quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NOTA: SALA MÃE DO BOM CONSELHO!

Alguns dos que estiveram presentes à benção da Sala Mãe do Bom Conselho.

Pelo sr. João Soares de Oliveira Jr.

Dia 02 de dezembro de 2015 foi uma data histórica para a Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM, pois fora inaugurada a sala Mãe do Bom Conselho, localizada à rua Camilo Prates, prédio n. 271, sala 305, Montes Claros - MG.


Com a presença de membros e amigos da SSVM, além do ilustre e querido Pe. Henrique Munaiz - SJ, 85, foi dada a benção ao escritório, tal como aos quadros de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano e do pontífice reinante, o Papa Francisco.



O sacerdote abençoou o escritório
e os quadros ali presentes!
Com palavras edificantes, ao saber que era um dos títulos que invocamos como referência à patrona de nosso Apostolado, o padre recordou, entre um e outro de seus agradáveis comentários, que a expressão "Mãe do Bom Conselho" faz lembrança ao facto de que a Virgem Imaculada aconselhava o Filho Amado e era ao mesmo tempo por Ele  aconselhada. "Sede sempre marianos!", exortou o sacerdote!



E, não poderia faltar um brinde com um bom vinho nesta ocasião especialíssima!*

"Não poderia faltar um brinde com um bom vinho"
Na circunstância, os membros falaram sobre alguns do inúmeros livros presentes na sala (frutos também das doações de tantas almas generosas que se propõem a ajudar essa obra de Deus), e inclusive a respeito das motivações que nos levaram à aquisição da mesma, como, por exemplo, nossos Grupos de Estudos e o projeto de Incentivo à Leitura Devota. Fora ainda apresentado ao jesuíta o brasão da SSVM e seus ricos significados, explicitados pelo sr. Paulo Vinícius. 

Ainda, na agradabilíssima conversa durante o coquetel, fatos interessantíssimos foram contados pelo sacerdote sobre os primórdios de sua ordenação, sobre o amor ao papado, sobre Santa Tereza D´Ávila, Santo Inácio de Loyola e outros muitos personagens. Conhecemos, na oportunidade, fatinhos sobre a vida de alguns servos de Deus pertencentes à Companhia de Jesus, os quais Pe. Henrique teve a honra de conhecer pessoalmente.

 O espaço desde sua inauguração já proporcionou
 um ambiente aconchegante e acolhedor 
Por fim, foram tiradas algumas fotografias com todos os presentes neste maravilhoso evento.

Caríssimos amigos e benfeitores, desde já todos estão convidados a não apenas contribuir com a manutenção da sala que servirá ao bem de tantas almas, mas também a visitarem esse espaço de oração, convivência e formação católica: um ponto de referência dos projetos de nosso Apostolado.

Entrem em contato com algum dos membros para maiores detalhes.

*Brinde proposto pelo Reverendo Pe. Henrique: "Ao norte, ao sul, ao nascente, ao poente! Bendito seja Deus que dá de beber a tanta gente!"

Crédito das Fotos: Renato César Diniz.

MARIA SEMPRE!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A PERVERSÃO DA LINGUAGEM - parte I

"Vamos começar_ tinham dito as Instruções secretas_
 a pôr em circulação os princípios humanitários"

Por monsenhor Henri Delassus.

O grande meio empregado para corromper as idéias foi perverter a linguagem.

Mons. Henri Delassus (1836-1921)
A Franco-maçonaria soube fazer adotar pelo público a palavra laicização no lugar de descristianização; secularização no lugar de separação entre a ordem religiosa e a ordem civil, na família e na sociedade; neutralidade escolar no lugar de ensino ateu; separação entre a Igreja e o Estado no lugar de ateísmo no governo e nas leis; denúncia da Concordata no lugar de espoliação da Igreja; [desafetação] no lugar de confisco; leis existentes no lugar de decretos arbitrários e ilegais; tolerância em lugar de licença dada aos piores erros etc, etc. 

Ela construiu as palavras clericalismo, inalienabilidade etc., espantalhos; seduções, como as palavras liberdade, igualdade, fraternidade, democracia etc. 
"São_ dizia Bonald_ expressões de sentido dúbio, nas quais as paixões encontram primeiro um sentido claro e preciso, sobre o qual a razão se esforça em vão para fazê- las voltar através de explicações tardias: as paixões atêm-se ao texto e rejeitam o comentário"1. 

"Apesar dos ensinamentos dados pela razão e da evidência produzida por nossas catástrofes_ diz Le Play_ essa fraseologia que embrutece fornece alimento diário às tendência revolucionárias encarnadas na nossa raça. Sob essa influência penetram cada vez mais, nas camadas inferiores da sociedade, o desprezo pela lei de Deus, o ódio às superioridades sociais e o espírito de revolta contra toda autoridade" 2. 

Mazzini não pensava diferentemente de Le Play sobre esse ponto. Dizia: "As discussões eruditas não são nem necessárias, nem oportunas. Há palavras regeneradoras3 que contêm tudo o que é necessário repetir freqüentemente ao povo: liberdade, direitos do homem, progresso, igualdade, fraternidade. Eis o que o povo compreenderá, sobretudo quando opusermos a estas as palavras despotismo, privilégios, tirania etc". 



O sentido inteiro das palavras liberdade, igualdade, progresso, espírito moderno, ciência etc., que reaparecem sem cessar nos discursos e nos artigos dos políticos e nas profissões de fé dos candidatos patrocinados pelas lojas, é revolução, destruição da ordem social, retorno ao estado de natureza pelo desaparecimento de toda autoridade que limite a liberdade, destruição de toda hierarquia, que rompe a igualdade, e o estabelecimento de uma ordem de coisas, através da fraternidade, em que todos os direitos e todos os bens serão comuns. Os iniciados, ao pronunciarem essas palavras, sabem que estão anunciando um programa contra as leis de Deus e seus representantes na terra, que estão exprimindo o conceito de estado social cuja fórmula foi dada por J.-J. Rousseau. Os outros, repetindo-as após eles, tolamente, preparam para a aceitação desse estado social aqueles que a Franco-maçonaria não poderia atingir diretamente.4 



Na Revolução Francesa a
perversão da linguagem foi aplicada na prática
Que é a direção suprema da Franco-maçonaria quem escolhe essas palavras, que as lança e que encarrega seus adeptos de propagá-las, não há a menor dúvida. "Vamos começar_ tinham dito as Instruções secretas_ a pôr em circulação os princípios humanitários". Reformas, melhoramentos, progresso, república fraterna, harmonia da humanidade, regeneração universal: todas essas palavras enganosas são lidas nas Instruções. Picollo-Tigre fá-las seguir destas: "A felicidade da igualdade social" e "os grandes princìpios da liberdade". Nubius acrescenta: "A injusta repartição dos bens e das honras". Resumindo tudo, Gaétan regozija-se de ver o mundo lançado no caminho da democracia. 


