domingo, 20 de fevereiro de 2011

BÍBLIA: CATÓLICA x PROTESTANTE



“Declaro a todos os que lerem as palavras deste livro (...) se alguém dele retirar qualquer parte, Deus lhe retirará a sua parte da Árvore da Vida e da Cidade Santa.” (Apoc. 22,19).



Por Prof. Pedro M. da Cruz

 
     Muitas vezes os Católicos são surpreendidos por pessoas que atacam, sem dó nem piedade”, sua Igreja duas vezes milenar. Uma das críticas mais correntes é o fato de a Bíblia católica possuir mais livros que a bíblia de uso protestante. Dizem que o catolicismo teria inventado sete livros a mais e, portanto, deturpado a Sagrada Escritura. Vemos aí como é grande a ignorância nos tempos hodiernos.

      Possa a Santíssima Virgem Maria alcançar de Deus toda sorte de bênçãos para nossos leitores, a fim de que se transformem em ardorosos defensores da única Igreja verdadeira.


***


Os Livros Deuterocanônicos do Antigo Testamento

“1 – Há livros cuja INSPIRAÇÃO NUNCA foi seriamente contestada; e que por esse motivo SEMPRE figuraram no CÂNON. Chamam-se PROTOCANÔNICOS.

Outros, cuja inspiração foi posta em DÚVIDA por ALGUMAS igrejas PARTICULARES e cuja aceitação UNIVERSAL, por causa dessas controvérsias, foi mais TARDIA, chamam-se DEUTEROCANÔNICOS.”

Livros DEUTEROCANÔNICOS do Antigo Testamento:

1º - TOBIAS
2º - JUDITE
3º - SABEDORIA
4º - ECLESIÁSTICO
5º - BARUQUE
6° - I   MACABEUS
7° - II MACABEUS
8º - Fragmentos de ESTER
9° - Fragmentos de DANIEL.

“Todos esses livros, os protestantes excluíram de suas bíblias.

Três séculos antes de Cristo, em Alexandria, SETENTA E DOIS SÁBIOS vertiam para o grego a S. Escritura. É a TRADUÇÃO DOS SETENTA, chamada também tradução de alexandria. Essa versão que incluía tanto os protocanônicos como TODOS os deuterocanônicos, sem estabelecer, entre uns e outros, diferença alguma, era USADA por TODOS os judeus de língua GREGA que moravam em Alexandria, Ásia Menor, Grécia, Itália e mesmo em JERUSALÉM nas comunidades judaicas de língua grega.

Os judeus da DIÁSPORA recebiam a direção religiosa dos seus correligionários PALESTINENSES.  Se, pois, eles consideraram os deuterocanônicos como inspirados, chegando até a traduzi-los para o grego, é porque esses livros eram PRIMITIVAMENTE ACEITOS NA PALESTINA.

3 – Essa mesma Bíblia dos SETENTA era usada por Jesus Cristo e pelos Apóstolos, o que significa que os Apóstolos aceitavam a AUTORIDADE dessa versão e, por conseguinte, a ORIGEM DIVINA DOS DEUTEROCANÔNICOS.

É ainda a tradução dos SETENTA que Cristo e os escritores sagrados do Novo Testamento, assim como os demais apóstolos, CITAM do Antigo Testamento. Das 350 citações do Antigo Testamento que encontramos no Novo, 300 (TREZENTAS) são tiradas DIRETAMENTE da BÍBLIA DOS SETENTA. Os Apóstolos, portanto, aceitavam a AUTORIDADE dessa tradução dos SETENTA.

4 - Se a Igreja, pois, aceita esses livros, rejeitados pelos protestantes, é baseada na autoridade dos APÓSTOLOS que também os aceitavam. Esses Apóstolos aos quais Cristo disse: ‘Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos rejeita, a mim me rejeita’, e que no PENTECOSTES receberam o ESPÍRITO SANTO, estavam em condições de saber se essa Sagrada Escritura que usavam ERA OU NÃO INSPIRADA PELO ESPIRITO SANTO, do qual ‘estavam todos cheios’. Se aceitavam os SETE LIVROS, e também os fragmentos de Ester e Daniel, como parte integrante da Bíblia, era bem porque tais livros e fragmentos pertenciam de fato à Sagrada Escritura.

