quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

PARA DESTRUIR EM NÓS O PECADO


A penitência é a virtude pela qual destruímos em nós o pecado
 e satisfazemos por ele a Deus.
“Se não fizermos penitência cairemos nas mãos do Senhor.”[1]

“Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”[2]

“Convertei-vos e fazei penitência.”[3]

Por Prof. Pedro M. da Cruz.

Academias lotadas.
Crianças, jovens, adultos e anciãos exercitam-se por praças e avenidas. Uns correm, outros andam... Dietas, cirurgias, e massagens compõem o resto do cenário.
Como vemos, o corpo está bem servido.
Mas, e a alma?
Dada a superioridade desta em relação ao corpo, entende-se que, se alguns dão tanto pela vida material, muito mais devem estar fazendo pela Vida Espiritual. Afinal, é de justiça tributar a cada um a parte que lhe cabe.
Assim, ao físico a atenção que lhe é devida![4] Sem mais nem menos...
E, de igual maneira, à alma, o cuidado que lhe é de direito.
Pensando nesta necessidade cristã, transcrevemos abaixo interessante reflexão do Pe. Alexandrino Monteiro. Baseado nos “Exercícios Espirituais” de Santo Inácio de Loyola, o autor nos apresenta uma profunda reflexão sobre a penitência.
Que nossos esforços pela santidade sejam sempre auxiliados pela maternal intercessão da Santíssima Virgem Maria. Amém.

DA PENITÊNCIA

A penitência permanecerá sempre
 obrigatória para quem naufragou na inocência.
“1. Natureza. - A penitência é a virtude pela qual destruímos em nós o pecado e satisfazemos por ele a Deus. Ora, o pecado apresenta um duplo caráter: um interior, enquanto nos afasta de Deus; e outro exterior, enquanto nos inclina à criatura. Portanto, a penitência apresenta um duplo efeito; converte-nos a Deus, e afasta-nos da criatura. A conversão a Deus constitui a penitência interna. Por outras palavras: a penitência interior consiste nos atos de contrição e propósito; a penitência exterior consiste na punição dos abusos das nossas faculdades exteriores e das criaturas, e caracteriza-se pelo sofrimento que exerce nos sentidos do corpo.

A penitência interior é a principal, e, por assim dizer, a alma da penitência, visto o pecado residir propriamente na vontade. Sem penitência interior, a exterior de nada vale. A penitência exterior é o fruto da interior, porque é o castigo dos pecados cometidos.

Segue-se daqui que a penitência exterior é tão necessária, que, sem ela, se pode duvidar da interior, da qual a exterior é parte integrante e natural complemento. Pelos frutos se conhece a árvore. Assim como pelos frutos se conhece a boa qualidade da árvore, assim pelos frutos da penitência exterior se conhece a boa qualidade da penitência interior, donde eles procedem. Uma alma revela-se verdadeiramente penitente pelas lágrimas, suspiros, golpes no peito, jejuns e disciplinas. Pelo contrários, um pecador que não manifesta em algum ato a sua compunção, dá, por isso mesmo, um indício de impenitência interior.

Desta doutrina se deduz que a penitência exterior é uma virtude universal, de todas as pessoas e de todos os tempos, não só dos monges e anacoretas, mas também das rainhas e dos reis, dos servos e dos senhores: não só da idade média, mas também da moderna; porque em todas as classes e em todas as idades há pecadores.

A penitência nunca passará de moda. As leis, os costumes, as praxes sociais mudam-se com os tempos: a penitência permanecerá sempre obrigatória para quem naufragou na inocência. O eco da pregação do Batista : - Fazei penitência! - continuará a ressoas desde as margens do Jordão até aos mais longínquos âmbitos da terra, a até a consumação dos séculos.”[5]

“Penitência exterior. – O homem não peca só com a alma, mas também com o corpo: os dois são cúmplices no ato do pecado. É justo, por conseguinte, que não só se doa a alma, mas também o corpo; e que o corpo e a alma conspirem, a uma, no exercício da penitência.

Motivos da penitência externa. – Os motivos que nos induzem a esta penitência, podem ser quatro:
1. Conserva melhor a sensibilidade na submissão ao espírito e no cumprimento de tudo o que nos impõem os deveres do nosso estado. Se damos ao corpo tudo o que ele reclama, se afastamos dele tudo o que mortifica, tornamo-lo indolente, inapto para o trabalho, revoltoso e indomável. Mas, à força de penitência, o corpo se torna dócil, submisso, não se revolta tão facilmente contra o espírito e se torna mais apto para a virtude.

2. Ajuda-nos a obter certas graças: como luzes na meditação, solução de certas dificuldades, socorro nas tentações, diminuição nos ataques da impureza, fervor na oração e união com Deus. Para todas estas graças é excelente a prática da penitência. S. Inácio derramou muitas lágrimas e fez muitos jejuns para obter a luz celeste na redação de suas Regras e Constituições.S. Tomás de Aquino se dispôs com sangrentas disciplinas para a interpretação das passagens difíceis da Sagrada Escritura.