No relatório do 3° Congresso das Lojas do Leste, em Nancy, 1822, lê-se: "Nos últimos graus (os mais altos da hierarquia maçônica), está condensado um trabalho maçônico universal de uma grande profundidade. Não seria desses cumes que nos chegam as palavras misteriosas que, partidas não se sabe de onde, atravessam às vezes as multidões em meio a um grande convulsão, e as levanta para a felicidade (!) da humanidade?" 

É de notar que a maçonaria se serviu da língua francesa para forjar suas fórmulas revolucionárias. Isto não escapou a de Maistre, que tão bem conheceu o poder misterioso de nossa língua. Na terceira das Lettres d’un royaliste savoisien à ses compatriotes, escritas nos dias da Revolução, ele diz: "O reinado dessa língua não pode ser contestado. Esse império jamais foi tão evidente e jamais será mais fatal do que no momento presente. Uma brochra alemã, inglesa, italiana etc., sobre os Direitos do Homem, divertiria, quando muito, um camareiro do país: escrita em francês, ela sublevará num piscar de olhos todas as forças do universo"5. 


Notas e Referências do autor:



1- Bonald, no Instituto Nacional, sessão de 29 de junho de 1805. Monsenhor Darbois, arcebispo de Paris, refém, lembrava, aos que o levavam ao paredão, que ele sempre defendera a liberdade. Um dos seus executores respondeu-lhe: ―Cala-te! Dane-se a paz. Tua liberdade não é a nossa!‖ 


2- Réforme Sociale, t. IV, p. 29. 



3- Palavras que podem servir para operar a regeneração da sociedade no sentido maçônico. 



4- O Universo, no seu número de 13 de setembro de 1902, mencionava que na anterior peregrinação dos franceses a Roma, Harmel, no brinde quue pronunciou em Sainte-Marthe, exclamou: ―Somos servidores apaixonados da liberdade, — sim, servidores apaixonados da liberdade, prontos a dar nossa vida e a derramar nosso sangue pela causa sagrada da liberdade!‖ A liberdade para que as almas possam ir a Deus, seu fim último, sem entraves, muito bem. Mas foi assim que entenderam os ouvintes de Harmel, foi mesmo essa liberdade que ele pretendia ver aclamada? Uma palavra de explicação não teria sido inútil, no dia seguinte àquele em que o chefe dos democratas cristãos da Itália foi condenado por seu discurso: Liberdade e Cristianismo. 



5- Œuvres Complètes, t VII, pp. 139-140. 

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Fonte: Livro A Conjuração Anticristã - Tomo II, Cap. XXXV - A perversão das Idéias; por Monsenhor Henri Delassus. IMPRIMATUR Cameraci, die 12 Novembris 1910. A. MASSART, vic. gen. Domus Pontificiae Antistes. 

Disponível emhttp://www.salverainha.com.br/downloads/Monsenhor_HENRI_DELASSUS-II.pdf



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A INTOLERÂNCIA CATÓLICA - PARTE 2

Orgulhamo-nos da nossa intolerância. Se não o fôssemos,
não estaríamos com a verdade
, pois que a verdade é uma.

Reproduzimos abaixo a segunda parte de excertos de um interessantíssimo sermão que trata a respeito da Intolerância!
Como visto inicialmente, trata-se de um tema grave e sério para toda a cristandade. Os Cristãos, não raras vezes, ignoram e sucumbem esta verdade, revelando uma decadência em vários aspectos. 
A Igreja é a única detentora da Verdade, e os católicos devem se erguer e se impor para defendê-la!



Sermão de Louis-Édouard, Cardeal Pie (Bispo de Poitiers) pregado na Catedral de Chartres em 1841:
Meus irmãos (...),

Cardeal Pie (1815-1880)
Ouvi como os historiadores do tempo justificam as torturas dos cristãos. Eles não falam mal de sua religião, de seu Deus, de seu Cristo, de suas práticas; só mais tarde é que inventaram calúnias. Eles os censuram somente por não poderem suportar outra religião senão a deles. “Eu não tinha dúvidas”, diz Plínio, o Jovem, “apesar de seu dogma, de que não era preciso punir sua teimosia e sua obstinação inflexível”: pervicaciam et inflexibilem obstinationem. “Não são criminosos”, diz Tácito, “mas são intolerantes, misantropos, inimigos do gênero humano. Há neles uma fé teimosa em seus princípios, e uma fé exclusiva que condena as crenças de todos os povos”: apud ipsos fides obstinata, sed adversus omnes alios hostile odium. Os pagãos diziam geralmente dos cristãos o que Celso disse dos judeus, com os quais foram muito tempo confundidos, porque a doutrina cristã tinha nascido na Judéia. “Que esses homens adiram inviolavelmente às suas leis”, dizia este sofista, “nisto não os censuro; só censuro aqueles que abandonam a religião de seus pais para abraçar uma diferente! Mas, se os judeus ou os cristãos querem só dar ares de uma sabedoria mais sublime que aquela do resto do mundo, eu diria que não se deve crer que eles sejam mais agradáveis a Deus que os outros”.

Assim, meus irmãos, o principal agravo contra os cristãos era a rigidez absoluta do seu símbolo, e, como se dizia, o humor insociável de sua teologia. Se só se tratasse de um Deus mais, não teria havido reclamações; mas era um Deus incompatível, que expulsava todos os outros: aí está o porquê da perseguição. Assim, o estabelecimento da Igreja foi obra de intolerância dogmática. Toda a história da Igreja não é senão a história dessa intolerância. Que são os mártires? Intolerantes em matéria de fé, que preferem os suplícios a professar o erro. Que são os símbolos? São fórmulas de intolerância, que determinam o que é preciso crer e que impõem à razão os mistérios necessários. Que é o Papado? Uma instituição de intolerância doutrinal, que pela unidade hierárquica mantém a unidade de fé. Por que os concílios? Para frear os desvios de pensamentos, condenar as falsas interpretações do dogma, anatematizar as proposições contrárias à fé.

