domingo, 10 de outubro de 2010

AS MUITAS TRIBULAÇÕES



Por Prof. Pedro M. da Cruz

“Tudo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiag. 4,4)
“O que produz só espinhos e abrolhos será abandonado” (Hebr.6,8)
“Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo. 16,33)


    Como ser um homem de Deus num mundo tão adverso?! Por exemplo, a quase totalidade das músicas que somos obrigados a escutar convida-nos à superficialidade; para não citarmos aquelas que arrastam-nos à impureza mais declarada. As vestes sociais[1], o trato e a conversação têm chegado a tal grau de degradação moral que a recordação dos tempos em que ainda reinava o pudor, a modéstia e a urbanidade chegam até a parecer coisa de “Contos de fadas”. O mundo ousa revoltar-se contra Deus! Cristo, Nosso Senhor, é tratado por muitos qual rei desprezado; nega-se-lhe toda a autoridade. Vejam a que cúmulo de absurdos chegou os tempos atuais!

    Perde-se gradativamente a consciência do mal. Julga-se como mera fantasia a existência do pecado. Os olhos dos homens voltaram-se para os interesses mais egoístas; esqueceram-se os mandamentos do Senhor; muitos passaram a viver como “inimigos da cruz de Cristo.”[2] Basta atentarmos um pouco, e veremos com assombro o desfile carnavalesco das obras da carne[3]; de fato, a fornicação, a impureza, a libertinagem, a superstição, a inimizade, as brigas, o ódio, a discórdia, as bebedeiras... Tudo isso, e muito mais, apresenta-se a nós como uma suposta realidade natural que deve imperar neste mundo. Assim, o catolicismo mais parece uma ilusão; a moral, uma quimera; a santidade, um sonho impossível... E, todos os que buscam a Cristo, um bando de loucos, neuróticos e insatisfeitos; pessoas incapazes de enfrentar a existência, e que - segundo alguns - se esconderam atrás de uma falsa aparência de piedade por medo de encarar a própria vida e de assumir a realidade.

    Aquele que não se fortalecer em Deus não suportará as provações do tempo presente. Aquele que não se fizer escravo de Cristo, [4] inevitavelmente, tornar-se-á escravo de si mesmo, para, logo depois, tornar-se escravo do mundo, e, por fim, escravo dos demônios. Nega, pois, a ti mesmo![5] Achega-te ao único que pode salvar o ser humano! E, guarda teu coração de todo erro, pois, é dele que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, as calúnias[6]... Deste modo, poder-se-á dizer de ti aquilo que, da parte do Cristo, coube à amada dos Cânticos: “És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente lacrada, uma fonte selada... Entro no meu jardim.”[7]
Para galgar tal grau de heroicidade em opor-se ao mundo e converter-se constantemente a Deus, que caminho prático devemos trilhar? O que fazer objetivamente a fim de alcançar a fortaleza necessária para bem viver? Tudo isso pode nos parecer muito distante ou mesmo irrealizável; mas, não é! O Pai Celestial jamais nos pediria o impossível. Ele sabe de nossas forças, conhece a capacidade de cada um, e nunca abandonaria seus filhos nas agruras desta vida.

    O caminho é esforçar-se por manter a vida sobrenatural, própria dos filhos de Deus! Ser partícipe da natureza divina! Para isso, cumpre fugir do pecado mortal, assim como, de todo o venial. Porém, muitos poderão estar objetando: “Mas, é exatamente este ponto que me é impossível realizar; tenho buscado sempre este objetivo sem jamais conseguir alcansa-lo!” Ora, é à medida que nos esforçamos nesta gloriosa aventura cristã, que mais somos fortalecidos na Vida Espiritual. E, esforçar-se por ser fiel aqui, é abraçar os sacramentos, assim como, a prática cotidiana da oração pessoal, além da devoção à Virgem Maria. Como vemos, viver em uma luta ferrenha e perseverante contra todo o pecado, tendo como guia de nossa alma um verdadeiro amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, já é por si só, meio eficaz para nos fortalecermos na busca daquilo que desejamos.

    Portanto, esforça-te! Novamente! Mil vezes se necessário for. Aquele que ama verdadeiramente a Cristo, fará o que dizemos! Quantos santos também cambalearam pelo caminho... Agora, porém, gozam eternamente na presença de Deus. Ergueram-se de suas quedas! Levantaram a cabeça! Prosseguiram decididamente. Os que buscam as glórias do mundo sabem dar tanto de si pelo que fazem... E nós, que almejamos a eternidade, que fazemos por Cristo? Napoleão, Alexandre Magno, Júlio César, e tantos outros, consumiam-se por seus desejos efêmeros. Roberto Accioli, em biografia sobre esse último personagem, chegara a declarar: “Vencendo os bárbaros e seus próprios concidadãos como nenhum outro, e, somente igual a si mesmo, vencera-se a si próprio.”[8] Que magnífico se o mesmo pudesse ser dito de nós pela posteridade...

    Faça a experiência! Comungue do Santíssimo Sacramento; viva à sombra mística do confessionário; entrega-te à prática cotidiana da oração pessoal; tudo isso, claro, sob o manto virginal da Mãe de Deus, e verás, com toda certeza, que um milagre vai acontecer! Se não estivermos unidos à Cristo pela Graça Santificante, seremos qual ramo cortado e infrutífero. Nossa vida será mera fachada, hipócrita e mentirosa. Sem Deus, nada podemos fazer!

    Por fim, concluamos: perante um mundo tão revoltoso cabe a nós o heroísmo. Aos que caíram, repito: levantem-se! Aos mortos: que ressuscitem! Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. Que nosso canto de guerra seja: Misericórdia, misericórdia e misericórdia; de Deus para com nossa fraqueza, e de nós para com nossos irmãos, assim como, de nós para conosco também. E que a Virgem puríssima alcanse-nos a graça de uma luminosa radicalidade moral, como também, de uma santa intransigência doutrinal, tão própria de seus escravos. Nossa Senhora de Guadalupe, ora pro nobis! 

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[1] Sobre este ponto já nos falava a Beata Jacinta, Vidente de Fátima: “Hão de vir modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor.” E , “As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo.” Conf. MACHADO, Antônio A. Borelli. As aparições e a mensagem de Fátima, conforme os manuscritos da Irmã Lúcia. São Paulo: Artpress, 1996. Pg. 66
[2] Filip. 3, 18
[3] Gal. 5, 19-21
[4] I Cor. 7, 22
[5] Luc. 9, 23
[6] Mat. 15, 19
[7] Cant. 4, 12; 5, 1
[8] ACCIOLI, Roberto. César e a Revolução Romana. Coleção “Vidas Célebres”. Rio de Janeiro: Forense-universitária, 1987. Pag. 133

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