Santa Maria Madalena - representação no filme "A Paixão de Cristo (2004)" |
A incapacidade de deixar de sentir o
ressentimento, no nível emocional, pode ser, efetivamente, insuperável, ao
menos em curto prazo. No entanto, se se
compreende que o perdão está situado num nível diferente do ressentimento, isto
é, no nível da vontade, descobrir-se-á o caminho que leva à solução.
O empregado que foi despedido injustamente
da empresa, o cônjuge que sofreu a infidelidade do seu consorte, os pais a quem
seqüestraram um filho podem decidir perdoar – apesar do sentimento adverso que
experimentam necessariamente. Porque o perdão é um ato volitivo e não um ato
emocional. Entender esta diferença, entre sentir uma emoção e tomar uma decisão
já é um passo importante para esclarecer o problema.
Muitas vezes na vida devemos agir no
sentido inverso ao daquele que os nossos sentimentos nos marcam, e de fato o
fazemos porque a nossa vontade se sobrepõe às nossas emoções (1). Por exemplo,
quando sentimos desânimo por algum fracasso que tivemos na realização de uma
tarefa e, ao invés de abandoná-la, nos sobrepomos e continuamos em frente até
concluí-la; quando alguém implicou conosco e sentimos o impulso de agredi-lo,
mas decidimos controlar-nos e ser pacientes; quando em certo momento do dia
temos um acesso de preguiça e, no entanto, optamos por trabalhar. Em todos
estes casos, manifesta-se a capacidade da vontade para dominar os sentimentos.
O mesmo se passa quando perdoamos, apesar de emocionalmente nos sentirmos
inclinados a não o fazer.
O
perdão é um ato da vontade porque consiste em uma decisão. Qual é o conteúdo
desta decisão? O que é que decido quando perdôo? Quando perdôo, opto por cancelar a dívida moral que o outro contraiu
comigo ao ofender-me e, portanto, liberto-o enquanto devedor.
Não se trata, evidentemente, de suprimir a
ofensa cometida, de eliminá-la e fazer que nunca tenha existido, porque não
temos esse poder. Só Deus pode apagar a ação ofensiva e conseguir que o ofensor
volte à situação em que se encontrava antes de cometê-la. Mas nós, quando
perdoamos realmente, desejaríamos que o outro ficasse completamente eximido da
má ação que cometeu. Por isso, “perdoar
implica pedir a Deus que perdoe, pois só assim a ofensa é aniquilada” (2). [...]
***
MARIA SEMPRE!
Notas:
(1) “A vontade, que pode mover o entendimento no seu
exercício, pode mover também despoticamente outras potências, especialmente as
motrizes: pode dar ordens aos braços e às pernas, comandar a direção do olhar,
o movimento da língua, as operações das mãos... Mas não lhe foi dado mover
dessa maneira os apetites, sentimentos ou moções sensíveis, os quais gozam de
uma certa autonomia. Cabe à vontade, com a ajuda do entendimento, exercer um
governo político, persuasivo ou de convencimento sobre as tendências sensíveis
do ser humano e a isso tem de circunscrever-se: quando não as pode orientar
para o bem, deve transcendê-las, passar por cima delas” (Carlos Llano, Formación de la inteligencia, la voluntad e el carácter, Trillas,México,1983. pág. 142).
(2) Leonardo Polo, Quién
es el hombre?, Rialp, Madrid, 1983, pág. 140.
Livro: Do Ressentimento ao Perdão
Autor: Francisco Ugarte - Tradução de Roberto Vidal da Silva MartinsEditora: Quadrante
Páginas: 36-38
Livro: Do Ressentimento ao Perdão
Autor: Francisco Ugarte - Tradução de Roberto Vidal da Silva MartinsEditora: Quadrante
Páginas: 36-38
Um comentário:
Excelente artigo. Contudo gostaria de consultar as referências principalmente a de Carlos Llano. Procurei esse livro e não encontrei. Por favor, queira me responder no endereço:
franc.usf2@gmail.com.
Obrigado
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