terça-feira, 27 de março de 2018

QUE A CONSIDERAÇÃO DE JESUS CRUCIFICADO ANIMA A SOFRER E DÁ CONSTÂNCIA E CORAGEM


Filho meu amado, acharás decerto, como achei aos pés da cruz, o sustento nas tuas aflições!
O Servo – Treme a terra, Senhora, ante a morte de um justo! Morto Jesus, eclipsa-se o sol, fendem os rochedos, a natureza inteira desconcerta-se. Outro é o objeto, porém, que me ocupa mais do que todas essas maravilhas. Este objeto sois Vós, ó Maria, que permaneceste de pé, junto da cruz, a cada momento a renovar o sacrifício vosso ao Pai celestial, o sacrifício do vosso querido filho Jesus. 

Como pudestes sustentar, ó mãe, tal espetáculo? De onde veio essa coragem vossa? Ensinai, suplico, a esta alma que sofre tanto diante da mínima dificuldade que se lhe apresente. 

Maria – Ante os meus olhos, filho, eu tinha poderoso exemplo. Era Jesus crucificado, sofrendo com submissão todas as vontades de seu Pai. E só palavras de paz proferiram os seus lábios. E pedia ao Pai, pelos merecimentos do seu sangue, a salvação dos seus algozes. 

Os meus olhos estavam presos no divino modelo. Eu penetrava no coração de Jesus. Procurava tirar o molde dos sentimentos desse coração. 

Ao vê-lo tão generosamente sacrificar a vida pelos homens, entre suplícios horrorosos, foi que eu aprendi a fazer de minha parte a Deus o maior de todos os sacrifícios deste mundo, que era o sacrifício do próprio Jesus.
Filho meu amado, acharás decerto, como achei aos pés da cruz, o sustento nas tuas aflições, a força nas tuas fraquezas, a resignação nos sacrifícios que Deus te peça. Quando em aflição te achares, não procures consolo aos pés dos homens, porque bem depressa compreenderias como é breve e efêmera a compaixão dos homens. Depois de te queixares, acabam de se entediar com o relato das tuas queixas, senão mesmo da tua presença. Se a ti mesmo te reduzes e às tuas reflexões te abandonas, verás as penas aumentarem. Os teus esforços no sarar com os próprios recursos as tuas chagas ainda virão agravá-las mais. 

Que fazer, portanto, filho? É te armares nas horas de combate da imagem de Jesus Crucificado. 

Seja o teu crucifixo o primeiro recurso ao tempo das tribulações. 

Por muito que esteja enfraquecida a tua coragem, nele encontrarás a força necessária. Por muita amargura que te encha o coração, serás consolado. 

Sofres por parte dos homens? A cruz há de mostrar-te o maior dos Pais, dos Mestres, dos Justos, dos Amigos – ultrajado, abandonado, perseguido. 

Da parte do Inferno é que sofres? 

Vê na Cruz o bom Jesus – alvo de todas as fúrias infernais. 

Pensarás que te trate rigorosamente o Céu? Considera um momento todo o rigor que o Pai Celeste exerceu sobre o Filho bem-amado!
Castiga-te Deus os pecados com algumas penas temporais? Que são tais penas em confronto com as que sofreu Jesus por te livrar das eternas? Dirás que foste resgatado, considerando o teu crucifixo, pelos excessivos sofrimentos de um Deus. 

Ai! Filho, justo é que a alma resgatada assim guarde alguma semelhança com Aquele que a resgatou. 

Filho meu, tão pouco pareces com o teu crucifixo, pelas virtudes que ele próprio te dirá, que muito consolador será para ti se lhe pareceres ao menos um pouco pelas dores. A este recorre, pois, nas tuas dores, tristezas e tentações. Beija-o mesmo com amor, rega-o com lágrimas, aperta-o estreitamente de encontro ao coração. Imagina que te achas no Calvário e te é permitido abraçar os pés do teu Deus sofrendo e morrendo por ti. Fala-lhe das tuas penas unindo-as às penas dele, e pede-lhe o alívio para elas. Conjura esse misericordioso Salvador a fazer-te ouvir de sua voz alguma palavra de consolação que te ajude a suportar o rigor das tuas penas. Dize-lhe que o não abandonarás enquanto não te restituir a tranquilidade e a paz à alma, enquanto a não haja fortalecido pela unção da sua graça. Se fiel te mostrares a esse santo exercício, as tuas lágrimas serão enxutas, a paz voltará ao teu coração, a coragem sucederá à fraqueza, não mais amarga te será a cruz; pois o seu amargor se converterá em doçura. Ou, se ainda tens de sofrer, ao menos sofrerás com os sentimentos de paciência, resignação e amor, os quais faziam o Apóstolo dizer: “ Alegro-me nos opróbrios, misérias, perseguições, desgostos extremos que sofro por Jesus Cristo” (2Cor 12, 10). 


[Religioso Anônimo. Imitação de Maria. Cultor de livros, 2014. Pg. 271-274]

MARIA SEMPRE!

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