"A virtude da paciência é uma terapia de que o mundo atual precisa muito." |
Por Editores do Blog
Reproduzimos abaixo interessante reflexão do Pe. Francisco Faus, sacerdote integrante da Prelazia da Santa Cruz e do Opus Dei. Espanhol, conviveu com São José Maria Escrivá e vive em São Paulo desde 1961.
É autor de diversas obras sobre piedade cristã, entre elas "A Paciência", do qual foi extraído este trecho, que nos acenam para a confiança e esperança em Deus.
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No mundo em que vivemos, bêbado de acelerações, ultrassônico nas mudanças e doente de impaciências |
Mas, num ambiente em que o egoísmo pensa que “para mim tudo tem que ser antes e ao meu gosto” e o comodismo exige 'tudo rápido, para já e com o menor trabalho possível', a impaciência grassa largamente e faz a festa. E é natural que se mostre, a toda a hora, em forma de cansaço insofrido, unido a uma revolta irritada. Não é estranho que, nesse clima, as impaciências acabem cedo ou tarde por arremessar-se contra Deus.
Tal é o caso, não infreqüente, dos que chegam a duvidar da bondade de Deus e sentem abalar-se-lhes a fé quando julgam que 'Deus não os escuta', pois – segundo pensam – não atende aos seus pedidos nem os livra das suas aflições.
Alguns falam então do 'silêncio de Deus', insinuando – ou afirmando claramente – que Deus não se interessa pelas suas criaturas, mas permanece na olímpica solidão dos céus, alheio às tribulações e anseios dos homens. Um bom número de casos de agnosticismo, ou de ateísmo inconsistente (será que há algum ateísmo que não seja inconsistente?), ou de ceticismo mais ou menos cínico, tomaram pé em alguma decepção. Esperava-se algo de Deus, e não aconteceu. Por essa razão, Fulano deixou de ir à Missa depois da morte do filho, pelo qual tanto tinha rezado; Sicrano perdeu a fé após a quinta tentativa frustrada de entrar na faculdade; e Beltrana bandeou-se para o esoterismo ao perder o último namorado.
Os 'silêncios' e as 'demoras' de Deus põem à prova a nossa paciência. Mas são precisamente essas dificuldades desconcertantes as que nos fazem compreender que uma boa paciência jamais poderá ser erguida sobre uma fé ruim.
O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe, o vosso Pai cuida - Mt 6, 25 |
Uma das primeiras verdades – inesgotável e luminosa verdade! – que Cristo nos revelou foi a da paternidade de Deus: O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe, o vosso Pai cuida (cf. Mt 6, 25 e segs.). Não se vendem dois passarinhos por uma moedinha? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Valeis mais do que muitos pássaros (Mt 10, 20-31).
Deus é um Pai que sempre nos acompanha. E esse Pai está amorosamente ativo, talvez mais do que nunca, quando parece que se cala e não intervém.'Quando nada acontece – diz, com certeira intuição, Guimarães Rosa –, há um milagre que não estamos vendo'[NOTA DE RODAPÉ: Primeiras Estórias, José Olympio, Rio de Janeiro, 1962, pág. 71.].
Quem vive realmente de fé, caminha sereno e confiante na 'mão' de Deus que, como víamos acima, muitas vezes não coincide com a nossa. Ele, que é Bom Pastor de cada um de nós, sabe, e sabe-o muito bem, por onde nos leva e nos traz. Ainda que atravesse as sombras da morte, nada temerei, porque Tu estás comigo (Sl 23, 4). Ele nos dá, ou permite que nos aconteça, aquilo que – embora não o entendamos – mais nos convém, sempre com vistas à nossa verdadeira realização, que é a que floresce e se completa na vida eterna: Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma (Mt 10, 28). Não temas, meu pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 12, 32).
Quem vive de fé, entende muito bem, por isso, o belo conselho do Eclesiástico: Sofre as demoras de Deus. Dedica-te a Deus, espera com paciência [...]. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da tribulação (Ecli 2, 3-5). "
Fonte: FAUS, Francisco. A Paciência. São Paulo: Quadrante, 1998. pg. 55-57.
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MARIA SEMPRE!
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