Morte de São Pedro.
Papado, Martírio e Cruz!
Nós somos então intolerantes, exclusivos em matéria de doutrina; disto fazemos profissão; orgulhamo-nos da nossa intolerância. Se não o fôssemos, não estaríamos com a verdade, pois que a verdade é uma, e conseqüentemente intolerante. Filha do céu, a religião cristã, descendo à terra, apresentou os títulos de sua origem; ofereceu ao exame da razão fatos incontestáveis, e que provam irrefutavelmente sua divindade. Ora, se ela vem de Deus, se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer: Eu sou a verdade: Ego sum veritas, é necessário, por uma conseqüência inevitável, que a Igreja Cristã conserve incorruptivelmente esta verdade tal qual a recebeu do céu; é necessário que repila, que exclua tudo o que é contrário a esta verdade, tudo o que possa destruí-la. Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina, é dirigir-lhe uma recriminação muito honrosa. É recriminar à sentinela ser muito fiel e muito vigilante, é recriminar à esposa ser muito delicada e exclusiva.

Nós ficamos muitas vezes confusos com o que ouvimos dizer sobre todas estas questões até por pessoas sensatas. Falta-lhes a lógica, desde que se trate de religião. É a paixão, é o preconceito que os cega? É um e outro. No fundo, as paixões sabem bem o que querem quando procuram abalar os fundamentos da fé, pondo a religião entre as coisas sem consistência. Elas não ignoram que, demolindo o dogma, preparam para si uma moral fácil. Diz-se com justeza perfeita: é antes o decálogo que o símbolo o que as faz incrédulas. Se todas as religiões podem ser postas num mesmo nível, é que se equivalem todas; se todas são verdadeiras, é porque todas são falsas; se todos os deuses se toleram, é porque não há Deus. E, se se pode aí chegar, já não sobra nenhuma moral incômoda. Quantas consciências estariam tranqüilas no dia em que a Igreja Católica desse o beijo fraternal a todas as seitas suas rivais!

Jean-Jacques Rosseau (1712-1778)
Seus pensamentos foram a base da
Revolução Francesa.
Jean-Jacques [Rousseau] foi entre nós o apologista e o propagador desse sistema de tolerância religiosa. A invenção não lhe pertence, se bem que ele tenha ido mais longe que o paganismo, que nunca chegou a levar a indiferença a tal ponto. Eis, com um curto comentário, o ponto principal desse catecismo, tornado infelizmente popular:todas as religiões são boas. Isto é, de outra forma, todas as religiões são ruins (...).

A filosofia do século XIX se espalha por mil canais por toda a superfície da França. Esta filosofia é chamada eclética, sincrética, e, com uma pequena modificação, é também chamada progressiva. Esse belo sistema consiste em dizer que não existe nada falso; que todas as opiniões e todas as religiões podem conciliar-se; que o erro não é possível ao homem, a menos que ele se despoje da humanidade; que todo o erro dos homens consiste em julgar-se possuidores exclusivos de toda a verdade, quando cada um deles só tem dela um elo e quando, da reunião de todos esses elos, se deve formar a corrente inteira da verdade. Assim, segundo essa inacreditável teoria, não há religiões falsas, mas são todas incompletas umas sem as outras. A verdadeira seria a religião do ecletismo sincrético e progressivo, a qual ajuntaria todas as outras, passadas, presentes e futuras: todas as outras, isto é, a religião natural que reconhece um Deus; o ateísmo, que não conhece nenhum; o panteísmo, que o reconhece em tudo e por tudo; o espiritualismo, que crê na alma, e o materialismo, que só crê na carne, no sangue e nos humores; as sociedades evangélicas, que admitem uma revelação, e o deísmo racionalista, que a rejeita; o Cristianismo, que crê no Messias que veio, e o judaísmo, que o espera ainda; o Catolicismo, que obedece ao Papa, o protestantismo, que olha o Papa como o Anticristo. Tudo isto é conciliável. São diferentes aspectos da verdade. Da união desses cultos resultará um culto mais largo, mais vasto, o grande culto verdadeiramente católico, isto é, universal, pois que abrigará todas as outras no seu seio.

Esta doutrina que qualificais de absurda não é de minha invenção; ela enche milhares de volumes e de publicações recentes; e, sem que seu fundo jamais varie, toma todos os dias novas formas sob a caneta e sobre os lábios dos homens em cujas mãos repousam os destinos da França. — A que ponto de loucura chegamos então? —Chegamos ao ponto a que deve logicamente chegar todo aquele que não admite o princípio incontestável que estabelecemos, a saber: que a verdade é uma, e por conseqüência intolerante, apartada de toda a doutrina que não é a sua. E, para resumir em poucas palavras toda a substância deste meu discurso, eu vos direi: Procurais a verdade sobre a terra? Procurai a Igreja intolerante. Todos os erros podem fazer-se concessões mútuas; eles são parentes próximos, pois que têm um pai comum: vos ex patre diabolo estis. A verdade, filha do céu, é a única que não capitula.

O católico defende a verdade tal qual
A verdadeira mãe defende o filho
 (I Reis.3,16-28)
Vós, pois, que quereis julgar esta grande causa, tomai para isto a sabedoria de Salomão. Entre essas diferentes sociedades para as quais a verdade é objeto de litígio, como era aquela criança entre as duas mães, quereis saber a quem adjudicá-la. Pedi que vos dêem uma espada, fingi cortar, e examinai as caras que farão os pretendentes. Haverá vários que se resignarão, que se contentarão da parte que vão ter. Dizei logo: Essas não são as mães! Há uma cara, ao contrário, que se recusará a toda composição, que dirá:a verdade me pertence, e devo conservá-la inteira, jamais tolerarei que seja diminuída, partida. Dizei: Esta aqui é a verdadeira mãe!


Sim, Santa Igreja Católica, Vós tendes a verdade, porque tendes a unidade, e porque sois intolerante; não deixais decompor esta unidade.



MARIA SEMPRE!




