Há meses o mundo está sendo abalado por relatos de casos de abusos sexuais, inclusive na Igreja Católica. São atingidas crianças, a respeito das quais Cristo diz: "Quem provocar a queda de um só destes pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar" (Mt 18,6).
A situação é muito séria. Os ataques ao Papa e à Igreja saíram totalmente de controle. Com este artigo especial a AIS se posiciona sobre esse assunto.
A cusparada atingiu o jovem padre de cheio no rosto. Transbordando ódio, o turista desconhecido lhe gritou: “Pedófilo asqueroso!”. Silêncio. Os outros visitantes da Acrópole de Atenas olham distraidamente para a perfeita fileira de colunas de mármore. Ninguém faz nada, enquanto o jovem padre, cabisbaixo, limpa o rosto. Por esses dias se escutam muitas histórias desse tipo. Ao descer de um trem, um padre que há quarenta anos serve abnegadamente o Evangelho é alvo das mesmas palavras de insulto. Uma casa de religiosas recebe telefonemas anônimos ofensivos...
Uma histeria coletiva se espalha, insuflada pelos poderosos da Televisão e pelos intocáveis papas de um jornalismo pseudointelectual. É lógico que algumas reações espontâneas sejam compreensíveis. De consequência, um sofrimento incrível. A vergonha se manifesta. Os abusos, o silêncio culposo, os erros estúpidos, o covarde desvio de atenção - tudo isso são fatos reais e muito graves. Jesus Cristo terá de lavar o rosto de sua Igreja. Todos nós teremos de redescobrir a audácia de Deus ao confiar a homens tão fracos um dom tão grande como é o sacerdócio.
Essa hora triste exige que todos nós saibamos redescobrir o valor da reparação solidária e façamos penitência por aqueles 0,1 por cento de padres que comprovadamente cometeram esses crimes tão deploráveis. Mas também deveríamos agradecer de joelhos por todos aqueles que mantêm com fidelidade sua consagração e missão. Eles são mais de 400.000 espalhados pelo mundo todo.
A indústria superficial do entretenimento, a frivolidade tornada sistemática que domina praticamente todo o público, criaram um ambiente geral de ingenuidade simplista, de superficialidade e de escasso senso crítico e reflexão. Existe uma multidão amorfa só à espera da nova manchete sobre namoricos e brigas de políticos, de atores ou de cantores da moda. Vazio espiritual. Nesse vácuo se empurra uma imagem estereotipada do sacerdote; cospe-se no seu celibato; sua doação a Deus é entregue ao escárnio. Os resultados de pesquisas muito sérias são ignorados ou distorcidos. Ninguém dá atenção para os especialistas quando comprovam que não existe nenhuma relação entre o celibato dos padres católicos e a tremenda profanação representada por qualquer abuso quando cometido por ministros consagrados.
Basta! É imoral continuar torcendo os fatos dessa forma. Estamos saturados dessa farsa, desse duplo abuso: um problema que é inegável está sendo usado para solapar com más intenções a legítima autoridade moral da Igreja, dessa Igreja de Pedro e de Paulo, dessa Igreja de João Paulo II e de Bento XVI.
Nós vivemos num mundo pelo avesso. Num arranha-céu em Nova York, um jornal dita à sociedade o que ela deve pensar e em que deve acreditar. Ele põe em circulação afirmações sem fundamento. Depois, não aceita as contestações baseadas em fatos contundentes e em investigações sérias dos mais renomados especialistas. A campanha pré-fabricada a sangue frio tem de continuar. Não é a verdade o que importa. O que vale é a tenebrosa intenção de silenciar a voz da Igreja Católica, que se faz escutar no mundo inteiro. Porque a Igreja é uma das poucas instituições que se atrevem a enfrentar a ditadura do relativismo do nosso tempo. Isso a torna incômoda. É por isso que querem eliminá-la.
Nessa situação, ninguém tem o direito de desviar o olhar, como fizeram aqueles turistas da Acrópole. Todos são chamados a serem ativos. A resposta começa no coração e na consciência de cada um. Penitência e oração são as primeiras coisas. Também é importante conversar à mesa no círculo familiar, esclarecer as idéias entre os colegas de trabalho ou de escola. É questão de seriedade na fé.
