domingo, 24 de abril de 2016

REFLEXÃO: "AS DEMORAS DE DEUS"

"A virtude da paciência é uma terapia de que o mundo atual precisa muito."

Por Editores do Blog
Reproduzimos abaixo interessante reflexão do Pe. Francisco Faus, sacerdote integrante da Prelazia da Santa Cruz e do Opus Dei. Espanhol, conviveu com São José Maria Escrivá e vive em São Paulo desde 1961.
É autor de diversas obras sobre piedade cristã, entre elas "A Paciência", do qual foi extraído este trecho, que nos acenam para a confiança e esperança em Deus. 


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No mundo em que vivemos, bêbado de acelerações,
ultrassônico nas mudanças e doente de impaciências
"No mundo em que vivemos, bêbado de acelerações, ultrassônico nas mudanças e doente de impaciências, a bela arte do amor paciente é muito necessária. A virtude da paciência é uma terapia de que o mundo atual precisa muito.

Mas, num ambiente em que o egoísmo pensa que “para mim tudo tem que ser antes e ao meu gosto” e o comodismo exige 'tudo rápido, para já e com o menor trabalho possível', a impaciência grassa largamente e faz a festa. E é natural que se mostre, a toda a hora, em forma de cansaço insofrido, unido a uma revolta irritada. Não é estranho que, nesse clima, as impaciências acabem cedo ou tarde por arremessar-se contra Deus.

Tal é o caso, não infreqüente, dos que chegam a duvidar da bondade de Deus e sentem abalar-se-lhes a fé quando julgam que 'Deus não os escuta', pois – segundo pensam – não atende aos seus pedidos nem os livra das suas aflições.

Alguns falam então do 'silêncio de Deus', insinuando – ou afirmando claramente – que Deus não se interessa pelas suas criaturas, mas permanece na olímpica solidão dos céus, alheio às tribulações e anseios dos homens. Um bom número de casos de agnosticismo, ou de ateísmo inconsistente (será que há algum ateísmo que não seja inconsistente?), ou de ceticismo mais ou menos cínico, tomaram pé em alguma decepção. Esperava-se algo de Deus, e não aconteceu. Por essa razão, Fulano deixou de ir à Missa depois da morte do filho, pelo qual tanto tinha rezado; Sicrano perdeu a fé após a quinta tentativa frustrada de entrar na faculdade; e Beltrana bandeou-se para o esoterismo ao perder o último namorado.

Os 'silêncios' e as 'demoras' de Deus põem à prova a nossa paciência. Mas são precisamente essas dificuldades desconcertantes as que nos fazem compreender que uma boa paciência jamais poderá ser erguida sobre uma fé ruim.

O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe,
 o vosso Pai cuida - Mt 6, 25
Uma das primeiras verdades – inesgotável e luminosa verdade! – que Cristo nos revelou foi a da paternidade de Deus: O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe, o vosso Pai cuida (cf. Mt 6, 25 e segs.). Não se vendem dois passarinhos por uma moedinha? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Valeis mais do que muitos pássaros (Mt 10, 20-31).

Deus é um Pai que sempre nos acompanha. E esse Pai está amorosamente ativo, talvez mais do que nunca, quando parece que se cala e não intervém.'Quando nada acontece – diz, com certeira intuição, Guimarães Rosa –, há um milagre que não estamos vendo'[NOTA DE RODAPÉ: Primeiras Estórias, José Olympio, Rio de Janeiro, 1962, pág. 71.].

Quem vive realmente de fé, caminha sereno e confiante na 'mão' de Deus que, como víamos acima, muitas vezes não coincide com a nossa. Ele, que é Bom Pastor de cada um de nós, sabe, e sabe-o muito bem, por onde nos leva e nos traz. Ainda que atravesse as sombras da morte, nada temerei, porque Tu estás comigo (Sl 23, 4). Ele nos dá, ou permite que nos aconteça, aquilo que – embora não o entendamos – mais nos convém, sempre com vistas à nossa verdadeira realização, que é a que floresce e se completa na vida eterna: Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma (Mt 10, 28). Não temas, meu pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 12, 32).

Quem vive de fé, entende muito bem, por isso, o belo conselho do Eclesiástico: Sofre as demoras de Deus. Dedica-te a Deus, espera com paciência [...]. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da tribulação (Ecli 2, 3-5). "

Fonte: FAUS, Francisco. A Paciência. São Paulo: Quadrante, 1998. pg. 55-57.

