Uma das queixas mais comuns entre aqueles que se propõem a ler o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem e a se consagrarem a Ela pelo método de São Luís de Montfort seria quanto às provações e às tentações. Essas, "do nada" surgem para impedir os fiéis devotos de irem adiante no estudo e na vivência da Verdadeira Devoção. Entretanto, devemos estranhar essa realidade? Recordemos: "Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação." (Eclesiástico 2,1).
Já é bem conhecida a profecia presente no número 114 do Tratado:
São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) |
Certeiro! Como sabido, o manuscrito só foi encontrado em 1842. Ou seja, mais de cem anos após a morte do santo.
Porém, atenção para o que nos é mais importante! Continua São Luís ainda no número 114 de seu livro:
"(...) Atacarão até, e perseguirão aqueles e aquelas que o lerem e o puserem em prática. Mas não importa! Tanto melhor! Esta visão me encoraja e me dá a esperança de um grande sucesso, isto é, um esquadrão de bravos e destemidos soldados de Jesus e de Maria, de ambos os sexos, para combater o mundo, o demônio e a natureza corrompida, nos tempos perigosos que virão, e como ainda não houve." [2]
São João Maria Vianney (1786-1859) |
Por outro lado, o próprio Cura D'Ars diz também que: "As tentações são necessárias para que possamos perceber que não somos nada por nós mesmos" [4] e que Deus "permite que o Demônio se aproxime um pouquinho mais de nós". Por quê? Para "nos conhecermos", ou melhor, "para reconhecermos que não somos absolutamente nada".
Meus irmãos, vejamos a conexão com o que São Luís menciona sobre a Verdadeira Devoção: essa nos leva ao "aniquilamento do próprio eu" (T.V.D. n. 82); para bem vivê-la é necessário "despojarmos de nós mesmos" (T.V.D. n. 81). Afinal, nós nos confiaremos melhor à Medianeira de Todas as Graças quanto mais nos conhecermos e vermos o quão miseráveis somos. Isso justifica a semana para conhecimento de si nos exercícios preparatórios.
Distinguindo provações de tentações:
Não devemos desistir perante as provações, que são dificuldades tempestivas neste vale de lágrimas que é esta vida. Elas são permitidas pela providência divina, e, uma vez suportando-as, crescemos na Virtude e na Fé (CIC §1808; §2847). Muitas provações e sofrimentos são até necessários para aumentarmos o valor meritório de nossos bons atos, desde que esses sofrimentos sejam oferecidos por amor a Deus. A exemplo: no colóquio da primeira aparição da Virgem aos três pastorinhos em Fátima, Portugal, em 13 de maio de 1917, Ela os indagou:
Os três pastorinhos de Fátimas passaram por grandes sofrimentos por Nossa Senhora |
Por tudo isso, aqueles que começarem devem persistir na leitura do Tratado, no conhecimento da Verdadeira Devoção e nos exercícios da Consagração, ainda que titubeantes sob as mais severas tribulações e sofrimentos.
Quanto às tentações: são comumente ciladas diretas do "Pai da Mentira" (CIC §538-540; §566) para perdermos a Vida da Graça ou muitas vezes são consequentes da debilidade de nossa natureza ferida pelo Pecado Original. Entretanto, também só acontecem pela permissão de Deus, que não nos deixa sermos tentados para além de nossas forças (1Coríntios 10,13), no desígnio de crescermos ou mesmo nos humilharmos. Para vencê-las, é necessário "fugir das ocasiões de pecado" - nos exorta Santo Afonso de Ligório [6] - como um dos mais graves deveres da vida espiritual. Uma questão é ter tentações, e todos nós sempre as teremos; outra é consentir nelas, e aí estaria o pecado (Catecismo de S. Pio X, 312-315). E se desgraçadamente viermos a cair, que nos prostremos em sincero arrependimento perante o Altíssimo, como o salmista [7]. Além disso, busquemos recuperar e nutrir a vida da graça com os sacramentos da Igreja.
Complementando e concluindo:
Detalhe da Catedral de Notre Dame Nossa Senhora derrota Satanás |
Ademais, percebamos: nessas questões de tentações e provações, nada poderemos sem a Graça divina. Este é mais um motivo para fazermos uma entrega total (santa escravidão) à Virgem Santíssima, a mais agraciada e humilde das criaturas, cuja descendência esmagou a cabeça da Antiga Serpente infernal (Gên. 3,15).
MARIA SEMPRE!
Referências:
[1] - Montfort, São Luís Maria Grignion de. T.V.D.: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, 44ª edição, Rio de Janeiro: Vozes, 2014. Página 114;
[2] - Montfort, São Luís Maria Grignion de. T.V.D.: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, 44ª edição, Rio de Janeiro: Vozes, 2014. Páginas 114-115;
[3] - Vianney, São João Maria. Sermões do Cura Dars - parte I. Disponível em http://www.sendarium.com/2014/06/sermoes-do-cura-dars-i.html. Acesso em 10/04/2017.
[4] - Ibidem;
[5] Machado, Antônio Augusto Borelli. As aparições e a mensagem de FÁTIMA conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, 39ª edição. São Paulo: Artpress, 1995. Página 40.
[6] - Ligório, Santo Afonso Maria de. Escola da Perfeição Cristã, Compilação de textos do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, CSSR. 4ª edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1955. Páginas 44-48. Disponível em:http://www.lepanto.com.br/catolicismo/leitura-espiritual/fuga-das-ocasioes-de-pecado-um-dos-mais-graves-deveres-da-vida-espiritual/. Acesso em 11/04/2017
[7] - BÍBLIA. A.T. Salmos (51/50). In: BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Paulo Bazaglia et al. 1ª edição. 12ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2015. Página 915;
[8] - Frases de Santos. Disponível em https://frasesdesantos.wordpress.com/category/sao-joao-da-cruz/. . Acesso em 13/04/2017;
[9] - Montfort, São Luís Maria Grignion de. T.V.D.: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, 44ª edição, Rio de Janeiro: Vozes, 2014. Página 57.
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