - segundo alguns - se esconderam atrás de uma falsa aparência de piedade por medo de encarar a própria vida e de assumir a realidade.

    Aquele que não se fortalecer em Deus não suportará as provações do tempo presente. Aquele que não se fizer escravo de Cristo, [4] inevitavelmente, tornar-se-á escravo de si mesmo, para, logo depois, tornar-se escravo do mundo, e, por fim, escravo dos demônios. Nega, pois, a ti mesmo![5] Achega-te ao único que pode salvar o ser humano! E, guarda teu coração de todo erro, pois, é dele que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, as calúnias[6]... Deste modo, poder-se-á dizer de ti aquilo que, da parte do Cristo, coube à amada dos Cânticos: “És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente lacrada, uma fonte selada... Entro no meu jardim.”[7]
Para galgar tal grau de heroicidade em opor-se ao mundo e converter-se constantemente a Deus, que caminho prático devemos trilhar? O que fazer objetivamente a fim de alcançar a fortaleza necessária para bem viver? Tudo isso pode nos parecer muito distante ou mesmo irrealizável; mas, não é! O Pai Celestial jamais nos pediria o impossível. Ele sabe de nossas forças, conhece a capacidade de cada um, e nunca abandonaria seus filhos nas agruras desta vida.

    O caminho é esforçar-se por manter a vida sobrenatural, própria dos filhos de Deus! Ser partícipe da natureza divina! Para isso, cumpre fugir do pecado mortal, assim como, de todo o venial. Porém, muitos poderão estar objetando: “Mas, é exatamente este ponto que me é impossível realizar; tenho buscado sempre este objetivo sem jamais conseguir alcansa-lo!” Ora, é à medida que nos esforçamos nesta gloriosa aventura cristã, que mais somos fortalecidos na Vida Espiritual. E, esforçar-se por ser fiel aqui, é abraçar os sacramentos, assim como, a prática cotidiana da oração pessoal, além da devoção à Virgem Maria. Como vemos, viver em uma luta ferrenha e perseverante contra todo o pecado, tendo como guia de nossa alma um verdadeiro amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, já é por si só, meio eficaz para nos fortalecermos na busca daquilo que desejamos.

    Portanto, esforça-te! Novamente! Mil vezes se necessário for. Aquele que ama verdadeiramente a Cristo, fará o que dizemos! Quantos santos também cambalearam pelo caminho... Agora, porém, gozam eternamente na presença de Deus. Ergueram-se de suas quedas! Levantaram a cabeça! Prosseguiram decididamente. Os que buscam as glórias do mundo sabem dar tanto de si pelo que fazem... E nós, que almejamos a eternidade, que fazemos por Cristo? Napoleão, Alexandre Magno, Júlio César, e tantos outros, consumiam-se por seus desejos efêmeros. Roberto Accioli, em biografia sobre esse último personagem, chegara a declarar: “Vencendo os bárbaros e seus próprios concidadãos como nenhum outro, e, somente igual a si mesmo, vencera-se a si próprio.”[8] Que magnífico se o mesmo pudesse ser dito de nós pela posteridade...

    Faça a experiência! Comungue do Santíssimo Sacramento; viva à sombra mística do confessionário; entrega-te à prática cotidiana da oração pessoal; tudo isso, claro, sob o manto virginal da Mãe de Deus, e verás, com toda certeza, que um milagre vai acontecer! Se não estivermos unidos à Cristo pela Graça Santificante, seremos qual ramo cortado e infrutífero. Nossa vida será mera fachada, hipócrita e mentirosa. Sem Deus, nada podemos fazer!

    Por fim, concluamos: perante um mundo tão revoltoso cabe a nós o heroísmo. Aos que caíram, repito: levantem-se! Aos mortos: que ressuscitem! Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. Que nosso canto de guerra seja: Misericórdia, misericórdia e misericórdia; de Deus para com nossa fraqueza, e de nós para com nossos irmãos, assim como, de nós para conosco também. E que a Virgem puríssima alcanse-nos a graça de uma luminosa radicalidade moral, como também, de uma santa intransigência doutrinal, tão própria de seus escravos. Nossa Senhora de Guadalupe, ora pro nobis! 