No Prefácio da Missa no tempo quaresmal diz-se: ‘Com o jejum corporal reprimis os vícios, elevais a mente, concedeis virtudes e prêmios.’ É por isso que no tempo da Quaresma nos sentimos mais inclinados à virtude, santos e consoladores pensamentos nos iluminam a mente e nos movem o coração...

Em Fátima, Nossa Senhora nos exortou
a fazermos penitência incessantemente.
3. Satisfaz pelos pecados passados e pela pena temporal que lhes é devida. Desta maneira a penitência é uma réplica do espírito à rebelião da carne, e torna-se um ato de justiça, restabelecendo a ordem. Por este motivo, a prática da penitência nos é, todos os dias, necessária, pois, todos os dias pecamos. Somos como um barco, que mete água, e que todo o dia deve ser esvaziado. É, pois, uma loucura deixar a solução desta dívida para a eternidade, onde a expiação será mais longa e penosa. Agora tudo o que fazemos pela satisfação dos nossos pecados é fácil, proveitoso e meritório. É bom que nos exercitemos, cada dia, em algum ato de penitência para satisfazer a Deus pelos nossos pecados.

4. O exemplo dos Santos nos deve também mover à penitência, e , em primeiro lugar, o de Nosso Senhor Jesus Cristo, que passou quarenta dias de rigoroso jejum. E dos Santos, qual é o que não fez penitência? Todos se deram a ela com ardor, e só a obediência e a consideração de um bem maior lhes punha limites a suas rigorosas austeridades. O espírito de penitência é, pois, próprio de todo o cristão.[6]

(O negrito é nosso)



MARIA SEMPRE!


Referência Bibliográfica:
MONTEIRO, Pe. Alexandrino. Exercícios de Santo Inácio de Loiola. II Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1959. 422 pg.

[1] Conf. Eclo. 2,22
[2] Conf. Lc. 13,5
[3] Conf. Mt. 3,2
[4] Claro, uma é a atenção devida na penitência, outra na ordinariedade da vida; porém, em ambos os casos o corpo tem sua parcela de cuidado. (Comentário do autor)
[5] Conf. Pg. 346-347. Obra citada.
[6] Conf. pag. 349-350. Obra citada.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

II ENCONTRO FORMATIVO DA SSVM

Foto com alguns participantes do Encontro
Postado por Editores do Blog

Aconteceu nos dias trinta e trinta e um de Janeiro (sábado e domingo) um encontro formativo para membros e amigos da SOCIEDADE DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA, na chácara São Bento, no bairro Planalto (Montes Claros-MG), gentilmente cedida pela Irmã Maria Luiza.

No sábado a tarde, após a recitação do Santo Terço, iniciaram-se as conferências com tema central: A VISÃO PANORÂMICA SOBRE AS BASES DA CRISE E PROCESSO DE DECADÊNCIA DO PENSAMENTO. 

Os presentes participaram ativamente das conferências

No domingo, pela manhã, após um breve café, as atividades foram reiniciadas com o Santo Terço. O restante das horas foi dedicado ao desenvolvimento do tema. Por se tratar de um assunto tão amplo e atual, os presentes assistiram ativamente as conferências demonstrando interesse em aprofundar nos assuntos apresentados.



As conferências eram alternadas com coffe-breaks, permitindo agradável convivência e diálogos vinculados ao tema desenvolvido. No fim das palestras foi proposto aos participantes retomarem um saudável hábito de todo bom católico, que é o de fazer a adoração à Jesus Eucarístico todos os dias. 


As conferências eram alternadas com coffe-breaks

Todos saíram do encontro com intuito de buscar desenvolver maior conhecimento e consequentemente ter uma maior prática de vida cristã. Louvemos a Nosso Senhor Jesus Cristo por tantos jovens preocupados com as coisas de Deus e ardorosos em sua devoção à Santíssima Virgem Maria.


MARIA SEMPRE!


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

BLAISE PASCAL - "O AMOR PRÓPRIO"


"(...) não fazemos outra coisa senão nos enganarmos e adularmos mutuamente."

Postado por editores do Blog

Blaise Pascal (1623-1662)
Segue abaixo uma reflexão feita por Blaise Pascal (1623-1662) a respeito do homem na sociedade. Filósofo, físico, matemático, moralista e teólogo, este pensador francês, infelizmente, morreu defendendo a heresia jansenista que tanto mal causou a inúmeros cristãos ignorantes. Em sua obra podemos perceber muitas vezes o rigor exagerado, e forte pessimismo que marcava os fautores deste erro doutrinal. Os jansenistas chegavam a pregar o absurdo da predestinação. Entretanto, não podemos negar a beleza, profundidade e acerto de muitas observações feitas por Pascal a respeito das interações humanas. 


