Cruz erguida em Ypres, Bélgica, em homenagem a Trégua da Natividade |
Postado por João S. de O. Jr.
A data de hoje em que comemoramos o nascimento do Menino Deus marca 100 anos de um dos fatos mais inusitados, considerado um Milagre na história contemporânea, a Trégua da Natividade ocorrida no Natal de 1914 [1].
Em meio às trincheiras da Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), ao redor da cidade belga de Ypres, alemães, franceses e britânicos, espontaneamente (sem ordem prévia de seus comandantes), baixaram as armas e se confraternizaram na manhã do dia 25 frente ao caos (mortes e destruição) do campo de batalha nas famosas e extensas trincheiras. Local esse chamado também de “terra de ninguém”, numa guerra que ao seu final deixara 16 milhões de mortos e 20 milhões de feridos.
A Primeira Guerra Mundial ficou conhecida por "guerra das trincheiras" |
O fato começou sob o som de cantos natalinos que soldados alemães entoavam à noite e passaram a ser acompanhados pelas tropas adversárias, britânicas e francesas. Há relatos de que estes viam velas e enfeites de Natal nos lados adversários. Em seguida, sob a tensão da guerra mas movidos pelo espírito natalino, lentamente e sob gritos de trégua, levantaram-se das trincheiras e se encontraram. Houve cumprimentos e felicitações natalinas, troca de presentes (fumo, álcool, chocolates, cigarros, botões, fotografias...), tiraram fotos e até jogaram partidas de futebol.
Notícia da Trégua em trecho de jornal no Brasil |
Trincheira de soldados alemães |
Trincheira de soldados franceses |
Soldados alemães do 134 Regimento da Saxônia e os soldados britânicos do Real Warwickshire Regiment reunidos em 26/12/1914. |
Na oportunidade da trégua, o capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas, com ambos os lados ajudando a enterrar mutuamente seus mortos. Adams abriu a cerimônia com o Salmo 23: “O senhor é meu pastor e nada me faltará...” acompanhado por um ex-seminarista alemão que repetia em seu idioma. Ao final, soldados dos dois lados rezavam a oração do Pai-Nosso.
Sem armas, soldados franceses e alemães posam juntos para foto. |
A trégua informal propagou-se para outras áreas e em muitos lugares durou até janeiro do ano seguinte. Perceberam que havia mais semelhanças do que as diferenças impostas pela guerra. O ocorrido fora amplamente documentado em diários dos soldados, repercutindo em diversos noticiários da época, mesmo com os comandos superiores da guerra censurando a divulgação do mesmo.
Britânicos e alemães jogando futebol na Trégua da Natividade |
Nos anos seguintes do terrível conflito que terminou em 1918, houve ainda registros de trégua, com menor proporção. Uma vez que, os comandantes do auto escalão, temendo que os atos do Natal de 1914 se repetissem, ordenaram reforçar a artilharia antes da data natalina.
Jornal Inglês da época |
O que temos a meditar diante desse fato histórico?
O homem ao virar as costas para o seu Criador provoca a morte de si mesmo e de seus semelhantes. Revoluções e guerras são como conseqüência do pecado e da falta de conversão, como lembrou a Virgem Santíssima nas aparições em Fátima (1917). Contudo, a Esperança, a Fé e a Caridade trazidas por Cristo, ainda fumega como brasa no coração da humanidade. Tal fato milagroso ocorrido em 1914, numa sangrenta guerra que foi parte de um terrível processo revolucionário [2], só poderia acontecer pelo espírito natalino, no mistério do nascimento do Salvador. Os soldados de lados inimigos entre si tinham muito mais em comum do que o desejo de voltarem para casa e encontrarem seus familiares. Pois, ainda que por um dia, o amor a Cristo, ao Menino Deus que veio nos salvar, os uniu.
O que a Revolução destruiu, só a Cristandade pode restaurar.
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MARIA SEMPRE!
Referências:
[1] O Milagre do Natal de 1914, disp. em http://tokdehistoria.com.br/tag/tregua-no-natal-de-1914/
[2] Aos Cem Anos da Grande Guerra, disp. em http://ipco.org.br/ipco/noticias/aos-cem-anos-da-grande-guerra#.VJq-GsCo
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