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A INTOLERÂNCIA CATÓLICA - PARTE 1

A Religião que vem do céu é verdade, 
e é intolerante com relação às doutrinas errôneas

Reproduzimos abaixo excertos de um sermão que trata a respeito da Intolerância! Neste texto histórico encontramo-nos perante reflexão assaz importante para os católicos em geral. A cristandade aqui apresentada é muitas vezes omitida ou esquecida pelos próprios católicos. Em um tempo de tanta confusão moral e inversão de valores,  esta verdade aqui defendida se mostra tão atual quanto indispensável. 


Sermão de Louis-Édouard, Cardeal Pie (Bispo de Poitiers) pregado na Catedral de Chartres em 1841:

Meus irmãos (...),

Cardeal Pie (1815-1880)
Nosso século clama: “tolerância, tolerância”. Tem-se como certo que um padre deve ser tolerante, que a religião deve ser tolerante. Meus irmãos, não há nada que valha mais que a franqueza, e eu aqui estou para vos dizer, sem disfarce, que no mundo inteiro só existe uma sociedade que possui a verdade e que esta sociedade deve ser necessariamente intolerante. Mas antes de entrar no mérito, distinguindo as coisas, convenhamos sobre o sentido das palavras para bem nos entendermos. Assim não nos confundiremos.

A tolerância pode ser civil ou teológica. A primeira não nos diz respeito, e não darei senão uma pequena palavra sobre ela: se a lei tolerante quer dizer que a sociedade permite todas as religiões porque, a seus olhos, elas são todas igualmente boas ou porque as autoridades se consideram incompetentes para tomar partido neste assunto, tal lei é ímpia e atéia. Ela exprime não a tolerância civil como a seguir indicaremos, mas a tolerância dogmática que, por uma neutralidade criminosa, justifica nos indivíduos a mais absoluta indiferença religiosa. Ao contrário, se, reconhecendo que uma só religião é boa, a lei suporta e permite que as demais possam exercer-se por amor à tranqüilidade pública, esta lei poderá ser sábia e necessária se assim o pedirem as circunstâncias, como outros observaram antes de mim (...).

Deixo porém este campo cheio de dificuldades, e volto-me para a questão propriamente religiosa e teológica, em que exponho estes dois princípios: primeiro, a religião que vem do céu é verdade, e é intolerante com relação às doutrinas errôneas; segundo, a religião que vem do céu é caridade, e é cheia de tolerância quanto às pessoas.

Roguemos a Nossa Senhora vir em nossa ajuda e invocar para nós o Espírito de verdade e de caridade: Spiritum veritatis et pacis. Ave Maria.

Jesus Cristo fundou uma só Igreja
 para todos os homens em todos os tempos
Faz parte da essência de toda a verdade não tolerar o princípio que a contradiz. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, podem-se partilhar os sentimentos, podem variar as opiniões. Compreendo e peço a liberdade de opinião nas coisas duvidosas: in dubiis, libertas. Mas, logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária, e por conseguinte ela é una e intolerante: in necessariis, unitas. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade. Quando se possui alguma coisa, é preciso defendê-la, sob pena de logo se ver despojado dela.


Assim, meus irmãos, pela própria necessidade das coisas, a intolerância está em toda a parte, porque em toda parte existe o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, a ordem e a desordem. Que há de mais intolerante do que esta proposição: 2 mais 2 fazem 4? Se vierdes dizer-me que 2 mais 2 fazem 3 ou fazem 5, eu vos respondo que 2 mais 2 fazem 4...

Nada é tão exclusivo quanto a unidade. Ora, ouvi a palavra de São Paulo: “Unus Dominus, una fides, unum baptisma”. Há, no céu, um só Senhor: unus Dominus. Esse Deus, cuja unidade é seu grande atributo, deu à terra um só símbolo, uma só doutrina, uma só fé: una fides. E esta fé, esta doutrina, Ele confiou-as a uma só sociedade visível, uma só Igreja cujos filhos são, todos, marcados com o mesmo selo e regenerados pela mesma graça: unum baptisma. Assim, a unidade divina que esplende por todos os séculos na glória de Deus produziu-se sobre a terra pela unidade do dogma evangélico cujo depósito foi confiado por Nosso Senhor Jesus Cristo à unidade hierárquica do sacerdócio: um Deus, uma fé, uma Igreja: unus Dominus, una fides, unum baptisma.


Um pastor inglês teve a coragem de escrever um livro sobre a tolerância de Jesus Cristo, e certo filósofo de Genebra disse, falando do Salvador dos homens: “Não vejo que meu divino Mestre tenha formulado sutilezas sobre o dogma”. Bem verdadeiro, meus irmãos. Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma, mas trouxe aos homens a verdade e disse: se alguém não for batizado na água e no Espírito Santo, se alguém se recusa a comer a minha carne e a beber o meu sangue, não terá parte em meu reino. Confesso que nisso não há sutilezas; há intolerância, há exclusão, a mais positiva, a mais franca. E mais: Jesus Cristo enviou seus Apóstolos para pregar a todas as nações, isto é, derrubar todas as religiões existentes para estabelecer em toda a terra a única religião cristã e substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico. E, prevendo os movimentos e as divisões que esta doutrina iria incitar sobre a terra, Ele não se deteve e declarou que tinha vindo para trazer não a paz, mas a espada, e para acender a guerra não somente entre os povos, mas no seio de uma mesma família e separar, pelo menos quanto às convicções, a esposa fiel do esposo incrédulo, o genro cristão do sogro idólatra. A afirmação é verdadeira e o filósofo tem razão: Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma (...).


"Não vejo que meu divino Mestre tenha
 formulado sutilezas sobre o dogma"
Falam da tolerância dos primeiros séculos, da tolerância dos Apóstolos. Mas isso não é assim, meus irmãos. Ao contrário, o estabelecimento da religião cristã foi, por excelência, uma obra de intolerância religiosa. No momento da pregação dos apóstolos, quase todo o universo praticava essa tolerância dogmática tão louvada. Como todas as religiões eram igualmente falsas e igualmente desarrazoadas, elas não se guerreavam; como todos os deuses valiam a mesma coisa uns para os outros, eram todos demônios, não eram exclusivos, eles se toleravam uns aos outros: Satã não está dividido contra si mesmo. O Império Romano, multiplicando suas conquistas, multiplicava seus deuses, e o estudo de sua mitologia se complica na mesma proporção que o da sua geografia. O triunfador que subia ao Capitólio fazia marchar diante dele os deuses conquistados com mais orgulho ainda do que arrastava atrás de si os reis vencidos. O mais das vezes, em virtude de um Senatus-Consulto, os ídolos dos bárbaros se confundiam desde então com o domínio da pátria, e o Olimpo nacional crescia como o Império.

