segunda-feira, 6 de junho de 2016

REFLEXÃO: A IGREJA E OS PECADORES

“Ó Deus, relembramos a vossa misericórdia
 no interior de vosso Santo Templo.” (Sl. 47,10)

Prof. Pedro Maria da Cruz

Resplandecente em sua beleza refulge a glória da única e verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo! Mas, me perguntareis, onde está esta beleza da qual te ufanas, se vejo Imorais, Pedófilos, Avarentos e Abortistas dizendo-se Católicos? Se vejo sacrilégios, apatia ante o santo sacrifício da missa, relativismo, hedonismo, e ignorância religiosa? Acaso tudo isso não existe qual fumaça negra, tomando todo o sagrado recinto, impregnando de fétido odor toda a dita glória que cantas, e impedindo a visão desta grandeza de que te gabas? Não será esta, a fumaça de Satanás, o sinal de um fogo devorador, que fará ruir todo o templo?

“Ó Deus, relembramos a vossa misericórdia no interior de vosso Santo Templo.” (Sl. 47,10). Acaso não te lembras das promessas de Nosso Senhor com referência à sua Igreja? Cuidado! Tal dúvida pode ser o sinal de um coração que se afastou do mistério; de alguém, que não segue o salutar exemplo da Virgem Maria, que “... guardava todas as coisas em seu coração” (Lucas 2,51). O homem que se afasta da oração profunda e verdadeira, tende a ouvir sempre mais as mediocridades advindas da ignorância de uma razão, que julgou desnecessária a iluminação divina. “Filho, que o pensamento de Deus ocupe o teu espírito, e os preceitos do altíssimo sejam a tua conversa” (Eclo. 9,23). Digamos sempre com o salmista: “... jamais esquecerei vossas palavras.” (Sal.118,16) 

"Deixai crescer juntos, o joio e o trigo" Mt 13,30 
Disse acertadamente Nosso Senhor, que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra sua Igreja! Sim, o disse; porém, não sejamos simplórios. Nunca poderemos julgar um versículo bíblico, fora de toda uma lógica que interliga qual rede, o discurso do Cristo; caso contrário, pecaremos contra a Hermenêutica, que nos ensina o legítimo método de interpretação dos textos Sagrados; assim, devemos ler a parte sem desprezar o todo Revelado. Deste modo, recordemos à significativa “Parábola do Joio”, onde o divino Mestre nos revela que faz parte da misteriosa vontade do Pai Celestial, deixar crescerem juntos em seu Reino, os bons e os maus; de modo, que somente chegando o final dos tempos é que serão separados uns dos outros pela Justiça do Altíssimo. “Não podemos separar ‘o Reino’, da ‘Igreja’. Com certeza que esta (a Igreja) não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus (Escatológico), do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja, todavia está unida indissoluvelmente a ambos.”1 Assim, "o filho do homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino (a Igreja e o mundo) todos os escândalos e todos os que fazem o mal...” (Mateus 13,41). “Quão saborosas são para mim vossas palavras! São mais doces que o mel à minha boca”. (Sal. 118, 103); “Vossa palavra é minha esperança.” (Sal.118, 114) 

Sim! A Palavra de Deus é uma verdadeira luz que esclarece todas as trevas de nossa vã ignorância. Na única Igreja de Cristo, Católica, Apostólica, e mil vezes Romana, crescerá junto ao Trigo, o Joio; junto ao santo, o pecador; junto ao bom, o mal; pois aprouve a Deus, no mistério de sua divina vontade, o permitir. “Quão impenetráveis são os seus juízos, e inexploráveis os teus caminhos! Quem pode compreender o caminho do Senhor? Quem jamais foi seu conselheiro?” (Rom.11,34) 

Deste modo, posso cantar a beleza da casa de Deus, casa esta cujos inimigos nunca vencerão completamente. No fim, aqueles que ousaram colocar-se contra os mandamentos do Senhor, seguindo seus instintos egoístas, perdendo-se em falsas doutrinas, receberão a paga devida por suas transgressões; e já nesta vida, com a escuridão de suas vidas e seus princípios, evidenciarão com mais beleza, contra sua vontade, obviamente, a luz que brilha radiante da Única Igreja de Cristo, “coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tm.3,15), pois “a luz resplandece nas trevas...” (João 1,5).