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MARIA SEMPRE!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

OFICINA DE LATIM ECLESIÁSTICO


Por João S. de O. Junior [1]

Pela manhã do dia 03 de abril, a Sociedade da Santíssima Virgem Maria realizou na Sala Mãe do Bom Conselho, Centro de Montes Claros - MG, a primeira Oficina de Latim Eclesiástico para alguns participantes dos Grupos de Estudos e fiéis que assistem a Missa Tridentina em nossa cidade.

A Sala da SSVM favorece aos estudos.
Tendo como tutor o advogado Paulo Vinícius Costa Oliveira (de pé, na foto ao lado), a oficina se iniciou com breves mas importantes instruções teóricas sobre a pronúncia de nossa "língua mãe", voltada para orações básicas da Fé Católica[2] com muitos exemplos práticos. 

Após o lanche, a segunda parte dos estudos se deu com recitação de orações em Latim tendo ativa participação dos presentes. Por fim, foram entregues certificados a estes.

Essa oficina foi apenas mais uma, de tantas outras, voltadas para a formação católica que a SSVM busca realizar, sempre no amor à Doutrina Católica e a tudo que lhe diz respeito, isto é parte do nosso chamado. Além, é claro, de continuarmos outros projetos de Apostolado, por Caridade Cristã.

Foto dos participantes da Oficina
Caríssimos benfeitores e amigos, vossas ajudas e orações nos são muito importantes.
Que a Virgem Santíssima recompense a vós e a vossas famílias por tudo!  E como ainda há tempo (o período pascal vai até Pentecostes) desejo-vos uma Santa Páscoa!
Que reine em nossos corações o Cristo, Ressuscitado!

Mais uma vez, fazemos o convite para assistirem a Missa Tridentina que está acontecendo nas sextas-feiras, no Santuário do Bom Jesus às 18 horas. Uma benção sem igual! 


Grande abraço e Maria Sempre!


Notas:

[1] Este texto é a carta de abril/2016 do presidente da Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM aos benfeitores e amigos da associação.

[2] O Papa Bento XVI no documento pós sinodal Sacramentum Caritatis, n. 62, recomenda a recitação das orações em Latim mais tradicionais de nossa fé Católica.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A CURIOSA HISTÓRIA DO CIGARRO

A data em que apareceu o primeiro cigarro
 entre os lábios do primeiro fumante perdeu-se no tempo...


Prof. Pedro Maria da Cruz

Gastão Pereira da Silva não é um autor recomendável; foi ele quem, de certo modo, popularizou a Psicanálise no Brasil. Entretanto, encontrei em um de seus livros essa interessante história do tabagismo, que servirá para entreter nossos leitores. Aos interessados recomendamos também o excelente texto: “A Igreja Católica e o Tabagismo”[1] onde encontrarão uma visão muito mais imparcial (por exemplo, a respeito da postura do papa Urbano VIII, citado abaixo) no tocante ao assunto abordado.

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“A história do tabagismo é muito curiosa. Deve, pois, ser contada, embora resumidamente. A data em que apareceu o primeiro cigarro entre os lábios do primeiro fumante perdeu-se no tempo. Conta-se que Cristovão Colombo, ao abordar a ilha de Cuba, vira, na boca dos índios, enormes tições acesos, que pareciam imensos cigarros feitos com folhas de tabaco.

Mas, em que se pese esse fato, o fumo só ficou conhecido depois do século XVI, com as primeiras remessas desse vegetal enviadas pelo embaixador francês João Nicot à rainha de Médicis em 1560.

João Nicot cultivava o fumo nos jardins em Lisboa, porque o julgava uma erva perfumada e dotada de propriedades terapêuticas. Apesar de Nicot haver passado à posteridade, como o introdutor do tabaco em França, um monge, chamado André Thevet, do fumo já fazia uso, dois anos antes, por presumir que os cristãos da América o usassem com o fim de destilar os humores supérfluos do cérebro... 

Contudo, a escandalosa e ambiciosa proteção de Catarina de Médicis pelo fumo celebrizou Nicot, de onde vem, hoje, nicotina. Tal importância dava a rainha ao tabaco que Buchanan lançou epigramas, nos quais dizia não se dever tocar em uma planta, oriunda de nome tão infame, e quando alguém o ouvisse, deveria tapar a boca e fechar os ouvidos...

A pouco e pouco, porém, o fumo foi sendo importado em outros centros europeus. Na Itália, por exemplo, o tabaco viu-se acatado pelo cardeal SainteCroix que o introduziu nos conventos, e nos colégios porque o supunha dotado de qualidades anafrodisíacas e, assim, aumentaria o número dos santos e dos castos!