Quando aparece o Cristianismo (prestem atenção a isso, meus irmãos, são dados históricos de valor com relação ao assunto presente), quando o Cristianismo surge pela primeira vez, não foi repelido imediatamente. O paganismo perguntou-se se, em vez de combater a nova religião, não devia dar-lhe acesso ao seu solo. A Judéia tinha-se tornado uma província romana. Roma, acostumada a receber e conciliar todas as religiões, recebeu a princípio, sem maiores dificuldades, o culto saído da Judéia. Um imperador colocou Jesus Cristo, como a Abraão, entre as divindades de seu oratório, assim como se viu mais tarde outro César propor prestar-lhe homenagens solenes. Mas a palavra do profeta não tardou a se verificar: as multidões de ídolos que viam, de ordinário sem ciúmes, deuses novos e estrangeiros ser colocados ao lado deles, com a chegada do deus dos cristãos, lançam um grito de terror, e, sacudindo sua tranqüila poeira, abalam-se sobre seus altares ameaçados: ecce Dominus ascendit, et commovebuntur simulacra a facie ejus. Roma estava atenta a esse espetáculo. E logo, quando se percebeu que esse Deus novo era irreconciliável inimigo dos outros deuses; quando se viu que os cristãos, cujo culto se havia admitido, não queriam admitir o culto da nação; em uma palavra, quando se constatou o espírito intolerante da fé cristã, foi então que começou a perseguição.




domingo, 15 de novembro de 2015

MANIQUEÍSMO: A RELIGIÃO GNÓSTICA

No maniqueísmo, o mundo teria dois princípios contrários , um bom e outro mau

“Mani, depois de duas ‘revelações’, recebida aos 12 e aos 24 anos de idade, por meio do anjo (...) convenceu-se de que Deus o escolhera para anunciar ao mundo a verdade.”

“A salvação consistirá, pois, em tomar conhecimento (gnose) de nossa origem celeste e em libertar-nos dos laços da matéria.”

“(...) Deus tentará libertar a ‘alma divina’, isto é, libertar-se a si mesmo
do processo evolutivo da matéria.”


Por Editores do Blog

É comum a muitas religiões a ideia de “libertação” (Religiões de Libertação), que supõe encontrar-se o homem colocado em uma situação degradante ou ao menos constrangedora, e se propõe libertá-lo da mesma mediante certos meios éticos ou técnicos. Esse é o caso do Maniqueísmo, que chegara a seduzir ao próprio Agostinho de Hipona, antes de sua conversão ao catolicismo. Em se tratando de curiosidades: o Cristianismo é classificado habitualmente entre as Religiões de Salvação, segundo o Pe. Waldomiro O. Piazza, autor do texto que apresentamos abaixo.

A RELIGIÃO DE MANI

A mais característica das religiões de ‘libertação’ é o ‘maniqueísmo’, fundado por Mani (Manes, Maniqueus), personagem histórico, nascido no início do século terceiro de nossa era, em um vilarejo perto de Babilônia (215-275, em Ctesifonte). Como movimento religioso, tem raízes mais profundas, que se prendem ao dualismo irânico e ao orfísmo grego, com eventuais tinturas cristãs.

Mani, fundador do maniqueísmo
Mani, ao que tudo indica, fez parte do grupo dos mandei, chamados também ‘batizadores’, seita religiosa do Iraque e do Irã meridional, que foi conhecida no passado como ‘cristãos de João Batista’ (At.19,3), talvez porque davam especial importância às abluções rituais. O termo manda, designa os textos rituais da chamada ‘cabana do culto’, recinto fechado onde se encontrava um pequeno lago com água corrente para os fins rituais do batismo. Alguns textos eram reservados aos ‘sacerdotes’ batizadores: contêm interpretações místicas do universo e da divindade, por meio de dois princípios complementares, um chamado ‘Pai’ e outro a ‘Mãe’, o primeiro criador e ativo, o segundo recebedor e passivo. O ‘Pai’ é puro espírito, a ‘Mãe’ é matéria. A união mística dos dois elementos dá origem ao ‘homem cósmico’, também chamado ‘homem primordial’ (Urmensch), de cujos membros é feito o mundo material e cuja coroa é o mundo divino. Cada homem repete no microcosmo esta concepção macrocósmica do homem primordial. 

Mani, depois de duas ‘revelações’, recebida aos 12 e aos 24 anos de idade, por meio do anjo at-Taum (o companheiro), ou do Espirito Santo, conforme outra versão, convenceu-se de que Deus o escolhera para anunciar ao mundo a verdade. Descendente de um príncipe iraniano, cuja família se estabelecera na Mesopotâmia, começou a pregar na Índia, no atual Belecistan, e depois na corte do imperador Shapur, do Irã, onde foi bem acolhido, e daí irradiou a sua doutrina, mas não conseguiu torná-la oficial do império. Por morte de Shapur, assumiu o imperador Bahran que, instigado pelos ‘magos’, lançou Mani na prisão, onde ele morreu aos 60 anos de idade.

Mani anunciou que era o último sucessor de uma longa série de mensageiros divinos, a começar de Adão, passando por Zoroastro, Buda e Jesus. Considerou-se o ‘profeta sublime’, o ‘iluminado’ pelo Paráclito, prometido por Cristo, a fim de anunciar o fim do mundo.

Sua pregação tem três características:

- é universal: a igreja de Mani não se dirige só aos habitantes do Irã, como a de Zoroastro, nem só ao Oriente, como Buda, nem só ao Ocidente, como Jesus (Sic.), mas é uma verdade total que se dirige a todos os homens.

- é uma pregação missionária: que obriga todos os seus membros a operar a conversão do próximo...

- é uma ‘religião do livro’: Mani atribui a ruína das religiões passadas ao fato de não terem sido ‘escritas', e por isso empenhou-se em escrever ele mesmo a sua doutrina, deixando-nos sete livros ‘canônicos’...

- por fim, é uma religião sincretista: pois reúne elementos de outras religiões, como do budismo e do cristianismo, sem falar do dualismo persa.

Sua doutrina é fundamentalmente ‘gnóstica’, pelo fato de ensinar que a salvação consiste em uma progressiva ‘libertação’ do espírito humano da condição material, sem intervenção de uma ‘graça divina’...

