“Se não fizermos penitência cairemos nas mãos do Senhor.”[1]
“Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”[2]
“Convertei-vos e fazei penitência.”[3]
Por Prof. Pedro M. da Cruz.
Academias lotadas.
Crianças, jovens, adultos e anciãos exercitam-se por praças e avenidas. Uns correm, outros andam... Dietas, cirurgias, e massagens compõem o resto do cenário.
Como vemos, o corpo está bem servido.
Mas, e a alma?
Dada a superioridade desta em relação ao corpo, entende-se que, se alguns dão tanto pela vida material, muito mais devem estar fazendo pela Vida Espiritual. Afinal, é de justiça tributar a cada um a parte que lhe cabe.
Assim, ao físico a atenção que lhe é devida![4] Sem mais nem menos...
E, de igual maneira, à alma, o cuidado que lhe é de direito.
Pensando nesta necessidade cristã, transcrevemos abaixo interessante reflexão do Pe. Alexandrino Monteiro. Baseado nos “Exercícios Espirituais” de Santo Inácio de Loyola, o autor nos apresenta uma profunda reflexão sobre a penitência.
Que nossos esforços pela santidade sejam sempre auxiliados pela maternal intercessão da Santíssima Virgem Maria. Amém.
DA PENITÊNCIA
A penitência permanecerá sempre obrigatória para quem naufragou na inocência. |
A penitência interior é a principal, e, por assim dizer, a alma da penitência, visto o pecado residir propriamente na vontade. Sem penitência interior, a exterior de nada vale. A penitência exterior é o fruto da interior, porque é o castigo dos pecados cometidos.
Segue-se daqui que a penitência exterior é tão necessária, que, sem ela, se pode duvidar da interior, da qual a exterior é parte integrante e natural complemento. Pelos frutos se conhece a árvore. Assim como pelos frutos se conhece a boa qualidade da árvore, assim pelos frutos da penitência exterior se conhece a boa qualidade da penitência interior, donde eles procedem. Uma alma revela-se verdadeiramente penitente pelas lágrimas, suspiros, golpes no peito, jejuns e disciplinas. Pelo contrários, um pecador que não manifesta em algum ato a sua compunção, dá, por isso mesmo, um indício de impenitência interior.
Desta doutrina se deduz que a penitência exterior é uma virtude universal, de todas as pessoas e de todos os tempos, não só dos monges e anacoretas, mas também das rainhas e dos reis, dos servos e dos senhores: não só da idade média, mas também da moderna; porque em todas as classes e em todas as idades há pecadores.
A penitência nunca passará de moda. As leis, os costumes, as praxes sociais mudam-se com os tempos: a penitência permanecerá sempre obrigatória para quem naufragou na inocência. O eco da pregação do Batista : - Fazei penitência! - continuará a ressoas desde as margens do Jordão até aos mais longínquos âmbitos da terra, a até a consumação dos séculos.”[5]
“Penitência exterior. – O homem não peca só com a alma, mas também com o corpo: os dois são cúmplices no ato do pecado. É justo, por conseguinte, que não só se doa a alma, mas também o corpo; e que o corpo e a alma conspirem, a uma, no exercício da penitência.
Motivos da penitência externa. – Os motivos que nos induzem a esta penitência, podem ser quatro:
1. Conserva melhor a sensibilidade na submissão ao espírito e no cumprimento de tudo o que nos impõem os deveres do nosso estado. Se damos ao corpo tudo o que ele reclama, se afastamos dele tudo o que mortifica, tornamo-lo indolente, inapto para o trabalho, revoltoso e indomável. Mas, à força de penitência, o corpo se torna dócil, submisso, não se revolta tão facilmente contra o espírito e se torna mais apto para a virtude.
2. Ajuda-nos a obter certas graças: como luzes na meditação, solução de certas dificuldades, socorro nas tentações, diminuição nos ataques da impureza, fervor na oração e união com Deus. Para todas estas graças é excelente a prática da penitência. S. Inácio derramou muitas lágrimas e fez muitos jejuns para obter a luz celeste na redação de suas Regras e Constituições.S. Tomás de Aquino se dispôs com sangrentas disciplinas para a interpretação das passagens difíceis da Sagrada Escritura.
No Prefácio da Missa no tempo quaresmal diz-se: ‘Com o jejum corporal reprimis os vícios, elevais a mente, concedeis virtudes e prêmios.’ É por isso que no tempo da Quaresma nos sentimos mais inclinados à virtude, santos e consoladores pensamentos nos iluminam a mente e nos movem o coração...
Em Fátima, Nossa Senhora nos exortou a fazermos penitência incessantemente. |
4. O exemplo dos Santos nos deve também mover à penitência, e , em primeiro lugar, o de Nosso Senhor Jesus Cristo, que passou quarenta dias de rigoroso jejum. E dos Santos, qual é o que não fez penitência? Todos se deram a ela com ardor, e só a obediência e a consideração de um bem maior lhes punha limites a suas rigorosas austeridades. O espírito de penitência é, pois, próprio de todo o cristão.”[6]
(O negrito é nosso)
MARIA SEMPRE!
Referência Bibliográfica:
MONTEIRO, Pe. Alexandrino. Exercícios de Santo Inácio de Loiola. II Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1959. 422 pg.
[1] Conf. Eclo. 2,22
[2] Conf. Lc. 13,5
[3] Conf. Mt. 3,2
[4] Claro, uma é a atenção devida na penitência, outra na ordinariedade da vida; porém, em ambos os casos o corpo tem sua parcela de cuidado. (Comentário do autor)
[5] Conf. Pg. 346-347. Obra citada.
[6] Conf. pag. 349-350. Obra citada.
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