Trinta e dois anos atrás tive a ocasião de conhecer pessoalmente Bento XVI - um dom de Deus. Há pouco tempo me encontrei novamente com ele para uma conversa intensa de meia hora sobre questões da Nova Evangelização. O Papa analisava as situações com clareza total. Sempre chegava ao âmago das coisas. A cada momento ele irradiava benevolência e alegria. Esse sacerdote extraordinário, talvez a pessoa mais culta do nosso tempo, sempre aderiu com fidelidade inquebrantável à doutrina de Cristo e à sua aplicação coerente na vida real. Sem medo. Pelo contrário. Com razão o arcebispo de Viena, o Cardeal Christoph Schönborn, e o arcebispo Nichols de Westminster na Inglaterra, chamaram a atenção justamente nesses dias para esse fato, que pode ser facilmente comprovado inclusive pela mídia: já há muitos anos Joseph Ratzinger foi aquele que mais trabalhou para extirpar o câncer criminoso do abuso sexual. É ele que nos ensina que não se defende a boa fama da Igreja acobertando piedosamente os fatos, ou brandindo uma retórica feita de meias verdades. Só a plena verdade nos possibilitará sair dessa noite da vergonha para a luz do sol de um novo começo.
Na sua recente "Carta aos católicos da Irlanda", Bento XVI nos propôs toda uma série de providências imediatas muito precisas. Todos deveríamos aprender com essa crise.
A primeira medida: a preocupação com as vítimas, com o máximo respeito e delicada eficiência. Trata-se de reparar o máximo possível os danos e aliviar as profundas chagas abertas. Depois: orientar a seleção das vocações ao sacerdócio por critérios ainda mais rigorosos, para excluir esses casos o máximo possível. (Isso implica também a colaboração de profissionais apropriados. E para isso a Ajuda à Igreja que Sofre gostaria também de oferecer ajuda aos Bispos.) Nesse contexto é necessário continuar desenvolvendo uma pedagogia especial na questão da afetividade dos futuros sacerdotes. Também os padres que já atuam na pastoral devem ser acompanhados de maneira mais intensa para que possam irradiar uma santidade ainda maior em sua vida e para que, crescendo ainda mais a sua paternidade na fé, possam doar um afeto sólido e maduro.
Um psiquiatra de renome internacional, Manfred Lütz, vê a sociedade diante de um transbordamento emocional, numa espécie de crise de puberdade da cultura pós-moderna. Não poucas das acusações infundadas seriam ataques irracionais, como de adolescentes, contra a Igreja. Elas seriam desfechadas porque a Igreja é uma instituição grande, que defende princípios não negociáveis. No fundo, diz Lütz, pretende-se destruir a imagem do pai na sociedade. Por isso se rejeita o Papa e se ataca injustamente a autoridade moral dos padres. E nós poderíamos acrescentar: em última análise trata-se de um ataque à mensagem central do Evangelho proclamado por Jesus: Deus é o "Pai nosso", cheio de justiça e de compaixão.
Antes de crucificarem Cristo, eles bateram e cuspiram nele. Após a Sexta-feira Santa veio a Páscoa. Mas o rosto de Jesus continua chorando na sua Igreja. A Ajuda à Igreja que Sofre permanecerá sempre como um instrumento a serviço do Bispo de Roma, para proteger os cristãos perseguidos e para auxiliar os anunciadores do Evangelho. Nesse momento histórico o ponto mais nevrálgico da Igreja é o futuro do sacerdócio... Talvez o sacerdote que hoje está mais em necessidade se chame Bento XVI. Não o deixemos sozinho. E vocês, não nos deixem sozinhos quando procuramos juntos ajudar o Papa. Sejam muito generosos. Obrigado.
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Fundada em 1947 pelo Padre Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, a Associação Internacional Ajuda à Igreja que Sofre é uma Organização Pública de Direito Pontifício, tendo por missão apoiar projetos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades.
No início, o trabalho da Ajuda à Igreja que Sofre consistia apenas em auxiliar os refugiados da Alemanha do Leste que fugiam da ocupação comunista, mas rapidamente se espalhou pelos campos de refugiados da Europa e da Ásia, pelas Repúblicas Populares comunistas, pela América Latina e pela África.
Hoje, os desafios são muitos: auxiliar padres, religiosas e leigos na pastoral em regiões mais carentes, motorização e transporte para atendimento às comunidades, catequizar crianças pobres, apoiar seminaristas das dioceses mais necessitadas, além de construir e reconstruir igrejas, capelas e centros pastorais em lugares afetados por catástrofes, guerras e miséria.
A AIS recebe apelos urgentes de comunidades carentes que não têm mais a quem apelar: são mais de 10.000 pedidos de apoio por ano no mundo, mas só podemos atender cerca de 6.000, dos quais mais de 600 somente no nosso Brasil.
Associação Brasileira Ajuda à Igreja que Sofre
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