Ensina que no início de tudo estão dois princípios contrários, um bom e outro mau, um todo luz e outro todo trevas, que lutam entre si.

Representação artística do dualismo presente no maniqueísmo
Em uma primeira fase, o ‘reino do bem’, tendo à frente o ‘Pai’ com seus ‘leões’ e as ‘cinco habitações’ lutam em uma região de essências abstratas contra o ‘reino do mal’, chefiado pelo ‘príncipe das trevas’ com seus ‘archontes’, ‘demônios’ e ‘cinco abismos’. 

Em uma segunda fase, Deus resolve combater pessoalmente contra o mal e faz entrar no campo da luta a sua ‘alma’, personificada no ‘homem primordial’. Mas este é vencido, atirado ao abismo e os seus cinco filhos, que constituem a sua armadura luminosa, são devorados pelos demônios. Desta forma, uma parte da substância luminosa, isto é, da ‘alma divina’, mistura-se com a obscuridade da matéria e lhe fica sujeita. Daqui em diante, Deus tentará libertar a ‘alma divina’, isto é, libertar-se a si mesmo do processo evolutivo da matéria. Para tanto, envia ao mundo um novo ser, o ‘amante da luz’, que emana do ‘grande arquiteto’, o qual, por sua vez, gera o ‘espírito vivente’. Com o seu auxilio, o ‘homem primordial’ dilacera as trevas que o cercam e sobe à ‘pátria celeste’. Com o auxilio do ‘espírito vivente’, põe-se a ordenar o mundo material, libertando as ‘partículas’ de luz, misturadas com as trevas. Mas a matéria, temendo ficar sem ‘vida’, concentra toda a ‘luz’ que lhe resta em dois seres novos, um masculino, ‘Adão’, e outro feminino, ‘Eva’. Por isso, a descendência de Adão e Eva leva em si mesma a contradição desta luta, entre a luz e as trevas.

Em uma terceira fase, depois de uma calamidade apocalíptica, segue-se o Juízo final. As ‘partículas de luz’, que ainda se possam salvar, subirão ao céu. O mundo será aniquilado e os demônios sepultados em um grande túmulo. A salvação consistirá, pois, em tomar conhecimento (gnose) de nossa origem celeste e em libertar-nos dos laços da matéria. Os que praticarem uma ascese rigorosa, principalmente uma castidade integral, conhecerão a paz do nirvana. Os outros terão de renascer, para, através de várias transmigrações, purificar-se completamente da matéria e de sua concupiscência. 

Daí a rigorosa ascese maniqueísta: não gerar, não fornicar, não possuir, não cultivar, não colher, não comer, não beber vinho... ascese que inspirou alguns movimentos sectários dentro do cristianismo, como os priscilianos, os cátaros, e influiu grandemente na ascese da Idade Média. Como só poucos podiam praticar uma ascese tão rigorosa, Mani previu que a grande massa dos aderentes podia salvar-se sustentando os ‘perfeitos’ com seus recursos financeiros. 

A religião de Mani alcançou notável sucesso e, apesar de perseguida pelos Sassânidas, que declararam o Masdeísmo religião oficial, constituiu sério problema para o cristianismo, pois lançou muita confusão sobre os seus dogmas. Depois do século IV começou a declinar e desapareceu como movimento religioso independente.

Fonte: PIAZZA, Waldomiro. Religiões da Humanidade. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1991; p.                    227-229. (O negrito é nosso)



MARIA SEMPRE!



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

GNOSTICISMO: DESPREZO PELA CRUZ


A gnose tem ludibriado a muitos...

“(...) o ‘gnosticismo’ é um fenômeno típico da decadência do paganismo antigo, sob a influência da espiritualidade judaica, que já se fazia sentir no Ocidente, de mistura com elementos esotéricos da região iraniana.”

“(...) desvaloriza a redenção de Cristo, pois nega a sua humanidade, o que provocou a reação do Evangelista João: O Verbo se fez carne.”


Por editores do Blog

Segue abaixo uma apresentação do gnosticismo feita pelo Pe. Waldomiro O. Piazza, SJ, em seu livro “Religiões da Humanidade”. Esperamos que o texto sirva como fonte de pesquisa para os amigos do blog “Escritos Católicos”, assim como, de referência para os membros dos grupos de estudos da SSVM que, auxiliados por outros autores, poderão chegar a uma síntese esclarecedora. 

O GNOSTICISMO

“O termo ‘gnose’ (conhecimento) é usual na literatura cristã dos primeiros séculos, tanto canônica como apócrifa.

Designa dois movimentos religiosos, de tendências contrárias. A ‘gnose autêntica’ é um ‘conhecimento aprofundado dos mistérios divinos’, revelados por Deus, e contemplados com as luzes do Espírito Santo: logo, um ‘conhecimento carismático’.

A chamada ‘gnose herética’ é também um ‘conhecimento aprofundado dos mistérios divinos’ mas sob as luzes da reflexão filosófica: logo, um conhecimento natural, e, não raro, puramente fantasioso...

Dá-se o nome genérico de ‘gnosticismo’ ao movimento pseudo-cristão que procurou explicar os mistérios divinos segundo estes princípios naturais, dispensando os dados da Revelação, e ensinando um dualismo radical entre matéria e espírito, que valia por uma negação da Redenção cristã. 

A gnose apresenta variadas facetas
Costuma-se, hoje, distinguir várias modalidades de ‘gnose’, a saber:

_ Gnose cristã: É muito confusa, porque varia segundo a diversidade de autores, desde Simão, o Mago, a Valentiniano. No entanto, pode-se dizer que o seu elemento distintivo é um duplo dualismo: 


- dualismo metafísico ou cósmico: princípio do bem identificado com o espírito, e principio do mal identificado com a matéria (hyle). 

- dualismo antropológico: absoluta distinção entre alma e corpo...

Este dualismo, aplicado ao cristianismo, desvaloriza a redenção de Cristo, pois nega a sua humanidade (docetismo), o que provocou a reação do Evangelista João: O Verbo se fez carne (sarx).

Parece que a origem desta ‘gnose herética’ está no dualismo órfico, por sua vez devedor do dualismo iraniano, e que influenciou o próprio dualismo de Platão (alma e corpo). H. CH. Puech assim explica a situação psicológica do gnóstico: ‘Sente-se na terra oprimido de todos os lados pelo peso tirânico do destino (a ‘moira’ dos gregos), sujeito aos limites do tempo, do corpo e da matéria, abandonado às suas tentações e humilhações... A necessidade sentimental de redenção torna-se assim uma exigência metafísica, que deve ser atendida, ao menos ideologicamente, a fim de que o homem tome consciência de seu destino na terra... ’.

