sábado, 2 de dezembro de 2017

CORTESIA

Por Dom Fulton Sheen

O que aconteceu com a polidez? Como são poucas as crianças treinadas para, por exemplo, apertarem a mão de uma pessoa a quem são apresentadas?! As mães dizem: “Jimmy, estenda a mão!”. O namoro é muito mais cortês do que o matrimônio. Como disse um marido a sua esposa, que havida pedido a ele para lhe passar o jornal da noite: “A caça acabou. Ganhei o jogo”. Quando se está em uma autoestrada, o automóvel é quase um escudo contra os costumes. Fechada numa cela de metal e dirigindo em alta velocidade, a pessoa permanece sempre anônima para o outro, ou para quem buzina com raiva ou lança um olhar de reprovação.


a cortesia de um homem deve ser perene.

Quais são as causas dessa falta de delicadeza e de refinamento com os outros na sociedade moderna? Provavelmente, uma das razões é que vivemos em uma era tecnológica na qual somos separados uns dos outros por funções. As pessoas se tornam como canetas-tinteiro com as quais as empresas escrevem; não faz muita diferença se a tinta é preta, vermelha, verde ou amarela. O senso de singularidade da pessoa, seu caráter insubstituível, o fato de portar valores eternos – tudo isso se perdeu. Se “A” não aperta o botão, sempre haverá um “B” que talvez seja um apertador de botões muito mais competente.

É inútil analisar causas. É muito mais importante mostrar como restaurar a cortesia na sociedade. Quando falamos em cortesia, não queremos dizer a mesma coisa que Emerson quando escreveu: “A [boa] conduta tem sido definida, um tanto cinicamente, como um instrumento dos homens sábios para manter os idiotas afastados”. Mas evidentemente Emerson não compartilhava esse ponto de vista, pois ele afirmou: “A vida é curta, mas sempre há tempo para a cortesia”.


É preciso se habituar na gentileza desde os pequenos gestos.
Deve-se também desconsiderar uma cortesia fingida ou hipócrita, sobre a qual Shakespeare disse: “Como sabe soprar essa tirania nas feridas que ela mesma produz!”

O maior tratado sobre a cortesia já escrito foi uma carta ao povo de Corinto na qual, entre outras coisas, o homem de Tarso escreveu: “Não busca os próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá”.

Essa ideia foi desenvolvida por Newman em sua obra Idea of a university Defined. Às qualidades da cortesia mencionadas acima, Newman acrescentou que “um cavalheiro ou um homem cortês é um homem que nunca se irrita”.


A vida é curta mas sempre há espaço para a cortesia.
A cortesia manifesta-se nas coisas triviais da vida, não em uma grande doação ou em um grande espetáculo. Assim como uma mulher preferiria receber mil pequenas cortesias e sinais de afeição do seu marido em lugar de uma agressividade carnal, do mesmo modo a polidez se encontra nas coisas triviais e no lugar comum. Considere, por exemplo, a amabilidade de Boaz, que disse aos seus ceifeiros para deixarem propositalmente alguns maços de grão para que Rute os encontrasse. Uma consideração desse tipo não se aprende em um livro de etiqueta, porque a verdadeira cortesia vai além das normas de boas maneiras estabelecidas. O verdadeiro cavalheiro faz mais do que o livro pede.

Outra regra da cortesia é a seguinte: “Que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos”. Isso é difícil. Mas vem da lei cristã o fato de que podemos enxergar as ações das pessoas, mas não podemos conhecer seus motivos. Sempre pensamos o melhor de nós mesmos, mas só pensamos o pior das outras pessoas, particularmente hoje, época em que a tendência é sermos rebeldes sem causa e destruir em vez de construir. Sempre há lugar para estimar os outros, mas só conseguimos suspeitar o pior dos nossos companheiros. Por isso podemos acreditar que eles são realmente melhores do que nós. Isso é o fundamento da afirmação atribuída a tantos: “Eu também poderia estar naquela terrível situação”.

O verdadeiro cavalheiro faz mais do que o livro pede.

Excerto do Livro “Filhos e Pais – Sabedores e orientação para os pais”, de Dom Fulton Sheen, editora Katechesis, dezembro/2015, páginas 57 a 59.  


MARIA SEMPRE!

Um comentário:

Unknown disse...

Exelente reflexão.
Ser cortez não nos custa nada, faz parte dos bons costumes aprendidos desde criança.