Por Prof. Pedro M. da Cruz
“As mesmas misérias levam alguns para o céu, e outros para o inferno.”
“No sofrimento Deus se torna devedor ao homem.”
“É preciso sofrer e todos têm de sofrer”
“Antes pecar do que sofrer.” Eis o lema de muitos jovens, escravos do egoísmo. Submetidos a instintos corrompidos, amigos do Pecado Original, vivem ao sabor de impulsos desordenados, desejos mesquinhos, distantes de toda grandeza a que foram chamados. Em contrapartida, um jovem discípulo de São João Bosco clamava heroicamente: “Quero fazer uma guerra impiedosa ao pecado mortal.”, “Antes morrer do que pecar.” Quanto contraste! Falamos de Domingos Sávio, o rapaz cujo único objetivo era agradar a Deus. Pio XII o reconheceu santo aos 12 de junho de 1954. E o menino nem havia chegado aos quinze anos de vida...
Peçamos, portanto, a Nossa Senhora, amor ao sofrimento. Cientes de que a dor não se esquiva dos seguidores de Cristo, que saibamos suporta-la com paciência e virilidade. E, se um dia cairmos sob o tremendo peso da Cruz, que possamos cerrar nossos ouvidos à crítica maldosa daqueles que nunca ousaram a incrível façanha de aventurar-se ao lado de Nosso Senhor.
Por que não tentar?
Façamos a experiência.
Deus estará conosco!
Ele é nossa salvação.
Auxílio na angústia, amparo na solidão.
Consolo na dor do julgamento hipócrita.
Força na luta contra os vícios e maus hábitos; estes, tantas vezes, cultivados em secreto...
Tenhamos confiança no Senhor! Deus jamais nos abandonará!
Para melhor compreendermos o importante papel do sofrimento na vida Cristã, sentemo-nos aos pés do grande Santo Afonso de Ligório, mestre da Vida Espiritual. Que suas palavras, pelo poder do Espírito Santo, possam fecundar em nossa alma um operoso entusiasmo pelas coisas de Deus.
[1] Frases atribuídas a São Domingos Sávio. Conf.: BOSCO, Terésio. Um sonho, uma vida. A fascinante história de Dom Bosco, o santo amigo dos jovens. 4 Edição. São Paulo: Editora Salesiana, 2001. 286 pgs.
Capitulo V
A alma que ama
a Jesus Cristo
ama o sofrimento
“‘A caridade é paciente’. A terra é um lugar de merecimentos, e por isso é também um lugar de sofrimentos. O céu é nossa pátria, lá Deus nos preparou o repouso numa eterna felicidade. Passamos pouco tempo neste mundo, mas neste tempo temos muitas dores a sofrer. ‘O homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias.’[1] É preciso sofrer e todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz. Quem carrega com paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se. As mesmas misérias, diz Santo Agostinho, levam alguns para o céu, e outros para o inferno.[2] Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo, na Igreja de Deus: quem se humilha nos sofrimentos e se submete à vontade de Deus é trigo destinado ao céu; quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno.[3]
No dia do julgamento de nossa salvação, nossa vida deverá ser igual à vida de Jesus Cristo, para merecermos o Paraíso: ‘Porque os que anteriormente ele conheceu esses também predestinou a serem conformes à imagem de seu filho.’[4]
O Verbo Eterno desceu à terra para nos ensinar, com seu exemplo, a carregar com paciência as cruzes que Deus nos manda: ‘Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos.’[5]Jesus Cristo quis sofrer para nos encorajar no sofrimento. Qual foi a vida de Jesus Cristo? Foi uma vida de humilhações e sofrimentos: ‘Desprezado, último dos homens, homem das dores!’[6] Sim, a vida de Jesus Cristo foi toda cheia de trabalhos e dores.
O amor no sofrimento
Como Deus tratou seu Filho predileto, do mesmo modo trata a todos aqueles que ele ama e recebe como filhos: ‘O senhor castiga os que ama e aflige todo aquele que recebe como filho.’[7] Santa Teresa diz que sentiu na sua alma como se Deus lhe falasse: ‘Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos!’ Por essa razão, quando ela se via nos sofrimentos, dizia que não os trocaria por todos os tesouros do mundo. Conta-se que depois de sua morte ela apareceu a uma de suas companheiras e lhe revelou que recebera um grande prêmio no céu. Tinha recebido pelos sofrimentos suportados em sua vida, de boa vontade e por amor a Deus. E se desejasse por algum motivo voltar à terra, seria unicamente para poder ainda sofrer mais alguma coisa por Deus.[8]
Quem ama a Deus nos sofrimentos recebe dupla recompensa no céu. São Vicente de Paulo afirmava que se deve considerar como grande desgraça nesta vida o não ter nada a sofrer; e acrescentava que uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda.[9] Quando São Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que Deus tivesse se esquecido dele.[10]
Escreve São João Crisóstomo: Quando o Senhor concede a alguém a graça de sofrer, faz-lhe um bem maior do que se lhe desse o poder de ressuscitar os mortos, isto porque o homem que faz milagres se torna devedor ao homem, mas no sofrimento Deus se torna devedor ao homem. Quem padece alguma coisa por Deus, se não tivesse outra graça senão a de poder sofrer por amor a Deus, já deveria considerar-se muito recompensado. Por isso, dizia ele, admirava mais a graça dada a São Paulo de ser preso por Jesus Cristo, do que ser arrebatado ao terceiro céu.[11]”
(O negrito é nosso)
Referência Bibliográfica:
DE LIGÓRIO, S. Afonso. A Prática do Amor a Jesus Cristo. Trad.: Pe. Gervásio Fábri dos Anjos, C.SS.R. São Paulo: Santuário. Pgs.56-58
[1] Jó 14,1
[2] Sto. Agostinho, Sermo 52. N.4.ML 39-1845
[3] Sto. Agostinho, De Civitate Dei, 1,1 c. 8,n. 2 – ML 41-21; Sermo 252, c. 5 – ML 38-1174, 1175
[4] Rm. 8,29
[5] I Pd. 2,21
[6] Is. 53,3
[7] Hb.12,6
[8] Sta. Teresa, Mercedes de Dios, c. XXXVI, Obras, II, 64,65; Conceptos del amor de Dios, c. 6, depois do começo, Obras, V, Burgos 1917; Obras, II, append. 57
[9] Abelly. Vie, Ed. 1881,1.3,c.22
[10] Bartolomeu de Pisa, De conformitate vitae. Mediolani 1513, f 28, col.2
[11] In Epist. Ad Philip., hom. 4,n.3:MG 62-208,209; In Epist. Ad Ephes., hom. 8, n. 1:MG 62-55, 56, 57; Ad pop. Antioch., hom. 16,n.3;MG 49-164,165.
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