terça-feira, 6 de agosto de 2013

ESCRAVIDÃO A NOSSA SENHORA-Parte 2



Prof. Pedro Maria da Cruz


“Escravo de Cristo, sim! Mas, de Maria?”


“Livre em relação a todos eu me fiz escravo de todos.” (I Cor. 9,19)

Passemos, entretanto, ao cerne de nossa reflexão: Vimos que é correto tomar a palavra “escravidão” em sentido positivo. Porém, e a expressão “Escravidão a Maria” não seria um exagero? 

Antes de tudo, citemos uma realidade incontestável: se for de fato possível essa escravidão, que boa senhora teremos... 

No entanto, sejamos “Bíblicos”, como pedem alguns:

Disse Jesus: “Se alguém dentre vós quer ser o primeiro, eu vos digo, que seja o escravo de todos.” (Mc. 10,44). Ora, “todos” significa “todos”; portanto, incluamos também aqui Maria Santíssima. Poderão retorquir: “Mas Nosso Senhor falava ao grupo dos apóstolos!” Ao que responderemos: não é verdade que as palavras de Cristo se aplicam de algum modo à generalidade dos homens, e exatamente por isso foram escritas? Ademais, está dito que toda Escritura é útil para ensinar (II Tm. 3,16). Deste modo, devo ser escravo de todos, inclusive da Virgem. Quem condenará então a expressão “Escravo de Maria”?

Além do mais, em outra parte está escrito: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós.” (Jo. 17,21). Entendemos bem o que foi lido? Cristo pede ao Pai (e com certeza é atendido), para que todos nós estejamos Neles da mesma forma como Ele e o Pai estão presentes um no outro; ou seja, tendo posse em comum de tudo que lhes pertence. A conseqüência é lógica: Se estamos em Cristo e somos um com Ele, então todos os escravos de Cristo são nossos escravos, e todo o amor que Cristo dedica a eles também nós (Senhores e Escravos) o dedicaremos. Porém, sabemos muito bem que o grau de unidade com o Senhor depende do grau de nossa identificação voluntária com Ele, caso contrário Deus ofenderia a liberdade por Ele mesmo criada em nós. 

Ora, quem mais se identificou com Deus que Nossa Senhora, a cheia de graça e bendita entre todas as mulheres? (Lc.1,28.42). Alguém ousaria supor que a Mãe de Cristo, a quem todas as gerações chamarão bem aventurada (Lc.1,48), não tenha se tornado um com Ele? Caríssimo leitor, uma vez que Maria tornou-se “um” com Ele, então todos os escravos de Cristo são também escravos de Maria, e num sentido mais profundo pela unidade excepcional que a Mãe bendita tem com o Filho de Deus. Deste modo, os que se dizem “Escravos de Cristo” terão que dizer-se também, sem medo e com júbilo, “Escravos de Maria”.

Por não podermos nos alongar demais no curto espaço desse artigo, paremos nessa argumentação. Estamos cientes de que sendo “um” com o Redentor participamos de tudo o que lhe pertence, inclusive de sua divindade (II Pd. 1,4). Estimados leitores, se participamos da própria divindade do Filho de Deus, por que não participaríamos de seu senhorio de amor sobre as almas? Que Deus nos ensine a mística alegria da Escravidão.

“Mas, Maria está morta!”

“Deus não é Deus dos mortos, mas de vivos; são todos vivos para ele.” (Mt. 20,38)

Aos que fazem esse tipo de afirmação (de que Maria esteja morta¹ e, portanto, impossibilitada de agir em relação ao mundo) perguntamos: mas, os que partem desta vida não estão com Cristo? (Fil. 1,23). E, de tal modo estão vivos que podem, inclusive, clamar a Deus (Apo. 6,9-11). Quem não se recordaria do diálogo entre Jesus e o falecido Moisés na transfiguração? (Mt.17,3). Já nos esquecemos das preocupações do rico após sua morte? (Lc.16,19-31) “Mas essa era apenas uma parábola!” Comentará alguém. Sim, reconhecemos. O que não invalida a mensagem que estamos passando. Afinal, Nosso Senhor jamais se utilizaria de um erro para anunciar a verdade.

Infelizmente, muitos se encontram com visões equivocadas sobre textos do Antigo Testamento; como aquele de Eclesiastes que afirma: “Os mortos não sabem coisa alguma. Pra eles já não há mais recompensa.” Recordemos, no entanto, do que afirmara o Novo Testamento: “Até aos mortos foi anunciada a boa nova”. (I Pd. 4,6). Sim, o apóstolo Pedro afirmara com clareza que Jesus Cristo fora pregar o Evangelho inclusive aos espíritos desencarnados (I Pd. 3,19). Como alguém poderia então continuar pensando que os mortos não sabem de nada? Se não sabiam no Antigo Testamento, agora já o sabem. O Eclesiastes cumpriu sua função pedagógica...

O fato é: mesmo depois que Nossa Senhora foi habitar com Cristo no céu ela continua viva, “vivíssima!”, clamando a Deus; e, à medida que seu Criador o permita (pois, é “um” com Ele), ela age em favor daqueles que ainda peregrinam nesta terra, os seus escravos - porque escravos de Cristo.

Finalmente, alguém ousaria imaginar que a Mãe de Jesus Cristo tenha sido condenada ao inferno? Impossível, pois todas as gerações a deverão chamar Bem Aventurada (Lc 1,48), e Deus jamais ordenaria tratar assim alguém que se tenha desgraçado na eternidade do inferno. 

Alegremo-nos! Maria Santíssima vive no céu - como todos os eleitos já falecidos - e podemos ser seus escravos. Afinal, como já vimos, assim nos permite as palavras do próprio Cristo. Deste modo, estaremos inclusive imitando ao Senhor que assumira a condição de escravo (Fil.2,7). Não é verdade que devemos imitá-lo?

E não pensemos que na escravidão a Maria reine o medo, porque se me faço escravo por amor (e só dessa forma se deve fazer-se escravo) então, já não há mais temor em mim. O perfeito amor lança fora essa imperfeição (I Jo. 4,18).

Caríssimos, a escravidão a Nossa Senhora torna-se uma conseqüência lógica de todo aquele que se lhe submete amorosamente. Afinal, como dissera São Pedro, se é escravo “daquilo pelo qual se é dominado” (II Pd. 2,19). Abandonamos a escravidão do pecado (Rm. 6,6) e nos oferecemos a Maria Santíssima para lhe obedecer, tornando-nos assim, por conseqüência escravos daquela a quem obedecemos (Rm. 6,16).

Virgem de Guadalupe, rogai por nós! 

Maria Sempre! 

[1] Não trataremos aqui sobre a passagem de Nossa Senhora desta vida para o céu, mas somente de modo geral e sem maiores detalhes sobre a possibilidade de ela, estando entre os mortos, poder ou não agir em relação aos da terra.

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