†††



"A natureza do amor-próprio e desse eu humano é não amar senão a si e não considerar senão a si. A que pode levar? Não impedira que esse objeto que ama não esteja cheio de defeitos e misérias: quer ser grande e se vê pequeno; quer ser feliz e se vê miserável; quer ser perfeito e se vê cheio de imperfeições; quer ser o objeto do amor e da estima dos homens, e vê que seus defeitos só merecem deles aversão e desprezo. Esse embaraço em que se acha produz nele a mais injusta e criminosa paixão que se possa imaginar; pois concebe um ódio mortal contra essa verdade que o repreende e o convence de seus defeitos. Desejaria aniquilar essa verdade, e, não podendo destruí-la em si mesmo, ele a destrói, tanto quanto pode, em seu conhecimento e no dos outros; isto é, põe todo o seu cuidado em encobrir os próprios defeitos a si mesmo e aos outros, e não pode suportar que o façam vê-los, nem que os vejam.

É sem dúvida um mal ter tantos defeitos; mas é ainda um mal maior estar cheio deles e não querer reconhecê-los, pois é ajuntar-lhes ainda o de uma ilusão voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser estimados por nós mais do que merecem; não é, portanto, justo também que nós os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos.

"É sem dúvida um mal ter tantos defeitos; mas é ainda
 um mal maior estar cheio deles e não querer reconhecê-los(...)"
Assim, quando só descobrem em nós imperfeições e vícios, que na realidade temos, é claro que não cometem uma ofensa, pois não são eles os causadores, e nos fazem um benefício, pois nos ajudam a nos livrarmos desse mal que é a ignorância das imperfeições. Não nos devemos zangar pelo fato de eles as conhecerem e de nos desprezarem, pois é justo que nos conheçam pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis. Tais seriam os sentimentos naturais em um coração cheio de equidade e de justiça. Que devemos dizer do nosso, vendo nele uma disposição tão contrária? Pois não é verdadeiro que odiamos a verdade e aqueles que no-la dizem, e que gostamos que se enganem a nosso favor, e que desejamos que nos tomem por outro que não somos na realidade?

A religião católica não nos obriga a revelar nossos pecados indiferentemente a todo mundo: permite que os ocultemos de todos os outros homens; mas excetua alguém ao qual ordena que abramos o fundo do coração, e que o mostremos tal qual é.

Somente a esse único homem, no mundo, ela nos ordena confessar, mas obriga a um segredo inviolável, que faz com que o seu conhecimento de nossos pecados permaneça nele como se não existisse.

Será possível imaginar algo mais caritativo e mais suave? E, contudo, é tal a corrupção do homem que acha ainda dureza nessa lei; e foi uma das principais razões que fizeram grande parte da Europa se revoltar contra a Igreja. Tão injusto e desarrazoado é o coração do homem que lhe parece um mal ser obrigado a fazer, em relação a um só homem, o que seria justo, de certa maneira, que fizesse em relação a todos os homens! Pois será justo os enganarmos?

"Ninguém fala de nós em nossa presença
 como se fala em nossa ausência."
Há diferentes graus nessa aversão à verdade; mas pode se dizer que até certo ponto ela existe em todos, porque é inseparável do amor próprio. Assim essa falsa delicadeza que obriga os que estão na necessidade de repreender os outros a escolherem tantos rodeios e manejos para não ferí-los. Precisam diminuir os nossos defeitos, fingir desculpá-los, misturar louvores e testemunhos de afeição e de estima. E, mesmo assim, essa medicina não deixa de ser amarga ao amor próprio. Tomamos dela o menos que podemos, e sempre com desgosto, e muitas vezes com secreto despeito contra os que no-la oferecem. Por isso acontece que, quando alguém tem interesse, em ser amado por nós, foge de prestar-nos um serviço que sabe ser-nos desagradável; trata-nos como desejamos ser tratados: odiamos a verdade, a verdade nos é ocultada; desejamos ser adulados, adula-nos; gostamos de ser enganados, engana-nos. Donde, ao mesmo tempo que nos eleva no mundo da sorte, os afasta da verdade, pois teme-se mais ferir aquele cuja afeição é mais útil e cuja aversão é mais perigosa.

Um príncipe pode tornar-se o divertimento de toda a Europa, e ser o único a ignorá-lo. Não me admira: a verdade é útil àquele a quem é dita, mas desvantajosa para os que a dizem, porque se tornam odiosos. Ora, os que vivem com os príncipes preferem os seus interesses aos do príncipe que servem; e por isso não se preocupam em lhe proporcionar uma vantagem prejudicando-se a si mesmos. Essa infelicidade é sem dúvida maior e mais comum nas fortunas mais avantajadas; mas as menores não estão isentas dela, porque há sempre algum interesse em se tornar amável. Assim a vida humana nada mais é que uma perpétua ilusão; não fazemos outra coisa senão nos enganarmos e adularmos mutuamente. Ninguém fala de nós em nossa presença como se fala em nossa ausência. A união existente entre os homens assenta apenas nesse mútuo engano; e poucas amizades subsistiriam se todos soubessem o que dizem deles os amigos quando não estão presentes; mesmo quando falam com sinceridade e sem paixões.

O homem não passa, pois, de disfarce, mentira e hipocrisia, tanto ante si próprio como em relação aos outros. Não quer que lhe digam verdades e evita dizê-las aos outros (...)"


MARIA SEMPRE!


Fonte: MAURIAC, François. O pensamento vivo de Pascal. São Paulo: Martins, 1941; p.109-112.