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[1] Sobre este ponto já nos falava a Beata Jacinta, Vidente de Fátima: “Hão de vir modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor.” E , “As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo.” Conf. MACHADO, Antônio A. Borelli. As aparições e a mensagem de Fátima, conforme os manuscritos da Irmã Lúcia. São Paulo: Artpress, 1996. Pg. 66
[2] Filip. 3, 18
[3] Gal. 5, 19-21
[4] I Cor. 7, 22
[5] Luc. 9, 23
[6] Mat. 15, 19
[7] Cant. 4, 12; 5, 1
[8] ACCIOLI, Roberto. César e a Revolução Romana. Coleção “Vidas Célebres”. Rio de Janeiro: Forense-universitária, 1987. Pag. 133

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ABORTO, "CRISTÃOS" E UM ATEU

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  Por João S. de Oliveira Júnior

   Um dos principais clichês para argumentar a descriminalização do aborto é a velha retórica de que o Estado é laico, vivemos numa democracia e não teocracia, por aí vai. É interessante também como discursos são moldados conforme a ocasião. Para quem observou o debate com candidatos a presidência em emissoras de TVs e rádios católicas, ocorrido segunda-feira dia 23/08, ou mesmo em outras oportunidades, pôde ouvir dos então candidatos um velho discurso "politicamente correto" (mas logicamente equivocado).Todos, evidente que por estarem diante de bispos e freiras, se encheram para falar "Eu sou cristão e sou contra o aborto mas...". Após este 'mas' acrescente desculpas, eufemismos, ignorância e velhos chavões favoráveis a prática abortista. Coerentemente, deveria ser inaceitável e, para contrariar os supostos "cristãos", tentarei colocar o ponto de vista me supondo um 'ateu': 


    Bem, como ateu não há nada que me impeça de ser contra o aborto até porque eu não creio que a vida humana começa após a concepção com a presença de um ser único, isto não é objeto de "crença" pois as ciências biológicas ha muito tempo já comprovou isso (1). Como ateu, convicto, eu posso ter respeito pelas leis da sociedade e a Constituição federal, lei que rege todas as outras como seguir  tratados jurídicos que dão ao cidadão o direito a vida, o que seria o direito a existência, caminho para todos os outros direitos. Supondo que militantes pró-aborto consigam mudar as leis que protegem o nascituro e liberem geralmente a prática, como ateu não preciso ser isento de consciência e por ser uma questão ética, também, posso perceber que a moralidade não se resume ao que querem por ou não nas leis, logo, poderei enxergar claramente que o direito humano está sendo violado. Como ateu, posso ser humanista e perceber o absurdo ao dizerem que a carnificina de aborto seria questão de direitos humanos (2). Embora seja homem,  não é muito difícil notar que a prática de um aborto foge a natureza da mulher, pois, podemos saber também sobre os males do aborto nas mesmas (3). E, ainda que no mito de "aborto seguro", veríamos que causa transtornos presentes e futuros analisando clinicamente, independente da crença feminina. O esclarecimento e debate que governos deveriam fazer para combater o aborto clandestino seria esta conscientização dos males, um maior apoio e proteção para as gestantes e uma punição daqueles promovem aborto nas mães, aproveitando uma situação de desespero das mesmas. Já viram algum "açougueiro" ou alguém que induz a mulher ao aborto ser preso e condenado por isso como ordena o Código Penal?  Algum candidato sugeriu no seu plano de governo alguma das sugestões acima ao tratar do assunto?

   “Se aborto é o problema, aborto não pode ser a solução”_ já dizia Dra. Lenise Garcia (4).

   Como ateu é de se esperar que eu não preciso dar crédito ao que a Igreja diz mas eu deduzo que para um cristão, biblicamente (5), ele deveria dar mais valor a uma criança que está no ventre materno, saber que um tal catecismo (Didaqué) do primeiro século já não permitia o aborto, e que acintosamente os seus líderes sempre foram contra esta prática. Engraçado que se percebe muitos "cristãos" sendo contrários às orientações da própria Igreja dando pouco valor a esta questão do aborto, deixando-o como assunto secundário e subjetivo, contrariam gravemente a um Karol Woytila, Tereza de Calcutá, Joseph Ratzing, Zilda Arns e tantos outros nomes de expressão para aqueles que têm a mesma fé, diferentemente de mim, ateu. 