Desta forma, na elaboração do gnosticismo a salvação é menos um ato moral (uma opção), do que um conhecimento místico da própria situação neste mundo (cura psicanalítica?).

Os próprios ritos e mistérios cristãos são interpretados de forma fantasiosa e exaltada, como se verifica no maniqueísmo.

Houve tempo em que o cristianismo foi tido como um produto mais equilibrado do gnosticismo (Bultmann, um protestante, tinha o 4ª Evangelho na conta de livro gnóstico). Hoje, com mais razão, pensa-se que o ‘gnosticismo’ é um fenômeno típico da decadência do paganismo antigo, sob a influência da espiritualidade judaica, que já se fazia sentir no Ocidente, de mistura com elementos esotéricos da região iraniana (dualismo persa). Assim afirma R.M. Grant, no seu livro: ‘A gnose e as origens cristãs’.

Gnose: ligada ao paganismo
- Gnose pagã: segundo A. J. Festugière, a gnose puramente pagã é de origem egípcia, e se prende ao hermetismo oriental (grupos fechados que se dedicavam a especulações de caráter cosmológico). A chamada ‘revelação’ de Hermes Trismegisto supunha um deus cósmico, impessoal, insondável, mas cheio de misteriosos desígnios, que os ‘iniciados’ procuravam descobrir através de cálculos e combinações fantasiosas, a que não estavam alheias a astrologia da Mesopotâmia e a cabala dos judeus.

- Gnose dos judeus: Enquanto a gnose pagã tem um caráter nitidamente cósmico, a judaica é fortemente moralista, fiel às suas origens bíblicas. É monoteísta, mas cultiva um conhecimento fantasioso de Deus, principalmente quanto ao mistério da ‘glória’ de Javé (Kadhoch). Nesta concepção verdadeiramente gnóstica, toda a criação está inscrita no ‘ trono de Javé’, de modo que basta conhecer esta espécie de ‘decreto da criação’ para saber tudo o que vai acontecer. Nesta ‘gnose’, os números e as esferas celestes desempenham importante papel, permitindo as mais estranhas especulações (cf. A esfinge, de Pierre Weil). 

- Cristo na gnose: A perspectiva cósmica ou metafísica de uma queda original e de uma redenção da mesma natureza, é doutrina básica de toda a ‘gnose’. Cristo, dentro desta concepção gnóstica, representa um princípio cósmico, um ‘eon’ luminoso, que desce do ‘pleroma divino’ para dar a conhecer às almas espirituais a sua origem divina e conduzi-las aos espaços siderais. Para isso assume um corpo aparente (docetismo), ou um corpo real, mas só por um momento (Jesus Histórico?). A redenção, portanto, assume um caráter formal, que nada tem a ver com a morte da Cruz (Bultmann?). Nesta ‘gnose’ nega-se a Revelação histórica e a salvação dissolve-se em um misticismo monista, que lembra a salvação na doutrina budista... 

A gnose se opõe a toda 
doutrina cristã da redenção.
Conclusão: A. M. di Nola, em seu artigo ‘Gnosi e Gnosticismo’, na Enciclopédia delle Religioni (T. III, col. 473), chega à seguinte conclusão:

‘A noção de ‘gnose’, independentemente de sua origem histórica e de suas várias manifestações (gnose cristã, gnose pagã), designa um verdadeiro e próprio módulo religioso sempre que se insere em uma forma de experiência religiosa, na qual a conotação de ‘conhecimento’ toma um sentido próprio, ou seja, uma função salvífica que só nele se justifica. 

Isto é: ao lado de religiões de tipo ético ou profético, nas quais o comportamento humano, que leva à salvação ou dá segurança neste mundo, se funda na observância de atos rituais e sacrificais, ou na adesão a uma série de mandamentos, que formam um plano divino (cf. hebraísmo, islamismo, nas suas formas mais ortodoxas), existem religiões que propõem uma série de verdades, de iluminações ou de revelações, as quais, sendo conhecidas pelos seus destinatários, determinam neles um processo de salvação pelo simples fato de serem conhecidas, pois comportam uma total transformação do fiel. ’” 


Fonte: PIAZZA, Waldomiro. Religiões da Humanidade. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1991; p. 230-232. (O negrito é nosso)


MARIA SEMPRE!


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

MAÇONARIA, ROTARY CLUB E AFINS

 Clubes como o Rotary são quase indissociáveis da Maçonaria 
“(...) um clube, sem ‘restrições políticas ou religiosas’, para que executivos e profissionais liberais tivessem a oportunidade de desfrutar de companheirismo e estabelecer novas amizades.”

“Rotary, que chegamos a apelidar de ‘Maçonaria Branca’, já que acreditamos que Paul Harris tenha se baseado na Maçonaria para elaborar o manual de procedimentos rotários (...)”

Por Prof. Pedro M. da Cruz
Navegando pela Internet encontrei por acaso o texto abaixo que defende supostas ligações entre o Rotary Club (entre outros grupos como, por exemplo, o Lions Club) e a Maçonaria. O site que publicou o artigo pertence a uma Loja Maçônica, o que torna ainda mais interessante o tema. Achei por bem solicitar aos editores do blog que o relançassem aqui, a fim de que sirva como fonte de pesquisa e curiosidade. Deste modo, qualquer erro ou equívoco será de inteira responsabilidade dos escritores que o produziram. Nossa Senhora do Bom Conselho, rogai por nós!

ROTARY CLUB E MAÇONARIA

“Entre a metade do século XIX e os primeiros anos do século XX vários grupos de ajuda humanitária surgiram em todo o mundo. Em torno deles, a polêmica: seriam clubes de serviço ou sociedades secretas? São muitas as opiniões a esse respeito. Elks (1868), Rotary (1905), Kiwanis (1915) e Lions (1917) entraram em evidência. Foram os precursores de uma nova modalidade de clube, onde ao invés de lazer prega-se a ‘ajuda humanitária’. Os membros se reúnem semanalmente com o objetivo de unir esforços e recursos financeiros a fim de financiar projetos de ajuda a pessoas carentes e comunidades necessitadas. No entanto, para alguns pesquisadores a ‘ajuda humanitária’ seria apenas uma fachada para esconder sua verdadeira identidade.

