"(...) quando subiu ao alto do Calvário, estava praticamente despojado das Suas vestes. Ele poderia ter salvo o mundo sem ter revestido os atavios de um mundo transitório. A Sua túnica pertencia ao tempo, e localizava, fixava Jesus como um habitante da Galiléia.
Agora, porém, despojado das Suas vestes e completamente desapossado das coisas terrenas, Ele não pertencia à Galiléia, nem a qualquer província romana, mas sim ao mundo. Jesus transformara-Se no pobre homem universal, que não pertencia a qualquer povo, mas sim a todos os povos. Para exprimir com maior amplitude a universalidade da Redenção, a cruz foi erguida nas encruzilhadas da civilização, num ponto central, entre três grandes culturas – Jerusalém, Roma e Atenas, em nome das quais Ele fora crucificado. A cruz foi, assim, erguida perante os olhos dos homens para chamar a atenção do negligente, fazer apelo ao desleixado, e despertar as consciências adormecidas.
Foi o único fato irrefutável ao quais as culturas e civilizações do Seu tempo não puderam resistir, e é também nos nossos tempos o único fato irrefutável que não podemos deixar de aceitar.
Os personagens que tomaram parte do drama da cruz foram os símbolos de todos aqueles que crucificaram.
Nós estivemos lá, nas pessoas dos nossos representantes.
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Enquanto o pecado existir no mundo, a crucifixão é uma realidade. Assim o comentou o poeta:
“Eu vi passar o Filho de Deus.
Coroado de espinhos...
E perguntei: Pois não está tudo consumado?
Senhor, as amarguras não estão esgotadas?
Jesus volveu para mim um olhar terrível
E disse-me: Pois não compreendeste?
Toda a minha alma é um calvário,
Todo o pecado é uma cruz.”
Nós tivemos lá durante a crucifixão. O drama estava já completo, em tudo quanto dizia respeito a Cristo, mas não estava ainda patenteado, em relação a todos os homens, a todos os lugares e a todos os tempos.
Se a bobina em volta da qual está enrolado o filme tivesse consciência própria, ela conheceria o argumento de um drama, do princípio até ao fim, ao passo que o espetáculo não poderia, de fato, conhecê-lo, senão depois de ver completamente reproduzido na tela. Da mesma maneira, Nosso Senhor, pregado na Cruz, viu a Sua eterna vontade, todo o drama da história, a história de cada alma e a hora em que cada uma delas reagiria perante a Sua crucifixão; embora, porém, Ele visse tudo, nós não poderíamos saber como reagiríamos perante a Cruz, antes que as nossas vidas tivessem sido projetadas sobre a tela do tempo.
Nós não tínhamos a consciência de havermos estado presentes no Calvário, naquele dia, mas Jesus tinha a consciência da nossa presença. Hoje, todavia, sabemos qual o papel que desempenhamos no cenário do Calvário, pela maneira como vivemos e agimos no cenário do Século Vinte.
E é nisto que reside a atualidade do Calvário, a razão pela qual a cruz é a crise, e o motivo pelo qual, de certa maneira, as chagas ainda estão abertas, a dor divinizada, e as gotas de sangue, à maneira de estrelas, caem ainda sobre as nossas almas.
Não é possível fugirmos à cruz, a não ser que façamos o que fizeram os Fariseus ou vendendo Cristo, como o fez Judas, ou crucificando-O, tal como fizeram os seus carrascos. Todos nós vemos a Cruz, quer para abraçá-la, para nos salvarmos, quer fugindo dela, para nos perdermos.
Como é, porém, que a cruz se torne visível?
Como se perpetuou e renovou o cenário do Calvário?
No Santo Sacrifício da Missa, porque, quer no Calvário, quer durante o Santo Sacrifício, o Sacerdote e a Vítima são os mesmos. As sete palavras derradeiras são idênticas às sete partes da Missa. Assim como as sete notas musicais comportam uma infinita variedade de harmonias e combinações, também na Cruz há sete notas divinas que o Cristo moribundo fez soar através dos séculos e que, no seu conjunto, constituem a sublime melodia da Redenção do mundo.
Cada palavra é uma parte da Missa.

A Sua Missa vai começar. "
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