"...para que o tempo não nos perturbe, ele, esse terrível arauto de compromissos e responsabilidades." |
* Oferecemos a seguir interessante artigo lançado por um membro da SSVM no Informativo Mensal Salvatoriano (Junho de 2012). Esperamos que todos gostem da reflexão. Maria Sempre!
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Vivemos no tempo das fugacidades. Tudo é por demais passageiro, descartável. As coisas se esvaem rapidamente como fumaça pelo ar. Mas, onde há fumaça há fogo; ou, pelo menos possibilidade de incêndio, o que nos faz recordar algumas palavras do Cristo que dissera: “Eu vim lançar fogo sobre a Terra, e como gostaria que ele já estivesse aceso!” (Luc. 12,49)
Detalhe Catedral de Nottinghan |
Lembremo-nos das antigas catedrais góticas, até hoje tão sólidas e robustas. Dão-nos a suave impressão de eternidade. Parecem impossíveis de ser destruídas. O homem que ousasse modificá-las seria taxado imediatamente como louco e insensato. Ora, o mesmo não se diz daqueles que reformam nossas modernas catedrais. Alias cada novo sacerdote ao deixar sua marca nos edifícios de culto da atualidade é saudado por sua eficiência e criatividade. Sim, para hoje “competente” é quem transforma e não mais aquele que mantém.
É o mundo da técnica. Tudo deve ser renovado a cada dia. O celular de ontem já não nos serve mais. E aquela televisão?Muito pequena. Talvez aquele computador? De forma alguma, pois todos têm comprado outro modelo. Já pensou em Strauss-Kahn? Não, não, prefiro Nicolas Sarkozy! Por fim – quem diria!- escolhem François Hollande. Socialista? Ah, não importa o partido; para que servem as ideologias? Só queremos alguém diferente; como diferente é o celular, a televisão, enfim as tecnologias de hoje que substituíram as fumarentas de ontem. Elas já não servem mais à nossa ânsia suprema por novidades...
Queremos tudo novo! Mesmo que o novo seja sombrio, como o “Amanhecer Dourado” de extrema-direita na Grécia crepuscular. Não mais nos assusta seu símbolo tão próximo à suástica nazista. Mera coincidência... Todavia, alguém poderia citar Vladimir Putin de volta ao Kremlin para o terceiro mandato. Entretanto, esse exemplo só valida nossa exposição, uma vez que “manter-se”, não esvair-se, “permanecer” exige a “fraude” e o “uso indevido da força”. Precisamos citar nossa querida Venezuela? Ou, a mídia brasileira?
"...cujos corredores levam ao altar dos sacrifícios..." |
Jesus, Igreja, casamento... Ai! Essas coisas são muito estáticas, rígidas, e, além do mais, exigentes. A nostalgia pelo eterno já está devidamente satisfeita pelo tombamento histórico. Mas, tudo bem! Se não podemos desaparecer com o Cristo, por exemplo, que pelo menos Ele seja agradável: vamos retirá-lo da Cruz e apresentá-lo, tão somente, ressuscitado, vitorioso, bem sucedido; da forma como nós queremos ser! Afinal, após dura semana de trabalho ninguém merece diante de si a imagem de um derrotado, pobre, crucificado e judeu. Não! Caso contrário, preferimos o Shopping...
Onze milhões de pessoas frequentam shopping por dia [1] |
Ah, o Shopping! Lá sim, ao contrário da Igreja, tudo está aggiornado, atualizado, à altura do homem moderno. Verdade! Pense bem: no Shopping não colocam relógios nem janelas em sua descente “via sacra” para que o tempo não nos perturbe, ele, esse terrível arauto de compromissos e responsabilidades. Seu piso é liso, sem atritos, para que andemos lentamente; assim há mais chance de percebermos as vitrines, essas, graças a Deus, mais agradáveis que cristos crucificados. Espelhos? Têm aos montes! Para que vejamos o quanto estamos ultrapassados, necessitados e fora do padrão. Já observaram como seus corredores mais parecem labirintos? É o golpe de misericórdia! Quem ao sair de um shopping nunca teve a grata impressão de que deixou um daqueles corredores sem visitação, mesmo havendo passado mil vezes por cada um deles? Entretanto, nós os preferimos à Nave Central de nossas Igrejas, cujos corredores levam ao altar dos sacrifícios...
Antes de encerrarmos, dada a limitação do espaço, vale apena perguntar: haveria algo que “permanece” em toda essa febre pelo diferente? Talvez ali, escondido por debaixo do frenesi moderno, como brasa, disfarçada pelas cinzas, acusada pela fumaça, esteja a busca do homem por felicidade. Entre erros e acertos aprenderá com o passado a grandeza do Imutável, e, com o presente, o valor das coisas supérfluas; importantes, se bem que perecíveis. Sim, dar o valor devido às coisas que passam, sem olvidar as que não passam... Como fez Maria, Nossa Mãe, nas bodas de Caná.
[1] http://vitrinedefranquias.com.br/2012/08/10/shoppings-brasileiros-recebem-11-milhoes-de-pessoas-por-dia/
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MARIA SEMPRE!
Fonte:http://www.salvatorianos.org.br/wp-content/uploads/2012/06/O-Desafio-n%C2%BA-227-junho-de-2012-l-PDF-img.pdf
Um comentário:
Bom, muito bom.
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