Diante da majestade do sol, o pequeno lume de uma vela mais parece um nada; porém, na escuridão da noite, mesmo aquela acanhada chama é resplandecente em sua beleza; parece seduzir todos os olhares com o bailar gracioso de seu singelo corpo nu incandescente, conduzido pelo vento, que “sopra onde quer” (João 3,8).Quem é Santo Tomás de Aquino ante a glória da Santíssima Virgem Maria, mãe de Deus Imaculada? Entretanto mesmo aquele, em meio aos mais pérfidos pecadores iníquos, é qual fogueira que assombra o mundo; com efeito, “Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua, e outra a claridade das estrelas; e ainda uma estrela difere da outra na claridade.” (1 Cor. 15,41) 

Assim, até mesmo a noite torna-se para Deus qual dia luminoso, e a maldade de uns, campo aberto para a manifestação da glória divina. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”, diz-nos o grande São Paulo de Tarso. Realmente, a desgraça do ímpio, contribui para manifestar a justiça do Pai Celestial (Pr.16,4). Deste modo, o fogo do inferno, de forma alguma perturbará os eleitos, mas ao contrário, os aquecerá, e será causa de júbilo, por serem suas chamas semelhantes a arautos da inefável justiça do Altíssimo.

"O Juízo Final" na Capela Arena (Cappella degli Scrovegni), em Pádua
Vede irmãos, como é evidente, e coerente com a palavra de Deus, a coexistência do Santo e do pecador inveterado, na única e verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. É por esquecermos das palavras do Redentor, que não entendemos, dentro do possível, esta
realidade misteriosa; porém “quando a sabedoria penetrar em nossos corações, e o saber deleitar nossa alma, a reflexão velará sobre nós, e a razão vai nos amparar...” (Pr 2,10-11) 
Alegremo-nos! No final, “ O vencedor herdará tudo...” (AP 21, 7). Que imagem estupenda: O guerreiro em seu cavalo branco! É assim que o último escrito de São João nos apresenta o Verbo de Deus, o Cristo; “Tem olhos flamejantes. Há em sua cabeça muitos diademas (...). Está vestido com um manto tinto de sangue (...) Seguiam-no em cavalos brancos, os exércitos celestes vestidos de linho fino e de uma brancura imaculada. De sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir (...) Ele traz escrito no manto e na coxa: Rei dos reis, Senhor dos senhores.” (cf. Ap 19,11-21) Decididamente, irmãos, o Cristo que nos é mostrado pelo Apocalipse, é austero e viril, corajoso e voraz, aquele que vai” pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus dominador.” (Ap 19,15) 

Observai queridos, que não é por acaso que a Única Igreja de Cristo, enquanto caminha neste mundo rumo aos Céus é chamada de "Militante”,devendo “combater pela Fé, confiada de uma vez por todas aos Santos.” (Judas 1,3) .Verdadeiramente vivemos num contexto belicoso e revolto, pois o demônio desceu contra nós cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta. (Ap 12,12), além do que as próprias paixões combatem em nossos membros (Tiago 4,1), e “... há outra lei que luta contra a lei do espírito...” (Rom. 7,23). Bem disse o glorioso Apóstolo São Paulo: “Não é contra homens de carne e sangue que devemos lutar, mas contra (...) forças espirituais do mal (...) tomai (...) a espada do espírito, isto é a Palavra de Deus.” (cf. Ef 6,12-17) Em outra parte também nos dissera: "Todos os que querem viver piedosamente em Jesus Cristo, sofrerão perseguição” (IITim,3,12).

Portanto, não deveria ser estranho para nós, a existência de conflitos e combates dentro da Igreja Católica, uma vez que, inclusive, “... certos homens ímpios se introduziram furtivamente entre nós (...) eles transformam em dissolução a Graça de Deus e negam a Jesus Cristo...” (Judas 1,4). Finalmente, lembremo-nos o que disse Nosso divino Mestre: “Não vim trazer paz à terra mas sim separação”, e mais acima no mesmo texto,” Eu vim trazer fogo à terra e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?” (Lucas 12,49-53); ainda noutra parte também dissera: “Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão (...) e os Inimigos do homem serão os de sua própria casa.” (cf. Mt 10,34-39).