5 – Mais. Todas as bíblias usadas pelos discípulos imediatos dos apóstolos continham também TODOS ESSES LIVROS. E os primeiros cristãos, cuja grande maioria vinha do paganismo ou das comunidades judaicas gregas, e que ignoravam a língua hebraica, USAVAM A MESMA BÍBLIA QUE OS APÓSTOLOS.  Ora, se os Apóstolos não tivessem por INSPIRADOS os livros deuterocanônicos, DEVERIAM AVISAR aos neófitos. O que não fizeram. A conclusão é legítima: OS PRÓPRIOS APÓSTOLOS TINHAM OS DEUTEROCANÔNICOS POR LIVROS DIVINOS.

E tal CRENÇA não podia ser FALSA, pois tratavam-se de livros ‘REGULADORES DA NOSSA FÉ’, para cujo discernimento fundara Cristo a IGREJA e aos Apóstolos dera a INFALIBILIDADE, aqui posta toda em jogo...

Ora, a Igreja Católica, que é também APOSTÓLICA, deve, a exemplo dos apóstolos, aceitar esses livros deuterocanônicos.

A inspiração divina desses mesmos livros é reconhecida também pela Igreja Ortodoxa e pelas igrejas cristãs do Oriente.

6 – A Bíblia dos SETENTA, usada por Jesus Cristo e pelos Apóstolos, bem como pelos discípulos imediatos dos apóstolos e pelos neófitos, era também usada pelos cristãos dos primeiros séculos e pelos sábios: os Stos. Padres e os Escritores eclesiásticos.

Protocanônicos e deuterocanônicos são citados como tendo igual valor (...). Que os cristãos desses recuados tempos estivessem acostumadíssimos com a leitura dos "7 livros", hoje cortados pelas bíblias não católicas, sobejamente provam as pinturas das CATACUMBAS, onde os artistas cristãos representavam cenas tiradas igualmente dos protocanônicos como dos deuterocanônicos (...), enquanto que até o século V não encontramos cena alguma tirada dos APÓCRIFOS.

7 - Somente no século IV notam-se algumas hesitações entre alguns PADRES. A grande maioria deles, porém, e dos escritores eclesiásticos, permanece favorável aos deuterocanônicos. Que a Sta. Igreja sempre os teve TODOS  por inspirados, bastem-nos os seguintes documentos PONTIFÍCIOS da época:”

1) O Concílio Romano - ano 382;

2) O Concílio de Hipona - ano 393;

3) O 3º Concílio de Cartago – ano 397;

4) A Carta de Inocêncio I – ano 405 (Endereçada a Sto. Exupério de Tolosa);

5) O 4º Concílio de Cartago – ano 419;

6) O Decreto de Gelasiano – ano 492.

Por fim, podemos citar: o Concílio florentino ocorrido em 1441, o de Trento em 1546 e, finalmente, os dois últimos concílios ocorridos no Vaticano.

“Todos esses Concílios da Igreja afirmam e definem solenemente a inspiração divina e a canonicidade dos 73 livros...”.

“8 – As hesitações de alguns PADRES contra o ensino tradicional da Igreja, no tocante à nossa questão, têm sua explicação. Uma parte dos judeus da PALESTINA  atribuía aos deuterocanônicos um valor inferior aos protocanônicos; enquanto que os judeus da DIÁSPORA (fora da Palestina), de Alexandria, Antioquia etc. tinham-nos por inspirados. As hesitações dos Padres OCIDENTAIS provêm todas de SÃO JERÔNIMO, que, indo morar na PALESTINA, deixa-se influenciar pelos judeus PALESTINENSES. Essa influência, dado o inconfundível destaque do grande Doutor na Igreja, tem o seu eco no Ocidente...

Não nos esqueçamos, também, de que nas controvérsias com os judeus os Padres alexandrinos não podiam usar os deuterocanônicos, por serem rejeitados por aqueles...
Finalmente a MULTIPLICIDADE DOS APÓCRIFOS  aumentou ainda mais as desconfianças contra os deuterocanônicos.

Conclusão óbvia: Rejeitar os DEUTEROCANÔNICOS é mutilar a Palavra de Deus escrita: a Sta. Bíblia.”

(P.S.: Como se pode perceber o texto é antigo e se ressente das particularidades do autor, porém o conteúdo poderá ajudar a muitos.)

Referência bibliográfica:

STRABELLI, Pedro. A Santa Bíblia ante as mil seitas protestantes. São Paulo: Esclarecimentos aos Católicos, 1958. 177 pg.