Existem no Evangelho passagens que, de um modo todo particular, nos dizem algo de muito especial. É claro que todo o Evangelho é obra perfeita e belíssima, mas certos versículos tendem a sobrelevarem-se na nossa identidade espiritual. Desde muito tempo, um destes versículos é para mim o que se encontra no número 14 do capítulo 7 do Evangelho de Mateus. Jesus, ao falar dois caminhos – um que leva à vida e outro à morte – arremata dizendo do caminho que leva à vida: “poucos são os que o encontram”.
Lembro-me da primeira vez que me deparei com este versículo. Um misto de surpresa e conscientização tomou o meu coração. Minha vontade inicial era de, sem perder mais um segundo sequer, sair a anunciar a todos os homens que eles precisariam ser do número dos eleitos, e que estes eleitos seriam poucos, a minoria do mundo! É óbvio que Deus quer a salvação de todos (cf. I Tim 2,4), e, se poucos se salvam, só se pode imputar àqueles que não se salvam o peso de culpa por não terem querido a própria salvação, visto que Nosso Senhor não se agrada com a perdição de ninguém, nem precipita alguém à ela. Se Nosso Deus quer que todos se salvem, é porque pode levar todos à salvação, visto que Ele não pode querer algo que não pode fazer, nem fazer algo que não pode querer...
Mas somos livres. E a nossa liberdade, grandioso dom, é a ferramenta que usamos para decidirmos nosso caminho. Sei que é racionalmente desconfortável pensar que alguém não queira ser salvo, mas sei também que seria uma pobre presunção pensar que nosso limitadíssimo intelecto é capaz de entender toda a realidade presente, dada as conseqüências do pecado original e da nossa própria natureza. Assim, a condenação eterna existe, é uma verdade assim como é verdadeiro o fato de que muitos optam com maior ou menor consciência, mas nunca sem culpa, por herdá-la.
Porém, a palavra final não pertence à morte e à decepção, mais sim à vida e à esperança. Ao pensarmos que uma eternidade de glória está reservada àqueles esforçados do tempo presente, todas as dores e penas momentâneas não conseguem resistir. O que são 70 ou 80 anos em comparação com uma vida que não passa? Acho que os católicos pensam muito pouco no Céu. Oxalá se fossemos como uma Santa Teresa D´ávila, que ao badalar das horas do relógio exclamava: “Menos uma hora!”. Há muitas vezes um apego quase doentio pelos bens presentes. Sei que poderiam me objetar dizendo: ”mas os bens presentes não são ruins!”. Eu complementaria: sim, em si mesmos não são absolutamente! Porém, percebe-se que aqueles que melhor uso fazem deles são os que mais se dedicam a entrar para o Céu. Isto porque são livres, sabendo viver – nos dizeres de São Paulo – na riqueza e na carestia. Esforcemo-nos pois, irmãos, porque pela nossa salvação só podemos responder nós mesmos diante de Deus.
MARIA SEMPRE!
Um comentário:
" Nosso Senhor não se agrada com a perdição de ninguém, nem precipita alguém à ela. Se Nosso Deus quer que todos se salvem, é porque pode levar todos à salvação, visto que Ele não pode querer algo que não pode fazer, nem fazer algo que não pode querer..."
Muito bom o texto e a reflexão!
Pax Domini!
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