Outros tantos predicados deram ao fumo os povos da antiguidade e, também, infinitas denominações foram-lhe consagradas. Assim: erva-sagrada, erva-santa, erva do embaixador, erva da rainha, erva de SainteCroix, remédio de todos os males, panacéia antártica, etc., etc.


Foi utilizado em pílulas, poções, pomadas, xaropes, infusões, banhos... Nicot afirma que, em Portugal, ele curou um parente de uma úlcera nasal com poucas aplicações de folhas de tabaco...

Os médicos usavam-no na asma, na escrófula, na hidropisia e no câncer.Hivernius e Fowler, notáveis esculápios, trataram várias dermatoses com folhas ligeiramente aquecidas, de fumo...

As indicações terapêuticas eram muitas e os acidentes, as intoxicações e os envenenamentos – alguns criminosos – eram, por outro lado, frequentes...

Em pouco tempo, então, levantou-se uma cruzada contra o uso do fumo, à frente da qual se viu como patrono o monarca Jacques I, de Inglaterra. Tal foi o seu ódio pelo tabaco que, dentro em pouco, esse famoso rei publicou a Mesocapnea (horror ao fumo) e fez encerrar, na Torre de Londres, a curiosa figura de Raleigh sob pretexto de complot, aprisionando-o e mais tarde decapitando-o no antigo palácio de Westminster. 
Alguns jesuítas protestaram. Escreveram trabalhos inteligentes, em oposição ao rei Jacques I. Aos seus escritos deram os religiosos o nome de anti-mesocapneos.

E a campanha continuou.

O sultão Amaraut IX ordenou cortar a ponta do nariz aos tabaquistas e os lábios aos fumantes. 

Miguel Federowich mandava aplicar 50 chibatadas na sola dos pés dos fumantes. Em seguida colocava um cigarro na boca dos desgraçados e ...enforcava-os!...

Sham Albas, soberano da Pérsia, no final de um jantar oferecido por ele aos cortesãos, deu-lhes cachimbos contendo excremento de cavalo, seco e dessecado! Nenhum dos convivas reclamou... o soberano, colérico, disse então: “Maldita seja a droga que não pode ser distinta das fezes de um animal”. 

“Queres, então, assustar uma folha levada pelo vento,
ou perseguir uma folha ressequida?” Jó 13, 25
Perguntavam os Jesuítas ao Papa Urbano VIII
O papa Urbano VIII [favor conferir o artigo citado abaixo para entender melhor o facto referido ao papa de modo tão difuso nesse texto], através de uma bula, lançada em 1649, excomungou todos aqueles que do tabaco faziam uso. Essa bula mereceu dos Jesuítas uma pergunta satírica: “Perseguir uma fôlha sêca? Levantar armas contra uma coisa que o vento leva?”
Segundo êles, a Igreja não podia condenar o fumo.
O tempo corre. Novos estudos são feitos em torno de tão importante vegetal.

E Bayllard assinala, pela primeira vez, uma quinta-essência, existente no fumo, da qual uma só gota, injetada na pele do corpo seria capaz de matar uma pessoa, na mesma hora. 

Cabe, porém, a Stass, célebre químico belga, a descoberta, verdadeiramente científica, do alcaloide do fumo, no ano de 1850. Daí por diante, a questão do tabagismo tomou outros rumos, passando do empirismo, propriamente dito, ao terreno experimental da ciência. 

Assim, já Gustavo Fougnies, envenenado por seu cunhado, o Conde de Bocarnus, provoca na época celeuma entre pesquisas médico-legais, o que dá motivo a Stass de escrever o mais vigoroso trabalho, talvez, desse gênero, empreendido na ciência do seu século.

Com o notável químico belga, o alcaloide do fumo recebeu o nome de Nicotina, e foi por ele classificado entre os venenos neuro-mióticos.”


FONTE: DA SILVA, Gastão Pereira. Vícios da Imaginação. Meios de Corrigí-los. 5 ed. revista. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952; p. 21-24.


MARIA SEMPRE!


[1] Favor conferir o seguinte artigo: BUESCHER, John B. A Igreja Católica e o Tabagismo. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/idademedia/moral/640-a-igreja-catolica-e-o-tabagismo-uma-revisao-historica>. Traduzido por: Rafael Rodrigues. Desde: 05/05/2014 .