terça-feira, 6 de outubro de 2015

ALBERT CAMUS: SEM DEUS, NONSENSE


“Sem Deus e sem um mestre, o peso dos dias é terrível.”[1]


Postado por editores do Blog


Albert Camus foi um filósofo, romancista, jornalista, ativista, ensaísta e dramaturgo[2] nascido na Argélia [3] (1913), então colônia francesa, e morto (1960) vítima de um acidente automobilístico. Há quem afirme ter ele sido assassinado por ordem de Moscou; com efeito, era crítico do comunismo soviético - motivo pelo qual sofrera desentendimentos com Sartre (1905-1980) também comunista. 

Albert Camus (1913-1960)
Marcado por densas experiências pessoais[4], Camus fez do absurdo, da tragédia, do desespero, do suicídio, e do sofrimento, entre outros temas afins, o universo de seus conflitos interiores e reflexões filosóficas. Para ele, o homem é um revoltado no tocante à sua condição contra a qual deve ser mais forte, um estrangeiro solitário nesse mundo (onde nada teria valor ou sentido), destituído de qualquer moral ou verdade, e sempre angustiado perante o nada: veem-se aqui traços de suas notas existencialistas. 

Albert Camus foi e continua sendo um homem confuso. Apresentado por muitos como descrente, anti-teísta ou cético, não há quem deixe de taxá-lo pura e simplesmente "ateu", ou mesmo agnóstico para quem a questão de Deus é insolúvel; o que talvez explique sua estranha afirmação: “Eu não acredito em Deus e não sou ateu”. Interessante o fato de que em certo momento pensara em ser Dominicano... Foi seduzido em muitos pontos pelo cristianismo (admirava a pessoa de Jesus - mesmo lhe negando a ressureição -, Santo Agostinho, São Francisco de Assis e Pascal); o facto é que se deixava transformar pelo universo cristão, mas não converter (pensemos em "Albert Camus e o Teólogo", de Howard Mumma). Um ponto é claro: o argelino optou por uma existência sem Deus e crítica da Religião:

“A crítica do cristianismo de Camus é largamente tributária de Nietzsche. Assim como ele, Camus se vê ‘fiel à terra’. Ele critica os ‘mundos do além’ que oferecem a ilusão de uma outra vida, quando conta apenas a existência presente (...). Quanto à Igreja institucional, Camus reprova (...) sua aliança com as ‘forças conservadoras’”[5]

José Ramón Ayllón,
Bom, não alonguemos ainda mais essas notas introdutórias. Nossa intenção foi tão somente preparar o leitor para compreender melhor o texto abaixo escrito pelo filósofo José Ramón Ayllón. Que esse artigo nos anime na luta apostólica, a fim de que, mostrando aos outros a beleza e o amor de Deus, possamos livrá-los dos caminhos de trevas que perigam perder as almas. Albert Camus foi um filho de seu tempo e, infelizmente, nos revela até onde poder chegar o homem quando distante da graça de Deus e subjugado por seu próprio ego. Virgem de Guadalupe, Rogai por nós! 

O CÉU NÃO RESPONDE

“Depois de termos visto por alto alguns motivos que levam o ser humano a procurar a Deus necessariamente, compreendemos que Hegel tenha dito que não perguntar-se sobre Deus equivale a dizer que não se deve pensar. Mas também sabemos – como Albert Camus – que qualquer dia a peste pode acordar de novo os seus ratos e enviá-los a uma cidade feliz para dizimá-la.

Os biógrafos de Camus, prêmio Nobel de literatura em 1957, atribuem a sua profunda incredulidade a uma ferida que as garras do mal lhe causaram na adolescência e que nunca cicatrizou. Vivia em Argel, tinha quinze ou dezesseis anos e passeava com um amigo à beira-mar. Depararam com um rebuliço de gente. No chão, jazia o cadáver de um menino árabe, esmagado por um ônibus. A mãe chorava em altos gritos e o pai soluçava em silêncio. Depois de uns momentos, Camus apontou para o cadáver, levantou os olhos ao céu e disse ao amigo: ‘Veja, o céu não responde’.

‘Veja, o céu não responde’.
A partir de então, cada vez que tentava superar esse impacto, levantava-se nele uma onda de rebeldia. Parecia-lhe que toda a solução religiosa tinha que ser uma falácia, uma forma de escamotear uma tragédia que nunca deveria ter ocorrido. Daí em diante, o futuro escritor dá as costas a Deus e abraça a religião da felicidade. ‘Todo o meu reino é deste mundo’, dirá. E também: ‘Desejei ser feliz como se não tivesse outra coisa que fazer”.

Mas, ataca-o o golpe brutal de uma doença. Dois focos de tuberculose truncam a sua
carreira universitária e obscurecem o horizonte azul de um jovem que reconhece a sua paixão hedonista pelo sol, pelo mar e por outros prazeres naturais. Instala-se o absurdo numa vida que só queria cantar. E é então que o escritor faz Calígula dizer uma verdade tão simples, tão profunda e tão dura: ‘Os homens morrem e não são felizes’.

Para Camus, a felicidade será a disciplina sempre deixada para trás no currículo da humanidade. Para ele uma vida destinada à morte converte a existência humana num sem-sentido e faz de cada homem um absurdo. É contra esse destino que Camus escreverá ‘O mito de Sísifo’, em que a sua solução voluntarista se resume numa linha: ‘É preciso imaginar Sísifo feliz’. E a felicidade de seu Sísifo – que bem pode ser Mersault, o protagonista de O estrangeiro – é a autossugestão de julgar-se feliz.

O romance ‘A peste’ será uma nova tentativa de tornar possível a vida feliz num mundo mergulhado no caos e destinado à morte. Mais que um romance, é a radiografia da geração que viveu a Segunda Guerra Mundial. Camus já não fala do seu sofrimento individual, mas dessa imensa vaga de dor que submergiu o mundo a partir de 1939. Nas suas páginas finais, recorda-nos que as guerras, as doenças, o sofrimento dos inocentes, a maldade com que o homem trata o homem... só conhecem tréguas incertas, após as quais recomeçará o ciclo do pesadelo.” 

FONTE: AYLLÓN, J. Ramón. Mitologias modernas. Trad.: Emérico da Gama – São Paulo: Quadrante, 2011; p. 54-56. (Temas cristãos; 145)




MARIA SEMPRE!





[2] Em 1957 Albert Camus conquistou o Prêmio Nobel de Literatura
[3] Pertencera ao partido comunista e a grupos de resistência politica
[4] A doença, a guerra, a morte, a fome e a pobreza.
[5] Conferir: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/30891-albert-camus-e-sensivel-a-humanidade-de-cristo

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