   Colocando-me na pele de um ateu, ainda que no seu secularismo, percebo que não há desculpas para ser a favor do aborto e parabenizo a Igreja Católica por lutar contra esse mal incondicionalmente, mas ao mesmo tempo fico perplexo como muitos "cristãos" tentam enganar aos outros e a si mesmos neste assunto (e enganam), depois acusam os pró-vidas de “fundamentalistas”. Parece que a 'lógica' foi para o passear e esqueceu de voltar.







(5)     Ver Jr 1,5; Sl 139,15 e Lc 1,44

domingo, 12 de setembro de 2010

"PÓS VATICANO II: MALACHI MARTIN"


  Por Prof. Pedro M. da Cruz

“... todo um sistema tradicional de vida e prática religiosa foi aparentemente eliminado com aquela rapidez, sem aviso. Uma mentalidade de séculos foi levada na enxurrada de um furacão de mudança. Em certo sentido, um determinado mundo de pensamento, sentimento e atitude deixaram de existir – o antigo mundo católico centrado na autoridade de um pontífice romano; a rígida alternativa entre apenas duas opções do dogma e da moralidade católica; o comparecimento à missa (...) a militância dos leigos católicos romanos em defesa de valores católicos tradicionais. Todo este mundo foi aniquilado, por assim dizer, da noite para o dia.” (Pg. 223)




“O comparecimento à missa diminuiu imediatamente, e em dez anos havia caído 30% nos Estados Unidos, 60% na França e na Holanda, 50% na Itália, 20% na Inglaterra e no País de Gales. Outros dez anos, e 85% de todos os católicos da França, Espanha, Itália, e Holanda nunca foram à missa. A População dos seminários teve queda vertical. Na Holanda 2.000 padres e 5.000 irmãos e freiras religiosas abandonaram seus ministérios. Existe, hoje, 1986, em média um novo padre ordenado por ano naquele país, onde antes havia uma média de dez. Quedas semelhantes foram registradas em outros países. Nos doze anos de 1965 a 1977, cerca de doze a quatorze mil sacerdotes no mundo inteiro solicitaram dispensa de seus deveres, ou simplesmente foram embora. Sessenta mil freiras deixaram seus conventos entre 1966 e 1983. A Igreja católica nunca sofrera perdas assim tão devastadoras num espaço de tempo tão curto. (...) O número de confissões, comunhões e crismas diminuiu no mundo inteiro a cada ano, de uma média de 60% de católicos praticantes em 1965 para um número situado nalgum ponto entre 25% e 30% em 1983. Conversões ao catolicismo diminuíram dois terços.” (Pg. 224)




“Mas o Concilio Vaticano II, como todo concílio, deixou um registro claro em seus documentos. E nada é mais certo do que o fato de que aquele concílio reiterou aquilo que dois concílios ecumênicos anteriores haviam proclamado, especialmente com referência à primazia e à infalibilidade do papa, ao caráter hierárquico da Igreja Romana e ao caráter sem igual do sacerdócio.” (Pg. 228)




“Não foram os documentos do Vaticano II que autorizaram os bispos a fazerem justamente o oposto do que Roma mandava (...) Os documentos do Vaticano II não deram aos teólogos carta branca para interpretar ou negar dogmas de fé como bem entendessem. O Vaticano II foi conservador em suas declarações e tradicional em sua teologia e moralidade. O Concílio não recomendou direitos dos homossexuais, dançarinos com roupas de malha dando saltos pelo santuário, bispo rezando missa vestindo calções e tênis, a abolição da clausura rígida para as ordens contemplativas, ou o uso dos bolinhos ingleses da Thomas como pão da Eucaristia.” (Pg. 229).

Referência bibliográfica:

MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de janeiro: Record, 1989. 463 pgs.