terça-feira, 1 de julho de 2014

MEUS PROFESSORES MENTIRAM...


S. Domingos  de Gusmão defendendo a fé católica
contra o catarismo.


Prof. Rafael Maria da Cruz

Prezados leitores, segue abaixo uma breve exposição referente à heresia cátara que tanto mal fez à Igreja e à sociedade civil. Chamamos a atenção dos senhores sobre o fato lastimável de vários professores mal formados ou maliciosos haverem nos privado das terríveis características desta seita gnóstica e apresentado a Igreja Católica como a "vilã da história", cruel e manchada de sangue inocente. 

Os parágrafos seguintes, cremos, bastarão para termos o mínimo de noção da periculosidade desta seita atacada primeiro pela sociedade civil e depois, a pedido desta, pela mão zelosa da Igreja. Os mais lúcidos saberão criticar com prudência os excessos daqueles que agiram em nome da Igreja mas que muitas vezes não se deixaram conduzir pela sabedoria milenar desta mesma instituição. Boa leitura.



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OS ALBIGENSES 

“Do antigo fermento do gnosticismo que tinha envenenado por tanto tempo os primeiros séculos da Igreja, havia germinado uma seita perigosa. Habilmente explorada por espíritos inquietos e ambiciosos aos quais irritavam a riqueza e o poder da Igreja, havia ela invadido pouco a pouco o norte da Itália, a Provença, o Delfinado e o Languedoc, e aí tomou o nome sob que é mais conhecida: o Albigeísmo, da cidade de Albi, capital de seus sectários. Era a heresia cátara, ramificada sob os nomes diversos de seitas irmãs: Publicanos, Búlgaros, Valdezes, Pobres de Lyon, Patarins e Albigenses. 

No Languedoc sob o céu enervante do sul, onde tudo falava de vida fácil e voluptuosa, ela fez em breve grandes progressos. Suas doutrinas eram um perigo para sociedade não só pelos princípios que enunciavam como pelas desordens e sedições que suscitavam. Proibiam todo contato com a matéria, emanada do princípio mal, e condenavam o casamento, fonte da sociedade, permitindo embora, a seus sectários, a prática das mais vergonhosas orgias. 

Negadores da base de toda ordem, atacavam tanto a autoridade do poder secular como a da Igreja. Os sectários que tinham recebido o consolamentum, espécie de batismo espiritual, para evitar recaírem no pecado, condenavam-se ao suicídio, deixando-se morrer de fome, tomando veneno ou vidro moído, ou abrindo as veias. E se um consolado recusava suicidar-se, era proibido à sua família nutri-lo; viu-se assim filhos deixarem morrer de fome seus pais e pais deixarem perecer de inanição seus filhos. 

Ao passo que para o cristão toda prova, toda tentação mesmo, é um meio de santificação, e a vida tem um preço infinito porque ela permite ganhar o céu – para o maniqueu ou albigense, a vida espiritual não pode existir nesta terra, porque alma é prisioneira num corpo que é obra de Satanás. O suicídio é a conseqüência lógica de tal sistema: já que o corpo é uma prisão, é preciso sair dela; já que a vida é um mal, é necessário destruí-la. 

Usando de todos os meios para espalhar seus erros, acharam amigos e partidários não só entre os leigos como até entre o clero, mas foram sobretudo os representantes da alta aristocracia feudal que se tornaram seus defensores. 

Batalha de Muret 1213, realizada contra as barbáries
 praticadas pelos Albigenses.
Muitos dos príncipes os mais poderosos, como os Condes Raimundo VI e VII de Tolosa, os Viscondes de Béziers, os Condes de Bearn, d’Armagnac, de Foix e de Comminges, os tomaram abertamente debaixo de sua proteção. Era raro mesmo encontrar entre eles um homem do povo, operário ou camponês. A seita recrutava-se entre a aristocracia e a burguesia. (...) Bem disse Bossuet: ‘A heresia cátara ameaçava a terra de uma conflagração geral’(...) Foi certamente pensando em todos esses excessos e nas doutrinas fanáticas que os haviam inspirado que num momento de sinceridade, um dos inimigos da inquisição, Lea, fez a seguinte interessante confissão: 'Por mais horror que nos possa inspirar os meios empregados para combatê-los, por mais compaixão que devamos sentir por aqueles que morreram vítimas de suas convicções, reconhecemos sem hesitação que A CAUSA DA ORTODOXIA NÃO ERA SENÃO A MESMA QUE A DA CIVILIZAÇÃO E DO PROGRESSO. Se o catarismo houvesse dominado, ou mesmo emparelhado com, o catolicismo, não é duvidosos que a sua influência teria sido simplesmente desastrosa’. [i]

Compreende-se agora porque os príncipes do século XI e XII foram mais enérgicos do que os bispos e os papas na repressão da heresia e porque eles não cessaram de atiçar nesse ponto o zelo da hierarquia eclesiástica (...). ”


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FONTE: OTTONI, Pio Benedito. A Inquisição.7ª edição, Gráfica Jacyra: Niterói, 1964, p.18-24


MARIA SEMPRE! 


[i] Lea, Histoire da l’Inquisition I, p. 120. (Nb.: O itálico e o negrito são nossos.) 

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