Sim! Estamos numa guerra! Não sejamos como aquele louco, que cego e surdo, saiu em meio a um tiroteio virulento para passear... Já imaginais o que lhe aconteceu!!! Realmente, “sem a Ciência, nem mesmo o zelo é bom: quem precipita seus passos, desvia-se” (Pr19, 2). Se é verdade inexorável a vitória final da Santa Igreja Católica, como se conclui das irrevogáveis palavras de Cristo em Mateus 13,41-43, também é verdade o que está escrito no livro das revelações a respeito da Fera: “Foi-lhe dado fazer guerra aos Santos, e vencê-los” (Ap 13,7). Irmãos, a guerra já está ganha pela Fé!!! Mas as batalhas ainda não... Cair em campo ou não, depende de nossa correspondência à graça de Deus, e confiança no auxílio da Virgem Maria “... terrível como um exército...” Porém, sejamos sábios, pois uma aparente derrota pode ser, na verdade, uma astuta estratégia do Altíssimo! Não foi o que ocorreu com a gloriosa Mártir de França, Santa Joana D’arc, morta na fogueira, por culpa de seus inimigos? Bem dizia Tertuliano em sua obra “Apologético”: “Sangue de Mártires, semente de novos Cristãos.” 

 “Ele esteve comigo na hora do combate,
é natural que esteja também no momento da glória”
Santa Joana D'arc
A guerra já começou! Uns lutam, porém desistem ou são vencidos; outros, infelizmente, passam para o lado inimigo, quiçá seduzidos pela falácia dos pecadores; ainda há os que, por incrível que seja, preferem acreditar que nada está acontecendo, ou até resistem, mas preferem não atacar em legítima defesa. No entanto, graças a Deus, e confiantes na proteção indubitável de Nossa Senhora, há aqueles que lutam até a morte contra o inimigo do Senhor, combatendo o bom combate (I Tim. 6,11-12), revestidos da armadura de Deus (Ef. 6,10). Oh, Pai! Pela dolorosa paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela intercessão da Virgem Maria, Rainha do Céu e da terra, e de todos os Anjos e Santos, eu te suplico, prostrado a seus pés, que sejamos do número destes, que julgam uma honra darem a vida por vossa causa. Isso a exemplo dos grandes Mártires do início do cristianismo, e de todos os tempos, que diante do veredicto mortal dos seus algozes respondiam jubilosos: Deo gratias!!! Gostaria de continuar a desenvolver o assunto, no entanto para não parecer prolixo, termino por aqui. Este é um Mistério que cabe a nós, soldados de Cristo! O mistério da Iniqüidade. Alegrar-me-ei, no entanto, se tivermos compreendido um pouco mais, sobre a misteriosa vontade do Pai celestial de permitir a coexistência dos Santos, junto aos pecadores inveterados, até a consumação dos tempos. 


1João Paulo II, Cart.Enc.Redemptoris missio, n.18.
“O Reino é de tal modo inseparável de Cristo que, em certo sentido, identifica-se com Ele.” diz-nos a Tradição (Orígenes, Tertuliano...). Ora, Cristo é a cabeça da Igreja, que é seu corpo místico; logo, o Reino e a Igreja confundem-se também, num misterioso amplexo, onde um interpenetra o outro, fundindo-se em suas “substâncias”.



MARIA SEMPRE!


Um comentário:

Vaticano News disse...

Nos deparamos com muitos cristãos católicos que optam por seguir a fundo a vivência radical do evangelho. Cristo que nos proporcionou esta oportunidade de assim vivê-lo, pois se encarnou para que pudéssemos receber a vida e a graça do seu lado aberto misericordioso, que jorrou sangue e água. Sinais de nossa Salvação. Desde então, o pecado deixou de tomar conta de nós, mas, por sermos tendenciosos à ele, acabamos por sempre "pender" ao pecado. Mas, Cristo nos mostra seu lado misericordioso em todos os seus milagres, como no do paralítico, onde antes de curá-lo fisicamente, desejou que seu coração se convertesse. É isso que Ele deseja de nós, uma aversão ao pecado, para que possamos nos aprofundar na graça abundante do seu lado aberto. Primeiro nossa conversão do coração, para que assim Ele possa nos dar a cura física. Deus abençoe! Ótima postagem!!