quinta-feira, 5 de novembro de 2015

GNOSTICISMO: DESPREZO PELA CRUZ


A gnose tem ludibriado a muitos...

“(...) o ‘gnosticismo’ é um fenômeno típico da decadência do paganismo antigo, sob a influência da espiritualidade judaica, que já se fazia sentir no Ocidente, de mistura com elementos esotéricos da região iraniana.”

“(...) desvaloriza a redenção de Cristo, pois nega a sua humanidade, o que provocou a reação do Evangelista João: O Verbo se fez carne.”


Por editores do Blog

Segue abaixo uma apresentação do gnosticismo feita pelo Pe. Waldomiro O. Piazza, SJ, em seu livro “Religiões da Humanidade”. Esperamos que o texto sirva como fonte de pesquisa para os amigos do blog “Escritos Católicos”, assim como, de referência para os membros dos grupos de estudos da SSVM que, auxiliados por outros autores, poderão chegar a uma síntese esclarecedora. 

O GNOSTICISMO

“O termo ‘gnose’ (conhecimento) é usual na literatura cristã dos primeiros séculos, tanto canônica como apócrifa.

Designa dois movimentos religiosos, de tendências contrárias. A ‘gnose autêntica’ é um ‘conhecimento aprofundado dos mistérios divinos’, revelados por Deus, e contemplados com as luzes do Espírito Santo: logo, um ‘conhecimento carismático’.

A chamada ‘gnose herética’ é também um ‘conhecimento aprofundado dos mistérios divinos’ mas sob as luzes da reflexão filosófica: logo, um conhecimento natural, e, não raro, puramente fantasioso...

Dá-se o nome genérico de ‘gnosticismo’ ao movimento pseudo-cristão que procurou explicar os mistérios divinos segundo estes princípios naturais, dispensando os dados da Revelação, e ensinando um dualismo radical entre matéria e espírito, que valia por uma negação da Redenção cristã. 

A gnose apresenta variadas facetas
Costuma-se, hoje, distinguir várias modalidades de ‘gnose’, a saber:

_ Gnose cristã: É muito confusa, porque varia segundo a diversidade de autores, desde Simão, o Mago, a Valentiniano. No entanto, pode-se dizer que o seu elemento distintivo é um duplo dualismo: 


- dualismo metafísico ou cósmico: princípio do bem identificado com o espírito, e principio do mal identificado com a matéria (hyle). 

- dualismo antropológico: absoluta distinção entre alma e corpo...

Este dualismo, aplicado ao cristianismo, desvaloriza a redenção de Cristo, pois nega a sua humanidade (docetismo), o que provocou a reação do Evangelista João: O Verbo se fez carne (sarx).

Parece que a origem desta ‘gnose herética’ está no dualismo órfico, por sua vez devedor do dualismo iraniano, e que influenciou o próprio dualismo de Platão (alma e corpo). H. CH. Puech assim explica a situação psicológica do gnóstico: ‘Sente-se na terra oprimido de todos os lados pelo peso tirânico do destino (a ‘moira’ dos gregos), sujeito aos limites do tempo, do corpo e da matéria, abandonado às suas tentações e humilhações... A necessidade sentimental de redenção torna-se assim uma exigência metafísica, que deve ser atendida, ao menos ideologicamente, a fim de que o homem tome consciência de seu destino na terra... ’.

Desta forma, na elaboração do gnosticismo a salvação é menos um ato moral (uma opção), do que um conhecimento místico da própria situação neste mundo (cura psicanalítica?).

Os próprios ritos e mistérios cristãos são interpretados de forma fantasiosa e exaltada, como se verifica no maniqueísmo.

Houve tempo em que o cristianismo foi tido como um produto mais equilibrado do gnosticismo (Bultmann, um protestante, tinha o 4ª Evangelho na conta de livro gnóstico). Hoje, com mais razão, pensa-se que o ‘gnosticismo’ é um fenômeno típico da decadência do paganismo antigo, sob a influência da espiritualidade judaica, que já se fazia sentir no Ocidente, de mistura com elementos esotéricos da região iraniana (dualismo persa). Assim afirma R.M. Grant, no seu livro: ‘A gnose e as origens cristãs’.

Gnose: ligada ao paganismo
- Gnose pagã: segundo A. J. Festugière, a gnose puramente pagã é de origem egípcia, e se prende ao hermetismo oriental (grupos fechados que se dedicavam a especulações de caráter cosmológico). A chamada ‘revelação’ de Hermes Trismegisto supunha um deus cósmico, impessoal, insondável, mas cheio de misteriosos desígnios, que os ‘iniciados’ procuravam descobrir através de cálculos e combinações fantasiosas, a que não estavam alheias a astrologia da Mesopotâmia e a cabala dos judeus.

- Gnose dos judeus: Enquanto a gnose pagã tem um caráter nitidamente cósmico, a judaica é fortemente moralista, fiel às suas origens bíblicas. É monoteísta, mas cultiva um conhecimento fantasioso de Deus, principalmente quanto ao mistério da ‘glória’ de Javé (Kadhoch). Nesta concepção verdadeiramente gnóstica, toda a criação está inscrita no ‘ trono de Javé’, de modo que basta conhecer esta espécie de ‘decreto da criação’ para saber tudo o que vai acontecer. Nesta ‘gnose’, os números e as esferas celestes desempenham importante papel, permitindo as mais estranhas especulações (cf. A esfinge, de Pierre Weil). 

- Cristo na gnose: A perspectiva cósmica ou metafísica de uma queda original e de uma redenção da mesma natureza, é doutrina básica de toda a ‘gnose’. Cristo, dentro desta concepção gnóstica, representa um princípio cósmico, um ‘eon’ luminoso, que desce do ‘pleroma divino’ para dar a conhecer às almas espirituais a sua origem divina e conduzi-las aos espaços siderais. Para isso assume um corpo aparente (docetismo), ou um corpo real, mas só por um momento (Jesus Histórico?). A redenção, portanto, assume um caráter formal, que nada tem a ver com a morte da Cruz (Bultmann?). Nesta ‘gnose’ nega-se a Revelação histórica e a salvação dissolve-se em um misticismo monista, que lembra a salvação na doutrina budista... 

A gnose se opõe a toda 
doutrina cristã da redenção.
Conclusão: A. M. di Nola, em seu artigo ‘Gnosi e Gnosticismo’, na Enciclopédia delle Religioni (T. III, col. 473), chega à seguinte conclusão:

‘A noção de ‘gnose’, independentemente de sua origem histórica e de suas várias manifestações (gnose cristã, gnose pagã), designa um verdadeiro e próprio módulo religioso sempre que se insere em uma forma de experiência religiosa, na qual a conotação de ‘conhecimento’ toma um sentido próprio, ou seja, uma função salvífica que só nele se justifica. 

Isto é: ao lado de religiões de tipo ético ou profético, nas quais o comportamento humano, que leva à salvação ou dá segurança neste mundo, se funda na observância de atos rituais e sacrificais, ou na adesão a uma série de mandamentos, que formam um plano divino (cf. hebraísmo, islamismo, nas suas formas mais ortodoxas), existem religiões que propõem uma série de verdades, de iluminações ou de revelações, as quais, sendo conhecidas pelos seus destinatários, determinam neles um processo de salvação pelo simples fato de serem conhecidas, pois comportam uma total transformação do fiel. ’” 


Fonte: PIAZZA, Waldomiro. Religiões da Humanidade. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1991; p. 230-232. (O negrito é nosso)


MARIA SEMPRE!


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