Entre os clubes de serviço, o Rotary é o que mais se destacou e em nosso país.

O QUE É O ROTARY

Segundo nos informa o site oficial da organização, o Rotary é uma rede mundial de voluntários dedicados à prestação de serviço social. Fundada pelo maçom Paul Harris, em 23/2/1905, em Chicago, EUA, a instituição tem como lema “dar tudo de si sem pensar em si” (sic.) [Dar de si antes de pensar em si]. Suas metas são “melhorar a qualidade de vida da humanidade reduzindo disparidades mundiais em áreas como saúde, educação, agricultura, saneamento, recursos hídricos e pequenos negócios”, assim como promover a paz e a harmonia entre os homens. Não sectários e apolíticos, os Rotary Clubes são abertos a todas as raças, culturas e credos, e estão espalhados por diversas partes do Brasil e do mundo. Homens, mulheres, jovens e adolescentes integram os diversos programas da ONG. Para os jovens de 14(sic.) [ou 12] a 18 anos, o INTERACT. Para os universitários formados entre 18 e 30 anos, o ROTORACT. Após os 30 anos, o cidadão pode ser membro efetivo do Rotary.

COMO TUDO COMEÇOU

Paul Percy Harris - Fundador do Rotary
Nascido em Racine, Wisconsen (EUA), no dia 19/5/1868, Paul Percy Harris foi o segundo dos seis filhos de Gerg N. Herris e Cornélia Bryan Herris. Aos três anos de idade foi morar em Wallingford, Vermont, com seus avôs paternos, que o criaram. Casou-se com Jean Thompson (1881-1963), mas não tiveram filhos. Formou-se em Direito pela universidade de Iowa e obteve o título honorário da universidade de Vermont.

Paul Herris trabalhou como repórter de um jornal, foi professor de economia, ator e caubói. Em 1896 decidiu advogar em Chicago. Certa noite, durante uma caminhada após jantar na casa de outro advogado, Paul Harris, depois de ser apresentado a alguns amigos do seu colega que eram proprietários de casas comerciais naquele bairro residencial de Chicago se lembrou da vida na cidade de New England onde cresceu. Esse episódio inspirou Harris a organizar um clube, sem ‘restrições políticas ou religiosas’, para que executivos e profissionais liberais tivessem a oportunidade de desfrutar de companheirismo e estabelecer novas amizades.

Juntamente com Silvester Shile, comerciante de carvão, Gustavus Loehn, engenheiro de minas e Hiram Shorey, alfaiate, Harris formou o primeiro clube. O clube recebeu o nome de ‘Rotary’ devido ao fato de que seus membros se reuniam em rodízio nos respectivos locais de trabalho. No terceiro ano do clube, Harris assumiu a presidência e decidiu que a ideia do Rotary deveria ser expandida para outras cidades e países. Em 1912, após a formação de clubes no Canadá e Inglaterra, a organização passou a se cha
mar “Associação Internacional dos Rotary Clubes”. Com o passar do tempo, abriram-se filiais na Europa, América do Sul, África e Ásia. Em 27 de janeiro de 1947, por ocasião da morte o Presidente Emérito do Rotary Internacional, Paul Herris, havia cerca de 6.000, Rotary clubes pelo mundo todo.

UMA ENTIDADE FILANTRÓPICA?

Usando a mesma estratégia da Maçonaria e de outras sociedades secretas, o Rotary Clube afirma ser apenas uma ‘entidade filantrópica’, não sectária e apolítica. Entretanto, sabemos que isso não é verdade. Além de algumas semelhanças com a Maçonaria, os rotarianos estão profundamente envolvidos com a política. A maioria dos rotarianos são políticos e muitos deles estão envolvidos na administração de várias cidades e estados do Brasil.

PROVAS DOCUMENTAIS

Símbolo do Rotary, fotografado em Brasília-DF.
Na imagem é clara a relação entre Rotary e maçonaria,
 pois o "G" é um símbolo constante da maçonaria.
A relação entre o Rotary Clube e a Maçonaria é algo incontestável. Prova disso é que Lojas maçônicas amplamente divulgam na Internet destacam ambos os fundados do Rotary e Lions, Paul Herris e Melvin Jones, como maçons.

‘Maçons famosos fundaram entidades que prestam serviços a humanidade, como Os Escoteiros, por Robert Power; o Rotary, por Paul Harris; o Lions, por Melvin Jones; o Grupo de Jovens de Demolay, por Frank Sherman Lan.’

É praticamente impossível desassociar a imagem do Rotary da Maçonaria, até porque existem muitas evidências entre uma e outra sociedade. As características comuns a essas organizações como a composição, do seu quadro de membros efetivos e o método de ingresso dos novos sócios, isto é, previamente selecionados por uma comissão eletiva, são evidências que demonstram a ligação entre as sociedades.

Algumas lojas maçônicas são compostas, exclusivamente, por rotarianos. Um dos casos é da loja Rotaria número 4195 de Londres, cujas correspondências destacavam carimbos da ONG e os típicos compassos com a letra “G” em evidência, símbolo internacional do Rito Escocês.

Entre os anos de 1928 e 29 houve uma campanha internacional contra o Rotary liderado pelo jornal La Civilla, de Roma, que destacava que o ‘código de ética do Rotary apregoava princípios semelhantes ao da Maçonaria, e que os ensinamentos filosóficos e morais tinham cunho religioso’. Distribuído em vários países, o jornal defendia a ideia que o clube era ‘demasiadamente amigo dos maçons’ e ‘perigosamente inclinado ao erro de tratar todas as religiões de igual valor’”.

“A Maçonaria caminha como o Rotary, em busca de FRATERNIDADE, RESPEITO E TOLERÂNCIA. A liberdade de ação e a igualdade de direitos, não poderiam, por isto, deixar de orientar a conduta de seus membros na luta por ideais elevados.

Traçando este paralelo, a Ordem Maçônica palude (sic.) [aplaude?] a existência do Rotary, que chegamos a apelidar de ‘Maçonaria Branca’, já que acreditamos que Paul Harris tenha se baseado na Maçonaria para elaborar o manual de procedimentos rotários, e isto facilmente poderá ser comparado por qualquer rotariano observando uma sessão branca maçônica”.




MARIA SEMPRE!